Líderes Incompletos [spoiler: são os melhores ?]

Líderes Incompletos [spoiler: são os melhores ?]

Líderes Incompletos [spoiler: são os melhores ?]

612 501 Hugo Gonçalves

Na semana passada tive uma animada conversa com um colega brasileiro, sobre a importância do Job Crafting na redefinição do papel dos líderes e gestores e como essa abordagem permite um desenvolvimento e inovação organizacionais natural e alinhado com o que as Pessoas (colaboradores e clientes) realmente necessitam.

No meio dessas reflexões e outras conversas, sobre o design e preparação de um workshop que vamos realizar em parceria em janeiro, esse meu colega mencionou um artigo denominado – In Praise of the Incomplete Leader. – Em Louvor d@ Líder Incompleto@.

Brutal. ?

Adorei o título não só pela curiosidade que me despertou, mas pela Verdade imediata que lhe está associada – que líderes e gestores podem ter responsabilidades, objetivos e abordagens de trabalho diferenciadas e impactantes, mas serão sempre Seres Humanos, com a sua quota de Talentos e certamente com possibilidades de Evolução.

Costumo escutar que se está a exigir cada vez MAIS a todos os decisores e influenciadores de uma organização. Eu por acaso acho que se estão a pedir “apenas” abordagens e responsabilidades DIFERENTES.

Sendo que o VUCA, o BANI e todo o mundo líquido em que estamos inseridos tornou o nosso ecossistema diferente, imprevisível e cada vez mais interligado, então toda a nossa segurança como líderes – que foi construída com competências mais “cientificas”, com variáveis mais estáveis e com a segurança do standard e do processo como sendo a boa prática – tornaram as nossas estratégia atuais de liderança… bem… defasadas das novas realidades.

Então o melhor que podes fazer por ti própri@, numa perspetiva de Amor e Verdade pessoal e profissional, é olhar de frente para quem és e o que tens, ter consciência do que já está desenvolvido e fluido em ti, e perceber o que “pede” o contexto à tua volta – com a tua equipa, clientes, parceiros, mercados e negócios. Então poderás:

  • Potenciar os teus talentos;
  • Identificar e Robustecer coisas menos trabalhadas, mas necessárias;
  • Encontrar parceiros que complementem os teus “gaps” com os seus próprios talentos, tendo em conta um caminho comum.

Só quando os líderes se virem como sendo Incompletos, serão capazes de compensar as suas habilidades em falta confiando nos outros.

Isto faz tanto sentido agora, tendo em conta que empresas são projetos, produtos são impactos e soluções, a colaboração é remota e a liderança é uma gestão e potenciação de sonhos, emoções, talentos e sincronização disso tudo com os contextos e cenários. Coisa pouca. ?

O líder incompleto também sabe que a liderança se manifesta em toda a hierarquia organizacional — onde quer que se encontrem conhecimentos, visão, novas ideias e compromissos.

Deborah Ancona, Thomas Malone,  Wanda Orlikowski e Peter Senge propõem algumas dimensões que pode fazer sentido para “calibrar” as ações de um Líder Incompleto tendo em conta o presente e o futuro, e a sua interação interna e externa:

  • Sense Making (compreender o contexto em que uma empresa e as suas pessoas operam);
  • Relações (construir relações dentro e entre organizações);
  • Imaginar (criar uma imagem convincente e desejada do futuro);
  • Criar (desenvolver novas formas de alcançar essa visão).

SENSEMAKING – COMPREENDER HOLISTICAMENTE

O termo “sensemaking” foi cunhado pelo psicólogo organizacional Karl Weick, e significa apenas o que parece: dar sentido ao mundo que nos rodeia.

Os líderes estão constantemente a tentar compreender os contextos em que estão a operar. Weick comparou o processo de sense making à cartografia.

O que mapeamos depende de onde olhamos, em que fatores escolhemos focar-nos, e em que aspetos do terreno decidimos representar. O mapa não é o território. Portanto, Sense Making é um ato de análise, observação, empatia, imersão. É um ato de Imersão e Design. ?

Pessoas que são fortes nesta capacidade sabem como capturar rapidamente as complexidades do seu ambiente e explicá-las aos outros em termos simples.

Dicas para sense making

  • Obtêm dados de múltiplas fontes: clientes, fornecedores, colaboradores, concorrentes, outros departamentos e investidores;
  • Partilha o teu sense making com os outros. Partilha o que vês e como vês com os outros e vejam que semelhanças e diferenças surgem – são ótimas conversas;
  • Utiliza insights precoces para fazeres pequenas experiências que validem (ou não) esses insights;
  • Já não vivemos no preto ou branco. O mundo hoje é um conjunto de zonas cinzentas e coloridas, que mudam regularmente de forma e cor. Liberta-te dos estereótipos.

