No início, nada chega. No meio nada fica. No fim nada parte
MILAREPA
GAP WEEK
Já passa das duas da manhã e com uma temperatura amena e um silêncio e tranquilidade acolhedores, vagueio pelas ruas de Scheveningen.
É um antigo bairro de pescadores situado na orla marítima da cidade de Haia, que agora é um local com uma cultura de surf e do mar e uma zona bastante descontraída para se viver e estar, seja em formato solo ou em família.
Pedalando pelos seus bairros residenciais, pela Promenade – o passeio marítimo apenas acessível a pé ou de bicicleta – e pelas ruas onde as lojas de surf, pequenos restaurantes, bares e coffeshops estão agora em “descanso”, levo com um vento intenso mas não incomodativo nas “fuças” ?.
Pela minha mente passa o filme dos últimos dias.
Os quais dediquei a fazer o que denominei de GAP WEEK.
Uma semana constituída por viagens, trabalho, shadowing e partilha cruzada com outros colegas facilitadores e consultores nas áreas da Evolução e Desenvolvimento das Pessoas e Organizações.
Tendo eu feito algumas pequenas crónicas dos momentos e aprendizagens mais importantes em alguns posts do LinkedIn, faz-me sentido partilhar contigo de que forma esta minha experiência, os seus insights e as ideias que surgiram se ligam com as temáticas e “vipes” que costumo partilhar nos meus artigos – a integração entre as Pessoas e Organizações.
// GAP WEEP – É sobre o Porquê
Nós, os consultores, formadores e facilitadores, sentimos vontade e necessidade de termos um espaço para as nossas dúvidas, para explorar novos assuntos e para calibrar e dar uma abordagem fresca aos atuais.
O nosso sucesso e realização pessoal não passa apenas pela entrega e execução, para muitos de nós passa também por nos nutrirmos de estímulos, abordagens, pessoas, desafios e oportunidades novas.
Como neste momento não existe a hipótese de realizar um gap year ? e como sou fã do Caminho do Meio – Otimista Realista, resolvi fazer esta GAP WEEK com os seguintes propósitos e aspirações:
- Visitar pessoas que conheci durante a pandemia em modo online e com as quais tive oportunidade de trabalhar em projetos colaborativos, para o encontro pessoal e para partilha/”shadowing” das suas formas de trabalho;
- Estar exposto a novas pessoas, cidades, culturas, espaços, jardins, comida, monumentos, formas de deslocação e vivência;
- Para Brincar ao Mundo (o que verdadeiramente me move, apesar de adorar a minha base no Porto);
Sendo que estou sempre a dizer que todos os profissionais e organizações devem estar à coca e com a pestana aberta ? para aquilo que as Pessoas e Mundo necessitam, tive a confirmação que apenas viver nos hábitos, processos, boas práticas, standards, ferramentas atuais nos pode causar um viés deveras perigoso a nível profissional.
Pode contribuir para uma otimização de recursos (eficiência) mas pode levar a decisões e propósitos não alinhados com o que realmente é necessário fazer (Eficácia).
Esta Eficácia está em contínua metamorfose – o contexto muda, os eventos disruptivos acontecem e a questão que nos deve nortear é a seguinte – O QUE É IMPORTANTE E ADEQUADO FAZER AGORA?
Isto implica aproximar a estratégia das operações, “pede” que a “CEO” e o “senhor da limpeza” possam estar na mesma sala, a partilhar as perceções diferentes que têm do negócio, mas mais do que isso, a construir a visão comum sobre o Que, Porque e Como fazer, ou seja criar a nova Realidade.
Tive a oportunidade de testemunhar estas dimensões (e de participar como facilitador/assistente convidado) num workshop. Uma câmara municipal alemã – Telgte – convocou todos os representantes da cidade, desde partidos políticos, associações de vários ecossistemas e áreas e cidadãos.
Para, em conjunto, poderem definir, mergulhar, explorar, decidir e criar ações.
