Raramente conhecemos alguma pessoa de bom senso além daquelas que concordam connosco
FRANÇOIS LA ROCHEFOUCAULD
Na primeira parte deste artigo partilhei contigo a analogia que faço entre o sentido PROPÓSITO E DE PERTENÇA Organizacional e o Mandato do Céu.
Segundo esta minha “viagem” no multiverso dos profissionais e organizações, o Mandato do Céu é o conjunto de valores, propósitos, energia e foco que permite que as equipas se sintam realizadas a trabalhar de forma a simultânea para os Clientes e para eles próprios como líderes e gestores, ao definirem o que é realmente importante, quais as estratégias e caminhos a seguir e que ações e abordagens podem materializar isso.
Sendo essa parte mais estratégica e existencial, obviamente é necessário encontrar forma de fazer isso acontecer no dia-a-dia, navegando numa espécie de caos estruturado.
E para isso, para além das metodologias, frameworks, ferramentas e técnicas que tenho vindo a partilhar no blog ao longo dos anos, existe uma “competência” difusa, algo mística ?, que, no entanto, é fundamental para se conseguir navegar nos VUCAs e BANIs profissionais e corporativos com equilíbrio, customização e performance:
O Bom Senso! ?
// BOM SENSO OU SENSO COMUM?
O bom senso tem a ver com a nossa capacidade de refletir – mentalmente e emocionalmente – sobre diversos ângulos, pessoas e contextos de uma mesma questão e encontrar uma solução de compromisso, eficaz e preferencialmente humanista, no sentido win-win da coisa.
Bom senso implica responder, não tanto reagir. É ter a consciência que procuramos a melhor solução ou resposta possível ao mesmo tempo sabendo que estamos a lidar com muitas incertezas.
É uma abordagem de interação com o desconhecido. E isto causa-nos mossa, como pessoas e organizações – trilhar um caminho onde fazemos o melhor possível, mas sem o apoio de uma certeza ou de segurança em atingirmos os resultados desejados.
O bom senso leva-nos a assumir de igual forma os nossos recursos e as nossas limitações.
E é por tudo isto, que a nível das organizações e mundo corporativo, normalmente “fugimos” alegremente para o senso comum. ?
Pois este baseia-se mais em “certezas”, hábitos, rotinas, zonas de conforto.
Já não implica tanta reflexão, conversas difíceis e com significado, olhar para o contexto, desafios e oportunidades de uma forma customizada.
O senso comum pode ser mais “pacífico” no sentido de não fazermos grandes ondas, de não agitarmos as águas corporativas, e por causa disso pode também levar a que não exista espaço para novas ideias, novos cenários, novos desafios possam ser identificados e consequentemente “surfados” pelas organizações.
O senso comum manifesta-se por expressões como “é assim que está no processo”; “sempre foi assim”; “vamos fazer desta forma para não ferir suscetibilidades”.
Por isso o senso comum não costuma dar origem a resultados muito consistentes a nível de eficácia (fazer o que é o adequado para determinada situação), e vai dando para os gastos para se manter a eficiência (otimização de recursos). Mas até para isto o prazo de validade está a acabar…
De facto, assim é, porque entre a Estratégia e a Implementação existe uma pequena coisa chamada… Realidade! ?
E a Realidade é volátil, complexa, caprichosa e ao contrário do que nos dizem, não depende apenas de nós ou só dos outros. Saber o que depende de mim decidir e fazer, quem posso influenciar e o que apenas posso aceitar (ou assumir que ali não é o meu lugar e voltamos às ações e decisões) é das melhores competências, recursos, fontes de energia e aspiradores de preocupações e desgaste que conheço.
// DIMENSÕES DO BOM SENSO PROFISSIONAL&ORGANIZACIONAL
Existem um conjunto de dimensões associadas ao Bom Senso que considero eficazes e aplicáveis ao contexto profissional e corporativo:
// (RE)CONHECE-TE A TI MESM@ (PROFISSIONAL E ORGANIZAÇÃO)
Lá venho eu com a Auto Liderança e a Inteligência Emocional, eu sei! ?
A razão pela qual continuo a bater nesta tecla é devido ao facto de nos meus workshops e projetos as equipas e organizações terem uma ideia geral sobre as respostas a estas questões, mas só com bastantes questões, escuta ativas, canvas e post-its ? é que Reconhecem (sabem e sentem) qual a verdadeira essência, recursos, competências, propósitos, objetivos e caminhos a seguir.
// (RE)CONHECE OS OUTROS (COLEGAS, CLIENTES, PARTES INTERESSADAS)
Aqui estamos a falar de um exercício de empatia profissional e corporativa.
Para além de utilizar a expressão “saber o que as Pessoas e Mundo necessitam”, a ideia-chave aqui é termos consciência de quais são os pains&gains dos nossos clientes e partes interessadas.
A energia que alimenta isto é quase como se estivéssemos animados de uma postura de empatia, presença, disponibilidade para os outros e a sincronia dessa interação com os nossos talentos, experiência, conhecimento e performance dá origem a produtos e serviços.
