Penso noventa e nove vezes e descubro algumas coisas; deixo de pensar uma vez, e começo a sentir. E num profundo silêncio e amplitude me vejo envolvido – e eis que a verdade se me revela.
— DESCONHECIDO (ADAPTADO POR MIM PARA EFEITOS DE LIGAÇÃO COM O TEMA)
PENSAMENTO CRIATIVO E CRÍTICO
INSPIRAR OU EXPIRAR, O QUE É MAIS IMPORTANTE?
Seguimos nestes dias, com tanto a acontecer, com os famosos VUCA e BANI que às vezes partilho contigo nos artigos do Blog.
Percebi também que existem outros acrónimos como RUPT (Rapid, Unpredictable, Paradoxical, and Tangled), TUNA (Turbulent, Uncertain, Novel, Ambiguous) e a malta ainda consegue meter entidades ancestrais como SHIVA 😊 (divindade hindu conhecido também como “o destruidor e regenerador” da energia vital) ao barulho para estas temáticas, com o mais “noir” (Split Horrible Inconceivable Vicious Arising).
Independentemente dos acrónimos que possamos utilizar, existem alguns pontos em comum:
- A mudança é constante e imperativa;
- Decisões somente baseadas na lógica podem dar origem a resultados adequados no curto prazo, mas bastante limitados ao nível da sustentabilidade e evolução ao longo do tempo;
- O futuro é ancestral, ou seja, as bases, pilares, filosofias humanistas podem e devem ser o baluarte da forma como a tecnologia poderá moldar o nosso futuro;
- É importante que os líderes, managers, profissionais se permitam ou escolham vaguear por trilhos menos percorridos (divergência) e materializar alguma convergência – produtividade individual vs. equipa vs. organizacional, para resultados orgânicos e inovadores.
Isso implica que estejamos preparados para dar uma resposta e agir ao que as Pessoas e Mundo nos pedem. Como profissionais e organizações, é importante manter a nossa robustez através de princípios, propósitos e culturas organizacionais integradores/as e com accountability, com ferramentas de Sensemaking (observar e “perceber” o exterior e interior) e Shifmaking (eficácia e eficiência no interior para entregar de valor para o exterior).
Para isso é fundamental desenvolver a nossa (auto)motivação e resiliência, e cuidar da nossa energia física, mental e emocional em contexto profissional.
De qualquer das formas, há sempre esperança! E essa pode-se manifestar através do VUCA PRIME.
Isto leva-me também a outro conceito que fui partilhando – o do 720º. A forma como podemos, a nível organizacional, desenvolver as nossas habilidades, recursos, competências e capacitação explicitas e latentes ou por descobrir, para podemos reconhecer, decidir e agir de uma forma mais orgânica, menos rígida e mais humanista em todas as oportunidades e desafios que as dimensões profissionais e organizacionais nos proporcionam.
Mas tudo isto não “aparece” através de dons ou bênçãos genéticas. 😊
É importante que os processos de treino e desenvolvimento das Pessoas nestas e outras temáticas se sincronizem com a Organização em termos de estratégia, cultura, processos e áreas de negócio.
É também essencial que as iniciativas relacionadas com inovação e melhoria de processos levem em conta as dinâmicas relacionais e emocionais das Pessoas envolvidas porque, bem, são elas que vão fazer acontecer. 😊
PENSAR, SENTIR, INTUIR – DE FORMA CRIATIVA E CRÍTICA
Há alguns meses, foi-me pedido que apresentasse duas propostas para 2 workshops diferentes, para a mesma organização e 2 diferentes equipas.
Um de Critical Thinking para technical consultants e outro de Design Thinking, para os colegas com a função de business and functional consultants, de uma multinacional na área do Data Management/Big Data.
A minha sugestão foi a de fundir os dois temas numa abordagem integrada. E que as duas equipas fossem uma só! 😊
A minha argumentação foi que a Inovação propõe sempre possibilidades e alternativas ao estado atual ou ao que é feito de determinada forma. Traz benefícios económicos e comportamentais, resolve problemas ou torna o dia-a-dia das pessoas mais prático.
