A Liderança baseada em AI (Parte 1)

A Liderança baseada em AI (Parte 1)

A Liderança baseada em AI (Parte 1)

1280 720 Hugo Gonçalves

Se não podes mudar nada, porquê preocupares-te? E se podes mudar alguma coisa, porquê preocupares-te?

—  PROVÉRBIO TIBETANO

A LIDERANÇA É UMA MANIFESTAÇÃO DE HUMANIDADE

Início de 2024. Estou a facilitar um módulo de um programa de capacitação de liderança e gestão para técnicos superiores de uma universidade pública. A temática, no âmbito da Inovação Organizacional, era o impacto da inteligência artificial nos estudantes, docentes, estudo, criação de conhecimento, etc.

A uma certa altura, discutia-se como seria possível valorizar de forma diferenciada as competências dos estudantes e qual o novo papel dos docentes. O grupo estava a tentar encontrar formas de se poder fazer essa avaliação de competências.

Então eu saio-me com esta: “E se os professores avaliarem os prompts e o fio condutor que os alunos utilizam para usar (neste caso) o ChatGPT em vez de avaliarem o conteúdo, porque mais cedo ou mais tarde os trabalhos, teses e afins serão todos iguais?”. 😊

Os participantes ficaram a olhar para mim, com um ar que navegava entre “este tipo está maluco” 😊 e “olha, se calhar assim é se consegue diferenciar as pessoas pela sua individualidade e impacto no conhecimento e não pelo contrário”.

Semana passada. Teve início mais um projeto de um Programa Avançado de Liderança Evolutiva 720º da KNOWMAD VENTURES para um primeiro grupo de líderes de uma empresa (quase, quase) multinacional ligada ao retalho de produtos e serviços para decoração e lar.

A temática do primeiro módulo foi a Auto Liderança e o seu impacto no nosso desenvolvimento e evolução como Líderes – incluindo o papel de sermos “desenvolvedores” de Pessoas.

Neste módulo foi trabalhada a nossa capacidade de reconhecer e saber navegar na nossa zona de soberania (o que depende de nós), na zona de influência (como posso influenciar e partilhar as minhas necessidades e visão das coisas, de forma a transformar/melhorar o que me rodeia) e na zona de aceitação (como auto motivar-me e ser resiliente em contextos onde não tenho a possibilidade de os alterar).

Ser líder é muitas vezes navegar de forma solitária. E ao mesmo tempo, a liderança é um desporto de equipa, repleto de interações e complexidade.

Como líderes, o nosso papel é encontrar o melhor equilíbrio e eficácia entre prioridades, energias, focos.

Ser líder pode então ser reconhecer quem somos, como “funcionamos”, o que fazemos, e o que é importante para nós. Ao mesmo tempo que temos a habilidade de influenciar a nossas emoções, comportamentos e comunicação.

Ficamos assim aptos a tomar as melhores decisões e a sermos eficazes na sua execução.

Pelo crivo desta definição, todos somos líderes, a nível profissional. A Autoliderança é basicamente mantemo-nos unos, em Wholeness, e assim domar as duas feras da figura baixo – as Emoções e a Lógica. 😊

Isto implica uma Liderança AI. Não, não é essa. 😊

É uma Liderança baseada em AMOR e INTELECTO.

LIDERANÇA AI – O CONTRIBUTO DO AMOR

À medida que a tecnologia se desenvolve a um ritmo acelerado, a forma como trabalhamos está a mudar rapidamente.

Tarefas que antes estavam nas mãos e mentes dos seres humanos estão cada vez mais a ser executadas por máquinas e computadores. Ao mesmo tempo, continuamos a adaptar-nos às novas tecnologias, que continuam a criar grandes transformações na forma como, quando e onde realizamos o nosso trabalho.

Este caos corporativo globalizado implica que as pessoas com quem colaboramos estão muitas vezes sentadas no outro extremo do mundo, falando um idioma diferente e vivendo segundo os critérios e hábitos sociais de uma outra cultura. 

As interações humanas implícitas a uma boa tomada de decisão, à resolução de problemas complexos e ao alinhamento estão a tornar-se mais frágeis.

Por outro lado, quando saímos para trabalhar, não deixamos a nossa Humanidade em casa. As nossas necessidades, emoções e aspirações acompanham-nos no carro, metro, autocarro ou bicicleta. Cada vez mais!

