ENGENHARIA ORGANIZACIONAL
Toda a Arte é um problema de Equilíbrio entre dois opostos.
Cesare Pavese
Começo com uma fábula ancestral:
Durante seis anos, Siddhartha (Buda para os amigos ?) e os seus seguidores viveram em silêncio e nunca saíram da floresta. Para beber, tinham a chuva, como comida, comiam um grão de arroz ou um caldo de musgo. Tentavam dominar o sofrimento tornando as suas mentes tão fortes de forma a esquecerem os seus corpos.
Então um dia, Siddhartha escutou um velho músico, num barco que passava, falando para o seu aluno…
“Se apertares demais esta corda, ela rebenta; se a deixares solta demais, ela não toca.”
De repente, Siddhartha percebeu que estas simples palavras continham uma grande verdade, e que durante todos estes anos ele tinha seguido o caminho errado.
“Se apertares demais esta corda, ela arrebenta; e se a deixares solta demais, ela não toca.” – continuava a frase a ecoar na sua mente.
Uma aldeã ofereceu a Siddhartha a sua taça de arroz. E pela primeira vez em anos, ele provou uma alimentação apropriada. Mas quando os ascetas viram o seu mestre banhar-se e comer como uma pessoa comum, sentiram-se traídos, como se Siddhartha tivesse desistido da grande procura pela iluminação.
Enquanto estes se retiravam, Siddhartha disse:
“Aprender é mudar. O caminho para a Evolução está no Caminho do Meio. É um Caminho constituído por todo o Espaço entre todos os extremos opostos.”
O Caminho do Meio foi a grande verdade que Buda descobriu, o caminho que ensinaria ao mundo.
Continuo com uma história real
Desde o início da minha carreira profissional até aos dias de hoje, fosse a trabalhar por conta de outrem, fosse já como facilitador, coach ou trainer, tenho sido testemunha de um desafio comum que encontro nas Pessoas e Organizações – A Separação e os Extremos:
- Pessoas que têm uma ótima energia, vontade de aprender e de fazer as coisas acontecer, mas os processos, liderança, cultura e tecnologia não acompanham e potenciam essa riqueza;
- Processos, metodologias e tecnologias state of the art, mas que não proporcionam a potencial riqueza e valor porque a sua contextualização e envolvimento com as Pessoas não é realizada, criando assim muitos anticorpos.
O que surge muitas vezes é um fosso de evolução – sabemos tudo o que precisamos, mas não sabemos/conseguimos aplicar.
Sou um sortudo por poder trabalhar em vários temas, alguns deles aparentemente não relacionados – Coaching, Design Thinking, Engenharia Avançada e Projetos para a Qualidade Automotive. Modelos de Negócios e Customer Development. Inovação e Cultura. Sempre apareceu alguém que me orientou nesses temas e que me inspirou. Gratidão!
Comecei a inserir elementos de Coaching e Facilitação em formações de FMEA e IAFT16949 (indústria automotive). Experimentei utilizar 8D’s (Problem Solving) em projetos de reengenharia de processos em organizações de IT e Utilities. Usei modelos de Customer Journey e Design Thinking em sessões de Coaching para líderes que queriam colocar em imagens os seus processos de reflexão e estratégia de liderança e gestão de equipas.
Uma verdadeira mixórdia de temáticas. ?
A Liderança e Gestão de uma Organização é uma abordagem híbrida e simultânea de Pessoas [Coaching/Mentoring] + Inovação [Design Thinking + Customer Development+Problem Solving] e Cultura [Management 3.0 + Liberating Strutures + Cultura por Valores].
Passa por integrar vários “Caminhos do Meio”. Funcionando numa integração 720º, seja a nível individual ou organizacional, como aqui apresento com este gatafunho:
Sendo o Coaching e o Design Thinking as minhas maiores influências profissionais, desde logo detetei bastantes pontos e propósitos em comum.
Há alguns anos comecei a imaginar um Caminho, que pudesse servir de orientação a processos de desenvolvimento de Lideranças e das Organizações, com inspiração nessas abordagens.
Fiz uns rabiscos, pedi a ajuda de designers, dei-lhe uns toques, fiz uns blends, fui escrevendo no blog como isto poderia funcionar (de forma mais geral ou específica) e experimentando isto nos meus projetos e intervenções.
Ao fim de alguns anos de fermentação e envelhecimento, qual vinho ?, cá está a oficialização da ENGENHARIA ORGANIZACIONAL [EO], após a “validação” do mercado.
A ENGENHARIA ORGANIZACIONAL® é um roteiro integrador para o desenvolvimento de Pessoas, Organizações, Cultura e Ecossistemas de Negócios. Funciona como um propulsor para a identificação de oportunidades ou desafios, que por sua vez são triggers para novas ideias ou projetos de desenvolvimento do Capital Humano e Inovação Organizacional.
Vamos lá então explorar isto:
PROPÓSITO E CHALLENGE
Termos um propósito definido e concreto ativa sensações de confiança e tranquilidade no nosso sistema límbico, que gere as emoções. A Clarificação do Propósito e Desafio é para mim uma das mais importantes etapas de qualquer Processo de Transformação e Inovação Pessoal e Organizacional. Infelizmente é o mais negligenciado.
EXPLORAR, OBSERVAR E MAPEAR
Achamos sempre quem sabemos o que fazer, pela lógica ou pelo ego. ?
