Wu-Wei, os nossos 3 Cérebros e a “Great Resignation” e o Trabalho (Parte 3)

Wu-Wei, os nossos 3 Cérebros e a “Great Resignation” e o Trabalho (Parte 3)

Wu-Wei, os nossos 3 Cérebros e a “Great Resignation” e o Trabalho (Parte 3)

567 319 Hugo Gonçalves

Quantas vezes descobri para onde deveria ir, simplesmente partindo para um outro lugar

Robert Fuller

Nas duas partes anteriores deste artigo, partilhei contigo os ponto-chave e os impactos da abordagem WU-WEI no teu trabalho e a nível organizacional, e de que forma podemos, como Pessoas, ter acesso às competências, sabedoria e informação que nos podem ser dadas pelos nossos 3 sistemas nervosos – CÉREBRO, CORAÇÃO E INTESTINOS.

Agora vamos ver como é que isto poderá dar muito jeito a líderes, gestores e profissionais, para lidar com um fenómeno que vem aí, não como onda gigante de um tsunami, mas sim como uma corrente submarina algo silenciosa, mas muito forte, que mais cedo ou mais tarde vai criar bastantes ondulações no oceano organizacional e do trabalho.

// O CONTEXTO

Durante a pandemia existiu uma profunda consciência e aprendizagem. Após uma reflexão interna minha, o que observei nos projetos e através do feedback de clientes e parceiros aqui estão alguns insights:

O que os profissionais aprenderam sobre eles próprios:

  • Que a Auto-Liderança é uma competência chave para todos os profissionais (e obviamente ao nível da nossa vida mais pessoal) devido ao facto de se terem perdido muitas referências que o trabalho e a organização traziam à nossa vida – rotinas, horários, hábitos, proximidade, “alguém nos dizer o que era para fazer”;
  • Propósito – Que o trabalho não é a Vida,  e é necessário que este acomode a VIDA (o que quer que isso signifique para cada um de nós);
  • Que tendo em conta a perspetiva que a COVID e outros fenómenos relativos ao trabalho e organizações que já se manifestavam antes da pandemia, os profissionais não estão para aturar mais “desconsiderações”, faltas de respeito e de reconhecimento e valorização;
  • Quem achava que sabia tudo percebeu que este novo mundo líquido exige reaprender e quem sabe começar de novo; quem achava que não sabia nada reconheceu em si novas capacidades e talentos que não estavam expressos e novos palcos para os manifestar.

Os que os líderes aprenderam sobre eles próprios:

  • Que a Auto-Liderança é uma competência-chave para todos os profissionais… idem, idem, aspas, aspas; ?
  • Que se tornou importante e inevitável abraçar novos papéis e posturas relativamente aos seus pares, colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros, na definição de novas formas de trabalhar menos centralistas e mais fluídas e de forma deliberada ou sem grande alternativa delegar maior autonomia, confiança e responsabilidades nos colaboradores;
  • Que as competências emocionais, relacionais, de desapego e da liderança como sendo um “persona” de integração e potenciação do ecossistema da Organização – Pessoas, processos, informação, cultura, produtos e serviços já possuem um impacto superior que todas as abordagens e ferramentas de gestão e estratégia mais convencionais.

O que as organizações aprenderam sobre elas próprias:

  • A flexibilidade de processos, autonomia de decisão e de execução dão origem a melhores resultados, independentemente do contexto presencial, remoto ou hibrido;
  • Que mais do que os processos e ferramentas, o grande talento está em como criar a melhor integração entre as mesmas e dar-lhe o melhor uso;
  • Que cada vez mais o mais importante é trabalhar com foco duplo e ambíguo… olhar para o que se passa dentro e fora da organização e através dessa observação, feedback, insights deliberados ir traçando percursos – o mais importante são os princípios, não os processos;
  • Que os profissionais devem ser os cocriadores e consultores internos da organização e dos líderes;
  • Que o Otimismo Realista bate aos pontos e às vezes por K.O. a alta performance! ?

Em maio de 2021, Anthony Klotz, um professor associado da Universidade Texas anteviu a tendência e cenário futuro da “Great Resignation”, ou a grande demissão se preferires.

Basicamente, iria e assim se está a confirmar em algumas áreas de negócios e em diversas localizações do mundo, existir uma ESCOLHA das pessoas em saírem de onde estão a trabalhar, devido a dois motivos:

  • EVOLUÇÃO – Pessoas que tendo em conta as aprendizagens apresentadas acima, compreenderam que é possível saltar do “bom” para o “melhor” e prepararam-se para isso;
  • SOBREVIVÊNCIA – Outras Pessoas que fazem essa escolha devido a uma questão de sobrevivência “emocional e mental” saindo de organizações, ambientes de trabalho e líderes e colegas tóxicos e onde a ética, transparência e respeito estão feridos.