É importante e desejamos que os nossos colegas e organização nos respeitem, nos reconheçam – e todos queremos que as pessoas que nos lideram façam o mesmo.

A ligação que existe entre todas estas coisas não são as Emoções. Estas são “apenas” o sinal visível.

O que realmente define o impacto de tudo isto é uma energia infinita, uma palavra que pode ser ainda mais desafiante e gira 😊 de trazer para o contexto corporativo – o Amor.

 

AMOR ESSÊNCIA E AMOR EXPRESSÃO

Partindo de um ponto transversal e baseado em algumas pesquisas que fiz passando por fontes mais corporate como a Harvard Business Review ou o Center for Creative Leadership e abordagens mais contemplativas como o budismo tibetano e a tradição védica, não encontrei grande diferença na forma como todas documentam o impacto desta nossa qualidade humana de Amar, mesmo e principalmente em contextos de liderança corporativos.

O Amor Essência é basicamente uma abertura e disponibilidade para reconhecermos e desfrutarmos de um bem-estar interior, subjacente ao mundo dos sentimentos.

Ou seja, existe uma serenidade, tranquilidade, paz e sensação de soberania pessoal. Sentimos um conforto interior independentemente das circunstâncias externas, sejam estas mais agradáveis ou desafiantes.

À medida que crescemos no mundo moderno e participamos numa escolarização, socialização e trabalho que assumem formas stressantes e competitivas, o nosso Amor Essência intrínseco pode ficar coberto por camadas de stress, autojulgamento, expetativas e medo.

Quanto mais estamos em contacto com este Amor Essência, mais facilmente as suas qualidades como paz interna, prontidão para a empatia e a melhor relação com os outros, alegria, clareza, coragem surgem de forma natural.

E não é que estas qualidades descritas na frase anterior descrevem quase à silaba aquilo que as empresas e os próprios líderes andam à procura? 😊

As bases do Amor Essência para a Liderança são a Autoliderança e as dimensões internas da Inteligência Emocional.

Por outro lado e por definição, o Amor Expressão é direcionado para fora e inclui o amor parental, romântico, de amizade e devocional, entre outras expressões. Por exemplo, a alegria que é sentida depois de interagir com um ente querido ou participar numa atividade pela qual somos apaixonados.

No caso das organizações e liderança, manifesta-se através da forma como estamos atentos e curiosos à forma como os outros funcionam, como estão, e do que precisam.

O Amor Expressão pode corporizar-se na forma como os líderes assumem os seus papéis de Coaches, Mentores e Facilitadores no seio das suas equipas. Têm o genuíno desejo altruísta e simultaneamente “interesseiro” 😊 de extrair as competências individuais e colaborativas das Pessoas para os sincronizar com os objetivos e metas da organização.

Manifesta-se através da curiosidade intrínseca direcionada para as Pessoas e Mundo, ou se quiseres para os clientes e mercados. O Amor Expressão é o dínamo da Empatia.

E com isto, os líderes acedem a habilidades e recursos superficialmente explorados.

Conhecendo o potencial e a matriz única das suas pessoas, são craques no Job Crafting

Assumem outros papéis que não apenas o de avaliador num sistema de avaliação de desempenho. Tornam-se parceiros desse processo de performance. Pois cocriam com as suas Pessoas objetivos e metas de progresso e resultados para negócio, processos e desenvolvimento.

Existe uma maior abertura e transparência na forma com que as conversas organizacionais ocorrem. Permite também ter um foco e visão do ecossistema, reconhecer o que está a acontecer e definir “o que precisa de ser feito?” como critério de valor superior ao que “o que é que eu quero fazer?”.

Infundir o tipo de amor que acabei de descrever nos nossos locais de trabalho é mais do que a coisa certa e humana a fazer.

Acho que já está estatisticamente e qualitativamente provado que as pessoas que trabalham numa cultura organizacional onde se sentem livres para expressar afeto, ternura, cuidado e compaixão uns pelos outros estão mais realizados com seu trabalho, comprometidos com a organização e são mais responsáveis por seu desempenho.

Tudo isto parece “apenas” bom senso, mas mesmo assim ainda andamos à procura de provas, certo? 😊

Porque ainda estamos a usar a mente, sendo que o Liderança AI funciona melhor com o Intelecto.