Sobre quais os equipamentos, ideias, ações, obras poderiam ser as mais eficazes para a cidade – dar resposta adequada às necessidades, valências, contexto e aspirações da cidade para o seu futuro. Tratou-se não de um evento sobre orçamento participativo, mas sim sobre Design Participativo – através do Coaching e Design Thinking.
// GAP WEEP – É sobre Vaguear e Serendipity
Solvitur Ambulando é uma ótima forma de vivenciarmos dimensões aparentemente paradoxais – a Criatividade e Estratégia, a Produtividade e a Performance.
A frescura que outros ambientes, pessoas, culturas, ruas, cidades, tipo de arquitetura nos trazem despertam também em nós uma maior abertura, curiosidade, associações, possibilidades.
Esta viagem à Alemanha e Holanda abriu-me os olhos para o papel que uma cidade e os seus respetivos equipamentos e atmosfera podem ter na criatividade e produtividade.
Uma cidade onde seja fácil deslocarmo-nos, estar exposto a locais e sítios tranquilos ou estimulantes, conforme a nossa necessidade e personalidade, que promova a socialização, artilha, conversas durante o dia tem um ótimo impacto profissional.
Tudo é fluído, tudo é simultaneamente estimulante e relaxado.
Senti isso em Múnster, Amsterdão e Haia. Onde esta atmosfera e ecossistema trouxe-me uma energia estimulante e de presença. Ao mesmo tempo que permitiu que mesmo andando a saltar de um lado para o outro, pudesse ter conseguido trabalhar bastante sem comprometer o meu próprio espaço e tempo que decidi investir em apenas ESTAR e SER.
// GAP WEEP – É sobre Pessoas e Tribos
Embora para mim seja tranquilo ir sozinho assim em viagens e escapadinhas, esta Gap Week foi também sobre Pessoas e sobre os Outros.
Falor dos colegas que, entretanto, se tornaram amigo@s, que conheci em think-tanks, webinars e seminários online, através do LinkedIn ou por se ter proporcionado o nosso trabalho conjunto durante de depois da pandemia.
Tendo eu o meu próprio projeto profissional – sou team Liberdade em vez de team Estabilidade ?, é importante que esta mesma liberdade não se torne um fator de individualismo, viés e falta de perspetivas.
A paixão pela rotina e disciplina não chega.
O partilhar, fazer coisas em conjunto, conversar sobre desafios e oportunidades é sempre uma ótima abordagem para o desenvolvimento profissional.
Quer em formato de pares e também ao darmo-nos a possibilidade de pontualmente sermos os alunos.
Para podermos reforçar aquilo que é inato, gostamos e fazemos bem e eventualmente calibrar e robustecer outras competências e recursos que possam estar menos despertos, mas que são importantes para determinados projetos ou objetivos que temos.
Desde sessões de cross-sharing com diversos colegas alemães e neerlandeses, assistir a palestras e conferências, visitar espaços de aceleração de inovação e co-working, tudo isto permitiu-me estar exposto a fontes de conhecimento, ideias, possibilidades, ferramentas, experiências tão ricas e melhor ainda, o sentimento foi recíproco.
Temos sempre a ideia de que o que é de fora é que é bom, mas desde a abordagem da KNOWMAD Ventures e respetivas galáxias de atuação,
// Desenvolvimento de Pessoas/Coaching/Mentoring;
// Inovação Organizacional, Design Thinking e Criatividade;
// Desenvolvimento de Cultura, Equipas e Workflows;
e outras ideias, conselhos, vipes etc., existiu um genuína curiosidade e interesse e já estão no forno alguma parcerias e colaborações. ?
Muitas vezes procuramos validação nos outros. No meu caso as Pessoas e Tribo com quem estive e interagi proporcionaram algo muito mais saudável – Calibração e Auto Atualização.
Pois a validação deve ser, na minha ótima, um processo interno de autoconhecimento, evolução e aprendizagem, baseado no Amor, Verdade, Liberdade e Aceitação.