RELAÇÃO

Ser capaz de construir relações de confiança e transparência é um requisito de liderança primordial. Existem 3 formas de o fazer:

Questionar&Escutar – Ouvir com a intenção de compreender genuinamente os pensamentos e sentimentos do outro. É um ato de Empatia, de Presença e Humildade. Aqui, suspendes o julgamento e tentas compreender como e por que razão a pessoa que está à tua frente usa os dados das suas experiências para interpretações e conclusões particulares.

Argumentar – Explica o próprio ponto de vista. É o lado inverso da pergunta, e é assim que os líderes deixam claro aos outros como chegaram às suas interpretações e conclusões. Os bons líderes distinguem as suas observações das suas opiniões e julgamentos e explicam o seu raciocínio sem agressividade nem passividade.

Ligação – O terceiro aspeto da relação passa por cultivares uma rede de confidentes, mentores e ouvintes que te podem ajudar a atingir uma vasta gama de objetivos. Pessoas que são fortes nesta capacidade têm uma rede diversa de pessoas a quem podem recorrer, que podem ajudá-los a pensar em problemas difíceis ou a apoiá-los nas suas iniciativas. Independentemente da hierarquia, esta é uma rede de pares.

Dicas para Relacionamentos (no âmbito deste artigo claro ?)

  • Sê genuinamente curioso com as perspetivas dos outros, escuta com a mente e emoções abertas;
  • Motiva os outros a expressarem as suas opiniões. Com o que se preocupam? Como interpretam o que se passa?
  • Exprime a tuas ideias, com uma linha de fundo e o respetivo processo de raciocínio.
  • Como te sentes ao receberes conselhos, perspetivas, sugestões? Ao dá-los? Pedes ajuda? Em que situações?

IMAGINAÇÃO

Imaginar envolve criar imagens convincentes do futuro. Enquanto o Sense Making traça um mapa do ecossistema atual, a Imaginação produz um “holograma” do que o futuro pode ser e, mais importante, o que um líder quer que o futuro seja.

Os líderes que são habilidosos nesta capacidade são capazes de entusiasmar as pessoas com a sua visão do futuro, enquanto convidam outros a contribuírem para o design desses mesmos futuros.

Dicas para Imaginação

  • Cria a tua visão para várias arenas, incluindo a profissional, a pessoal, em comunidade – “O que quero criar?”;
  • Aceita que nem todos irão partilhar da tua visão do futuro. Prepara-te para explicar qual o sentido de urgência que te move e como essa imaginação pode maximizar gains e reduzir pains atuais;
  • Não te preocupes com o “como lá chegar”. Se fores transparente e credível, tu e as outras pessoas irão certamente encontrar todo o tipo de formas de torná-lo real — maneiras que nunca poderias imaginar por ti mesm@.

CRIAR

Mesmo a visão mais inspiradora perderá o seu poder se flutuar, sem ligação, acima da realidade quotidiana da vida organizacional.

Para transformar uma visão do futuro numa realidade atual, os líderes precisam de decisões e processos que lhe deem vida. Esta contínua (re)criação é o que move um negócio do mundo abstrato das ideias para o mundo concreto da implementação. Da cabeça no ar para os pés no chão. Do divergente para o convergente.

Dicas para Criar

  • Nota mental: a forma como as coisas sempre foram feitas PODE NÃO SER é a melhor maneira de as fazer AGORA E NO FUTURO;
  • Quando surgir uma nova tarefa ou transformação, incentiva formas criativas e divertidas de o fazer;
  • Ao trabalhar para compreender o seu ambiente atual, pergunta a ti mesmo: “Que outras opções são possíveis?”

O TRUQUE É O CAMINHO DO MEIO

Sem Sense Making, não há uma visão comum da realidade a partir do qual começar. Sem as Relações, as pessoas trabalham isoladamente ou esforçam-se por diferentes objetivos. Sem Imaginação, não há nenhuma direção partilhada. E sem Criar, não há fruição.

É responsabilidade do líder criar um ambiente que permita que as pessoas potenciem e complementem os pontos fortes e “gaps” uns dos outros. Desta forma, a liderança é distribuída por várias pessoas em toda a organização. Esta é a verdadeira Inclusão e Diversidade.

Sei que este assumir que podemos ser Líderes Incompletos promove uma dicotomia profunda todos os dias.

Mas repara como o teu papel de líder, gestor, profissional pode ser transformado para algo mais eficaz, equilibrado, orgânico e recompensador, para ti, colegas, equipas, chefes e clientes, se abordares os desafios e cenários “armado” até aos dentes com várias perspetivas, ideias, análises de risco, mapas internos e externos realistas.

Quão bom será sentirmo-nos alicerçados nos nossos talentos ao mesmo tempo que nos permitimos todas as interações que possam ajudar a desenvolver os aspetos menos robustos e onde estamos menos à vontade?

A Evolução está intrinsecamente ligada a duas coisas – a Exploração e o Feedback.

Está na altura de nos expormos a ambas.

Obrigado, Abraço e StaySafe,

Hugo

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