LIDERANÇA AI – O CONTRIBUTO DO INTELECTO

Tomamos decisões todos os dias. Estas decisões podem enquadrar-se em algumas categorias: as que nos fazem sentir bem, que nos fazem sentir menos bem, e as que não nos fazem sentir nada. Mas isso não leva em conta se são as melhores ou não para o nosso próprio desenvolvimento, dos outros e se são eticamente ecológicas para os profissionais, organização e negócios.

A mente é onde vivem as tuas preferências, vieses, memórias e preconceitos. Também lá habitam as tuas aversões (não gosto) e apegos (gosto).

A mente quer satisfação e resultados agora. Já deves ser deduzido que a mente é onde vivem as nossas decisões impulsivas baseadas em emoções orgânicas, voláteis e caóticas, que todos sabemos que vêm e vão muito rapidamente.

No intelecto vive a tua capacidade de ver o todo e discernir o que é verdade e o que não é verdade com base no conhecimento e na sabedoria. É o que nos permite perceber que algumas coisas são reais, mas que existem outras que são verdadeiras.

É a parte de ti que compreende que às vezes a satisfação pode não acontecer agora, mas haverá regozijo mais tarde com a ação certa, clareza e paciência.

Considero que, ao nível dos Profissionais e Organizações, ainda não somos sábios o suficiente porque as nossas mentes são muito fortes e nossos intelectos ainda não.

Basta ver todos os impactos, desafios, disrupções, polarizações, desequilíbrios que vivemos nos últimos 20 anos, no que às organizações e negócios diz respeito.

O Intelecto é o que pode suportar as bases daquilo que todos nós procuramos perceber e receber dos nossos líderes:


ETHOS
– “O argumento baseado no personagem” – Precisamos de saber porque é que devemos “seguir” e acreditar em alguém e como é que a sua experiência (interior e exterior) lhe dá uma perspectiva única, e irá criar valor e impactos positivos;

PATHOS – “O argumento emocional” – Que nos mostrem porque é que aquilo que partilham e desejam que nós executemos ou possamos contribuir é importante. Qual a ligação emocional que existe com esses dados, tendências, decisões e pedidos?

LOGOS – “O argumento lógico” – Que nos possam proporcionar contexto, informação, lições aprendidas e dados que permitam tornar mais evidente o que é importante fazer e porquê;

KAIROS – “O momento da ação e da urgência” – Que fique explicito o que é importante fazer em primeiro lugar e o que é esperado atingir. E o que acontece se não o fizermos?

CODA

Como líderes, o que significa esta abordagem AI?

Que pode ser interessante procurarmos intencionalmente construir conexões com aqueles que são diferentes de nós mesmos – a nível de funções, competências, hierarquias e responsabilidades.

Que possamos tornar efetivos e deliberados a nossa curiosidade e o espanto a nível organizacional.

Quando lideramos com amor e intelecto, abraçamos nossa própria vulnerabilidade, reconhecemos abertamente nossas imperfeições e compartilhamos como elas nos permitem aprender e crescer.

Construímos uma cultura onde podem acontecer discussões difíceis que constroem conexões cada vez mais profundas entre colegas de trabalho.

Acredito que tudo isto que partilhei contigo pode ser colocado em prática, de forma deliberada e intencional, nas organizações.

Correndo o risco de me espalhar ao comprido 😊 (Amor e Intelecto são temas tão objetivos e consensuais…), na segunda parte deste artigo vou partilhar de que forma abordagens, metodologias e ferramentas práticas podem de facto criar acionáveis e entregáveis de liderança:

  • Acionáveis – comportamentos, ações, decisões;
  • Entregáveis – processos, novas formas de trabalhar, produtos e serviços;

através da manifestação do Amor e Intelecto. E de que forma o líder, de maneira mais individual e colaborativa, pode ser quer o dínamo quer o pivot/facilitador destas abordagens.

Este artigo é sobre o propósito e impactos da Liderança AI. O próximo é sobre o caminho e quais os artefactos que nos poderão ajudar a trilhar esse percurso da forma mais natural – potenciando simultaneamente as Pessoas, a Organização e a Performance.

Obrigado, Abraço e Fica Bem,

H

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