Nesse sentido, e ainda por cima numa organização de consultoria (mesmo que seja muito TI) é importante nos dias de hoje, para sossegar os VUCAS, BANIs e SHIVAS da vida, que a Inovação seja encarada como algo human-centric e não apenas tech-centric.
Nesse sentido a Exequibilidade, Desejabilidade, Viabilidade Financeira e Impacto Social e Ético terão de ser as traves mestras para que todos – organizações, clientes, sociedade – possam receber o melhor que essa organização tem para dar.
E que assim, separar estes 2 workshops e por consequência estas duas equipas, tendo em conta o vasto ecossistema comum de atuação e influência – clientes, utilizadores, plataformas e tecnologias, regulamentação, negócio etc. – é como separar (literalmente) as duas faces da mesma moeda. Perde todo o seu valor. 😊
Resolver problemas é uma abordagem simultaneamente divergente e convergente. Imaginar novas soluções ou propostas de valor também.
É importante que o pensamento crítico e criativos se provoquem mutuamente na mesma arena, ao mesmo tempo. 😊
A minha sugestão foi aceite e aquando da publicação deste artigo estarei em Paris a dar o meu melhor para integrar estas duas vertentes – lógica e a criatividade num mesmo ambiente e contexto. De forma simbiótica e aceitando os paradoxos, incertezas e complexidades da sua convivência simultânea.
Durante o seu tempo como líder de desenvolvimento em liderança e gestão na General Electric, Ned Herrmann interessou-se pelos efeitos dos estilos de pensamento e empatia social e respetivas preferências no desenvolvimento dos managers e líderes da empresa.
Com base numa extensa pesquisa, Herrmann concluiu que o nosso cérebro funciona através de “ativação de módulos”, consoante a nossa evolução e desafios. E que pode ser dividido (metaforicamente) em quatro quadrantes.
Cada um está associado a diferentes preferências de pensamento, tomada de decisão e resolução de problemas. Este modelo oferece uma abordagem mais matizada, orgânica, contextual e abrangente de como pensamos, sentimos e intuímos, quando comparado com o modelo de cérebro esquerdo/direito que estamos habituados a reconhecer.
Reconhece que os indivíduos exploram um espectro de estilos cognitivos e emocionais. Traça preferências de pensamento, emoções e intuições (nota minha) em quatro escalas – analítica, prática, relacional e experimental.
Todos temos o potencial para sermos Whole Brain Thinkers. E não é que as Pessoas e Mundo estão a precisar mesmo disso? 😊
E para isto é necessário Coração Aberto (Inteligência Emocional e Empatia), Mente Desperta (Autoconhecimento e Auto Liderança) e Corpo Enraizado (Foco e Objetivos, Resiliência).
CREATIVE AND CRITICAL BEING – PARA PROFISSIONAIS E ORGANIZAÇÕES
Eu considero que o pensamento crítico e criativo, trabalhados em simultâneo por exemplo através do Coaching, Design Thinking e Agile são um ótimo cocktail para a:
Juntamente com os canvas e as abordagens de facilitação, são dos meus maiores amores (não paixões) profissionais.
Porque basicamente são manifestações estruturadas de mindsets e heartset de Intelecto Crítico e Criativo. Há quem lhe chame pensamento, mas na minha visão, que claro é só minha, o Intelecto é Intuir, Sentir e Pensar. É uma Métis.
Possuem um ponto em comum que é o foco no impacto positivo nas Pessoas.
Constituem-se por etapas rigorosas, mas onde em cada uma delas a exploração, as perspectivas, as possibilidades, as verdades e os vieses são diversos, amplos e ricos e são matéria-prima de trabalho.
Estas abordagens possuem e intercalam pontos de partida bem definidos – definição de problema ou oportunidade, desafio a lidar ou objetivo a atingir e navegam de forma orgânica entre a divergência e convergência (eventualmente em timings diferentes), através da exploração do que está a acontecer e o que é importante que aconteça, entre a especulação de novas possibilidades e a decisão de quais as melhores ações e respetivos entregáveis e acionáveis.