São de facto duas dinâmicas diferentes, mas que em alguns casos mutuamente se cruzam!

Aqui estão alguns dados que estão, pelo menos neste momento, a dar consistência factual a estas tendências:

  • Nos EUA, o Departamento do Trabalho revelou que 4,3 milhões de americanos abandonaram os seus empregos em agosto de 2021, ou seja, cerca de 2,9% da força de trabalho nacional – o número mais elevado de sempre;
  • No Reino Unido, o número de postos de trabalho em aberto ultrapassou pela primeira vez em agosto de 2021 um milhão de vagas.
  • Um inquérito realizado em inícios de 2021 a 15.000 pessoas na França, Reino Unido, Alemanha e Países Baixos concluiu que os trabalhadores na Alemanha tinham mais demissões relacionadas com a COVID-19, com 6,0% dos trabalhadores a abandonarem os seus postos de trabalho. Seguem-se o Reino Unido com 4,7%, a Holanda com 2,9%, e a França com 2,3%.
  • De acordo com o CEO do LinkedIn, Ryan Roslansky, a sua equipa seguiu a percentagem de membros do LinkedIn (quase 800 milhões) que alteraram a sua descrição/headline profissional do seu perfil e descobriram que as mudanças de funções aumentaram 54% em relação ao ano anterior.

Ufa! ? Algo deve estar mesmo a acontecer!

Fonte: MICROSOFT 2021

Para além disso, com o COVID, existiu escassez de procura E oferta, uma situação muito rara que está a levar a mossas e impactos nas cadeias de abastecimento, cria dificuldade em se conseguir disponibilizar matérias-primas, e tudo isto afeta a entrega de produtos e serviços.

Também os hábitos de consumo, das experiências de bem-estar, de entretenimentos mudaram. A casa voltou a tornar-se, pelo menos em algumas partes do mundo, o novo centro da Vida pessoal e profissional. 

Sendo que uma organização necessita de Pessoas e Recursos para operar, quando ambos estão em falta torna-se complicado ser líder ou gestor. ?

Então, por todos os motivos já apresentados, por outros que advêm do bom senso, e por termos uma responsabilidade ativa em dar resposta ao que as Pessoas e o Mundo necessitam (através dos nossos produtos e serviços), é importante imaginar novas possibilidades. Se estes motivos todos não te chegam, experimenta este ?:

Estima-se que o custo para uma organização em substituir um colaborador que parte é, em média, de 122% do salário anual desse trabalhador em termos de procura e formação de um novo colaborador!!!!

122%?!!?!! ? ?

// O QUE É QUE AS PESSOAS QUEREM (ACHO EU…) ?

Há muitos anos atrás no seu fabuloso livro Drive, Daniel Pink apresentou as 3 dimensões que realmente valorizamos no trabalho e nas organizações – escrevi também há vários anos atrás um artigo sobre isso – Autonomia, Mestria e Propósito!

As Pessoas e o Mundo necessitam de HEARTONOMICS! Criar Lucro com Propósito ao mesmo tempo que as Organizações alimentam as necessidades e aspirações de Equilíbrio e Auto Atualização das Pessoas.

Existem algumas estratégias e abordagens que poderão ajudar:

ESTABELECER PRINCÍPIOS EM VEZ DE POLÍTICAS ORGANIZACIONAIS

Os princípios são o nosso farol quando as regras ou procedimentos de alguma forma não estão bem desenhados. Dizer – “temos que estar 3 dias por semana no escritório” ou indicar que “existe valor numa abordagem híbrida, sendo que encorajamos que as equipas possam definir quais as atividades que fazem mais sentido serem presenciais e as que poderão ser realizadas em formato remoto” são coisas muito diferentes.

Se bem comunicados, os princípios são muito mais eficazes do que as regras e políticas, pois definem balizas ao mesmo tempo que existe margem de manobra para explorar e experimentar algo que possa funcionar ainda melhor.

ENRIQUECER AS PESSOAS COM CONHECIMENTO, CAPACITAÇÃO E PALCOS

Muita da eficácia, motivação, foco e evolução dos profissionais e organizações é desenvolvida através da manifestação da Autonomia, Capacitação e Interação das e entre as Pessoas. Estas entrelaçam-se de forma orgânica.

A capacitação refere-se a proporcionarmos às Pessoas o que for necessário para que estas consigam realizar com eficácia e eficiência as suas tarefas. E também serem melhores nas suas decisões, lições, aprendidas, participação na inovação e resolução de problemas e trabalharem com o foco Human-Centric.