E que estes de facto podem criar impactos concretos na vida real das pessoas como resolver problemas, criar oportunidades e acessibilidades, poupar tempo, proporcionar autonomia e segurança, oferecer experiências.
// (RE)CONHECE O VALOR QUE ENTREGAS
No seguimento do ponto anterior, quando questiono os líderes, gestores e equipas sobre que valor especificamente entregam aos seus clientes e partes interessadas, normalmente o que surge em primeiro lugar é uma partilha da missão e valores da organização, de uma forma mais “solene” ou mais “descontraída”.
Insistindo com outra questão sobre como é que a vida das pessoas se torna melhor, mais fácil, segura, alegre e afins, através da utilização dos seus produtos e serviços, a resposta não sai de todo imediata e fluída.
E então começamos a explorar de forma Human Centric – por exemplo através do Coaching e Design Thinking – quais são as necessidades funcionais, as expetativas emocionais e relacionais e os receios/segurança associados à utilização de um determinado produto e serviço
// (RE)CONHECE AS NOVAS OPÇÕES, POSSIBILIDADES, CAMINHOS
Estamos agora preparados para cocriar, mudar, fazer evoluir, melhorar.
Toda a Evolução acontece através da Exploração e Feedback, através do imaginar o novo e “testá-lo” concetualmente, fisicamente, organizacionalmente com as Pessoas e Mundo reais.
Isto implica estar com um pé dentro e fora da organização, de ser curioso com tendências, pequenos sinais de disrupção, fazer o vox-pop, dar aos clientes a função de co-designers e consultores internos das nossas organizações.
Isto implica observares o teu trabalho, colegas, chefes, equipa, organização, clientes, mundo numa perspetiva de Engenharia Organizacional a 720º. É um exercício de observação e sincronização.
// (RE)CONHECE O QUE FAZER, PARTILHAR, ACEITAR E DEIXAR (CA)IR
O Mundo está marado, complexo, dinâmico, incompreensível e rápido demais para continuarmos a trabalhar de forma sequencial. Em especialidades estanques dentro da própria organização. Cada vez mais as organizações serão “projetizáveis”. Ou seja, que as pessoas, talentos, equipas vão ser criadas, lideradas, geriras e focadas tendo por base a melhor combinação possível e adequada para determinado contexto, objetivo, tipo de cliente, produto ou serviço e especificidades associadas ao trabalho presencial ou remoto, síncrono ou assíncrono das equipas e projetos.
// CODA
Muito do meu trabalho como facilitador e consultor colaborativo nas áreas de:
- Desenvolvimento de Pessoas/Coaching/Mentoring;
- Inovação Organizacional, Design Thinking e Criatividade;
- Desenvolvimento de Cultura, Equipas e Workflows;
passa por explorar com os líderes, gestores, equipas e organizações aquilo que é ou pode ser o seu Mandato do Céu e Bom Senso Profissionais e Organizacionais!
Somos nós, como Pessoas no contexto organizacional que fazemos acontecer a ligação entre estas duas dimensões.
A Métis Profissional e Organizacional é sem dúvida um recurso-chave. Uma pessoa com Métis possui um mapa mental de sua realidade em particular. E uma visão de helicóptero do que a rodeia e como esses vários mundos se interligam e impactam mutuamente.
Adquiriu um grupo de habilidades práticas e sensibilidade que lhe permite prever/sentir mudanças. Ela reconhece o contexto geral de uma situação, mas também as propriedades particulares da mesma.
Uma pessoa com Métis sabe quando aplicar o procedimento, mas também reconhece quando deve flexibilizar as regras.
Os Ecossistemas Profissionais, Organizações, Clientes, Mundo – não podem ser controlados, mas podem ser concebidos e redesenhados. Não podemos avançar só com certezas num mundo com muitas surpresas. Podemos esperar disrupções e aprender e até lucrar com elas.
Podemos ouvir o que o ecossistema nos diz, e descobrir como as suas propriedades e valores podem trabalhar em conjunto para trazer algo muito melhor do que poderia ser produzido apenas pela nossa vontade.
É também sabermos utilizar os nossos diferentes sistemas nervosos ou “cérebros” profissionais – Mente, Coração e Intestinos para reconhecer o que é importante, tomar as melhores decisões, e saber quando agir e avançar, quando ainda é tempo de semear, regar e cuidar e quando apenas faz sentido esperar ou deixar ir.
Então o Bom Senso é um complexo e profundo processo que envolve Conhecimento, Experiência, Relações e Emoções. Uma manifestação explícita da nossa riqueza como Profissionais e Organizações.
Funciona como uma espiral controlada da forma como existe Evolução em Quem Somos, como Fazemos as Coisas, sobre como Vemos o Mundo e Agimos sobre este.
É sobre manifestar o nosso melhor através do pragmatismo das pequenas e grandes ações do dia-a-dia.
Que sorte, isto parece-me mesmo aquilo que as Pessoas e Organizações precisam para sincronizar os seus talentos com este mundo líquido, disruptivo e incompreensível! ?
Obrigado, Abraço e Cuida-te
H