Em muitos casos, o Agile veio dar o suporte que faltava, ao promover a melhor transferência para a implementação – plano de ação, projeto, deployment individual e de equipa, através de ferramentas colaborativas e de produtividade profissional.
O QUE É O CREATIVE BEING OU PENSAMENTO CRIATIVO?
Refere-se às habilidades, formas de pensar, criatividade e empatia que permitem aos profissionais gerar ideias novas, originais e não convencionais. Afastando-se dos padrões de pensamento tradicionais, e tendo por foco e objetivo último o delivery de impactos positivos para as Pessoas e Mundo. Através de produtos, serviços e valor. Envolve explorar soluções inovadoras, ultrapassar fronteiras e abraçar a incerteza para encontrar respostas únicas aos desafios.
Implica ver, sentir, pensar de forma diferente do habitual. Estabelecer ligações entre questões, problemas ou ideias de campos não relacionados. fazer perguntas que desafiam a sabedoria comum. observar o comportamento, necessidades, expetativas dos clientes para identificar novas formas de fazer as coisas.
Conversar com pessoas com ideias e perspectivas diferentes. Construir experiências interativas e provocar respostas pouco ortodoxas para ver que insights emergem
O QUE É O CRITICAL BEING OU PENSAMENTO CRÍTICO?
Pensamento crítico não é sobre ser crítico, mas sim sobre ser reflexivo, analítico e com mente aberta na abordagem de informações e ideias.
Envolve a capacidade de analisar e avaliar informações objetivamente com base em critérios. Engloba a consideração de pressupostos, implicações de ideias e múltiplas perspectivas.
Envolve fazer perguntas, definir um problema, examinar evidências, analisar suposições e vieses, evitar o raciocínio emocional, evitar a simplificação excessiva, considerar outras interpretações e tolerar a ambiguidade.
O pensamento crítico é um processo de avaliação de informações, identificação de suposições e tomada de decisões fundamentadas com base em evidências.
QUAL É A INTER-RELAÇÃO ENTRE CREATIVE BEING E CRITICAL BEING?
O Creative Being gera ideias e soluções inovadoras, enquanto o Critical Being garante que essas ideias são viáveis e práticas, avaliando-as, refinando-as e implementando-as de forma eficaz.
O Creative Being gera ideias iniciais, que são depois sujeitas a avaliação crítica por parte do Critical Being através da identificação de falhas, inconsistências ou potenciais melhorias nas ideias criativas propostas. Levando a ciclos iterativos de refinamento e posterior ideação criativa. Inalamos ar e depois é como separar o oxigénio desse mesmo ar, para enriquecer as células, ou extrair o dióxido de carbono do sangue, para o exalar.
CODA
Ao incorporar elementos do pensamento criativo e do pensamento crítico, os profissionais podem compreender melhor as nuances de um problema. E identificar potenciais soluções e avaliar a sua eficácia.
Aquando do briefing do tal projeto que mencionei nas linhas anteriores foi-me questionado qual das abordagens (Critical Thinking ou Design Thinking) eu considerava mais importante para o trabalho da equipa de consultores.
É uma pergunta complicada. Se calhar há algum tempo diria que depende. Agora o que me faz sentido é perguntar qual é mais importante, inspirar ou expirar? 😊
- “Qualquer que eu precise fazer agora” é uma boa resposta para esta última pergunta.
- Outra é “Nem uma coisa nem outra, já que preciso das duas para me manter vivo”.
Prontos! 😊
O mesmo acontece com o Pensamento Crítico e Criativo.
Na segunda parte deste artigo vou partilhar contigo o roadmap que utilizei para este projeto, com pontos-chave, ferramentas e modelos, insights e formas de transferir tudo isso para o teu dia-a-dia profissional.
Obrigado, Abraço e Fica Bem,
H