Esta abordagem proporciona um fortíssimo salário emocional de autonomia, sentido de contribuição para algo maior e uma maior auto perceção de competência.

FORNECER FERRAMENTAS LIBERTADORAS DE AUTONOMIA

A tecnologia permitiu agora uma maior desagregação do trabalho, tendo em conta a localização e tempo. Uma espécie de Interstellar organizacional. ?

Para além de material em condições ? – computador, auscultadores, câmara de vídeo, teclado, rato, é imperativo que os colaboradores, com as ferramentas e tecnologias certas, sejam eficazes, autónomos e conectados a partir de qualquer lugar.

E para isso é importante que todos os membros das equipas sejam competentes no uso desse conjunto de ferramentas. O que tenho visto é que o gap entre as pessoas na desenvoltura com as novas ferramentas aumentou, criando em muitos casos maior stress nas pessoas e menor sincronização no trabalho).

JOB CRAFTING COMO ESTRATÉGIA DE REALIZAÇÃO PESSOAL E PROFISSIONAL

Acredito que até um certo ponto é possível mantermo-nos no mesmo papel profissional E experienciar mais significado. Simplesmente “alterando” o que fazemos e o “ponto de vista” por detrás do mesmo.

Isso implica termos a Oportunidade de realizarmos o nosso JOB CRAFTING. Fica desde já a nota que existem pelo menos 3 tipos de abordagem sobre esta temática:

  • TASK CRAFTING – Alteração das tuas responsabilidades;
  • RELATIONSHIP CRAFTING: Mudar as tuas interações;
  • COGNITIVE CRAFTING: Mudar a tua mentalidade.

CULTURA PARA TODOS E EM TODOS OS LUGARES

O Capital Humano, Lideranças, Processos e a Interação com Clientes e Utilizadores necessitam de ser suportadas por uma Alinhamento, Fluxos de Trabalho e Comunicação robustos, positivos, ágeis, seguros e honestos para serem capazes de acompanhar essa “revolução”.

A isto chama-se Cultura Organizacional.

Fonte: April Rinne – FLUX 8 Superpowers for Thriving in Constant Change

// E AGORA?

A pandemia, o trabalho remoto, as epifanias das Pessoas sobre o que é a Vida, como a desejam viver e o que já não faz sentido mudaram muitos Corações e Mentes.

Se calhar, mais do que uma Resignation (demissão) acho que vamos assistir a um grande Reshuffle. Um rearranjo, refazer o puzzle, com as mesmas peças, mas com encaixes orgânicos.

Seja o que acontecer, esta situação vai pedir muito WU-WEI e utilizarmos da melhor forma a sabedoria dos nossos 3 CÉREBROS.

Porque para os profissionais é importante perceber se as alterações que desejam advém de uma verdadeira necessidade de mudança ou se pode vir pelo desgaste dos últimos dois anos. É importante perceber se o que nos pode levar a querer algo diferente/melhor é contextual ou sistémico.

No caso das organizações, é fundamental reconhecer que os colaboradores neste momento são quase profissionais liberais e freelancers no seio da mesma.

Que questões como autonomia, liberdade, possibilidades de evolução, interagir em ambientes saudáveis a nível de segurança psicológica e relações sociais verdadeiras e prosperas são já benefícios considerados inegociáveis.

Tenho a sensação de que as palavras-chave para os próximos tempos são INTEGRAÇÃO E “SURRENDER”.

INTEGRAÇÃO irá permitir que partes, objetivos, aspirações antagónicas que possam existir entre os profissionais e liderança. Entre as Pessoas e o “formato” da Organização, e onde se possa encontrar um Caminho do Meio ou uma plataforma de Otimismo Realista.

SURRENDER é viver em FLUXO– Partilho contigo aqui – FLUX MINDSET – como esse fluxo pode originar surpresas e resultados bastante catitas para as Pessoas e Organizações.

A Vida deveria ser duas; uma para ensaiar, outra para viver a sério. Quando se aprende alguma coisa, está na hora de ir. “, disse João Ubaldo Ribeiro, n’A Casa dos Budas Ditosos.

Acho que podermos viver várias Vidas profisionais como Pessoas “cheias e plenas”, com Amor Verdade e Liberdade é um caminho possível e recompensador. 

Com o teu WU-WEI e 3 CÉREBROS calibrados e afinadinhos, certamente irás fazer as melhores escolhas de percurso e desfrutar de uma forma mais presente das recompensas e aprendizagens.

Obrigado, Abraço e Cuida-te,

Hugo

HUGO GONÇALVES
Executive Coach | Facilitator | Design Thinker for Organizations | https://www.linkedin.com/in/hgoncalves/     www.knowmad-ventures.com  hugo@knowmad-ventures.com  939747990  

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