Por isso explorar, olhar à volta, conversar connosco e com os outros é um processo fundamental para termos uma visão e noção cristalina da realidade e do estado atual das coisas.
Isso implica o ato neutro e compassivo de observar, sem grandes julgamentos ou preconceitos. Apanhar o helicóptero, aumentar o campo de visão, observar os ecossistemas e identificar as interações, numa grande angular de 720 graus: 360° interno + 360° externo.
INSIGHTS
Neste ponto e através das duas etapas anteriores já devemos ter claro algumas conclusões. O que se tornou claro através da fase de explorar? Bate certo com o que achávamos? Quais são as dimensões para as quais faz sentido criar soluções e impactos para nós próprios, para as equipas, os clientes, para que todos tenham os seus pains and gains “resolvidos”?
IMAGINAR E DESENHAR UM FUTURO MELHOR
Agora sim, é a altura certa para criar algo ou imaginar soluções para um determinado desafio e problema.
TUDO é possível de ser imaginado e só ALGUMAS coisas poderão ser implementadas, e está tudo bem. ?
Indivíduos, Equipas e Organizações normalmente começam por aqui e ignoram os passos anteriores e a frase anterior. Ou seja, estagnamos na nossa Inovação Pessoal e Organizacional porque se começarmos apenas nesta fase, não nos proporcionamos o belo, mas também (confesso) doloroso processo de colocar tudo em causa, nós incluídos.
VALIDAR E PLANEAR A NOVA REALIDADE
Uma ótima solução não é suficiente. A Inovação realmente só acontece quando uma ideia é tecnicamente exequível, desejável, viável financeiramente e tendo em conta este mundo líquido e os últimos acontecimentos, que se consiga adaptar rapidamente a novos modelos de negócio e de entrega.
Então aqui temos de experimentar, prototipar e definir quais os critérios de sucesso e insucesso.
LIFT-OFF!
Aqui é fácil. É fazer acontecer, refinar, atualizar, e depois procurar o challenge e propósito seguintes. ?
Nos últimos anos, testei este roadmap para projetos individuais e com equipas, organizações e parceiros, em diferentes contextos e temáticas. Também o utilizo eu próprio para dar o meu melhor para chegar às minhas respostas e soluções, ou para desenhar os conteudos/atividasdes e delivery dos meus projetos.
A Engenharia Organizacional bateu quase sempre certo. Como roadmap funcionou quase sempre bem como referência para se percorrerem territórios complexos como são um Ser Humano, Equipa, Organização, Negócio.
As metodologias e ferramentas utilizadas em cada fase é que têm de ser customizadas ao tema, desafio, pessoa, equipa, organização, etc. Aqui pede-se Empatia e Co-Criação com os Clientes.
A ENGENHARIA ORGANIZACIONAL® FUNCIONA COMO UMA GALÁXIA
A Engenharia Organizacional desenvolve e Inova um conjunto de dimensões, princípios ativos e ecossistemas do Profissional e das Organizações que existem por si só e cujos elementos se mantêm unidos entre si devido a mútuas interações, em temáticas chave que funcionam como constelações ou sistemas solares:
Alguns exemplos de aplicação:
- LEADER EVOLUTION – Processos de Coaching e Mentoring onde se trabalha a Self Leadership, a Definição de Prioridades e tomada de Decisões. Liderar e Imaginar um novo futuro numa organização é ainda muitas vezes um processo solitário e este roadmap Engenharia Organizacional pode servir de orientador para tornar cristalino e motivador um processo que é complexo e denso. [Self Leadership, Coaching, Mentoring]
- BUSINESS TRANSFORMATION – Qualquer contexto que implique uma reflexão e trabalho multidisciplinares para resolver problemas, identificar oportunidades, criar produtos, trabalhar na nossa proposta de valor e desenvolvimento de clientes ou simplesmente imaginar como se pode trabalhar melhor. [Design Thinking, Problem Solving, Inovação, StrategyTools®, Customer Development]
- CULTURE AND WORKFLOWS – 85% dos desafios organizacionais são sistémicos e relacionados com comunicação, definição de responsabilidades, informação inconsistente e fluxos de comunicação degradados. São as Meaningful Conversations & Design que levam às melhores Reflexões, Decisões e Distribuição de Responsabilidades e Tarefas. [Design de Culturas e Equipas, Definição de Responsabilidades, Team Development, Cultura por Valores]
Estamos perante um ciclo de mudança e expansão e impermanência vertiginosos, associados ao desenvolvimento e transformação do conceito do que é um PROFISSIONAL, ORGANIZAÇÃO, PRODUTO E SERVIÇO E CLIENTE.
A Engenharia Organizacional é forma que encontrei de “combater” aquele desafio comum da Separação e Extremos, que mencionei no início, que ainda causa muita mossa. Como batizou um grande amigo meu, é a minha cena profissional. ?
A Engenharia Organizacional na realidade pretende criar e reforçar a Integração, Reconexão, Equilíbrio e Alegria (não propriamente a Felicidade) dos Profissionais e das Organizações.
Esta é a minha proposta de Caminho do Meio. E pretendo continuar a percorrer este caminho e os seus trilhos nos próximos tempos.
Que venham as Oportunidades, Desafios, Pessoas e Organizações para o percorrerem comigo. ? (mais novidades sobre isto no próximo artigo).
Obrigado, Abraço e Cuida-te Hugo