E os outros podem ajudar a colocarmo-nos em causa de uma forma saudável e alinhada com a nossa Evolução.
// GAP WEEP – É sobre Histórias
No decorrer desta Gap Week, escutei e “senti” muitas histórias. A maior parte delas profissionais, mas muitas delas partilhas mais pessoais das pessoas que me deram guarida ? ou que foram os meus guias nas cidades e eventos por onde passei.
Histórias sobre como os colegas decidiram trilhar o seu caminho como facilitadores, consultores e trainers. Sobre experiências e projetos que os comoveram pela felicidade e impacto que causaram ou pelas barreiras e incongruências de liderança e organizacionais que os sabotaram.
Mas as Histórias são ótimas realidade laterais para o desenvolvimento de um Profissional e das Organizações.
São energia, alimento, inspiração, lições aprendidas para imaginar realidades futuras em relação à Evolução/Inovação de Pessoas e Organizações através da Autoliderança e Descoberta, Coaching, Design Thinking, Agile.
A história que mais me marcou foi aquela que surgiu de uma conversa que tive com um perfumista. Eu chamo-o de Designer de Perfumes – na cidade de Haia. O homem aprendeu a sua arte com o seu pai e avô, num negócio que está na família há mais de 400 anos. Nascido na Síria, teve de fugir da guerra e estabeleceu em Haia uma espécie de bazar.
Foi uma conversa mágica sobre como o seu ofício como designer de perfumes (ele faz algumas perguntas e cria um perfume personalizado para ti baseado em mais de 1000 aromas) está totalmente ligado a temáticas como o Storytelling e Design Thinking – Empatia, Perguntas, Prototipagem e Iteração até obter a versão final do perfume.
// CODA
Uma Gap Week é sobre Full Spectrum. Ou seja, a integração das nossas várias dimensões como Seres Humanos e a sua manifestação simultânea e orgânica. Permitindo-nos estar em Presença, ativando várias inteligências múltiplas e recursos conscientes e inconscientes.
E isso traz algo que se sobrepõe ao conhecimento e até mesmo à experiência. Traz Energia, Coragem, Curiosidade, Adaptabilidade, traz foco no Presente e dissolve hábitos, rotinas confortos e hábitos.
Como este artigo já vai longo ?, deixo apenas em formato de pontos chave os insights e aprendizagens que esta Gap Week me proporcionou:
- O poder do networking é menos importante do que o PODER DA PARTILHA CRUZADA. Estive com todas estas pessoas, não só para criar rede, mas principalmente para conhecê-las como Pessoas; foi uma semana de sonhos, vulnerabilidades e possibilidades partilhadas, onde a Evolução era o tema principal, não oportunidades de negócio;
- A CRIATIVIDADE E O DESEMPENHO são obviamente capacidades internas, mas exigem um ecossistema externo adequado para que ambas possam florescer e prosperar de forma simultânea em ambiente organizacional.
- Os PROFISSIONAIS PI-SHAPE E OS FACILITADORES/CONSULTORES colaborativos serão a melhor ponte entre Pessoas e Processos, Criatividade e Implementação, Estratégia e Operações, Líderes e Equipas, Intangíveis e Dados, Necessidades e Produtos e Serviços do Cliente;
- O PODER DOS COFFICES – se queremos diversidade, um espectro maior, divergência, temos de trabalhar, visitar, observar e estar rodeados de locais que os possam proporcionar. Para mim Coffices são cafés, salas de chá, terraços, refeitórios. São lugares onde trabalhas, observas e falas com diferentes pessoas. E que estão rodeados de sol, natureza, cultura ou ambientes musicais. Que irão desencadear as nossas múltiplas inteligências, desafiar os nossos preconceitos, fornecer exploração e feedback através da partilha, conversas, tribos e realização social.
- NAVEGAR ENTRE SERMOS MESTRES E APRENDIZES – Fui “sombra” de algumas pessoas e colegas cujo trabalho, modo de pensar e rpincípios admiro. Mas também recebi o feedback de que as pessoas também aprenderam alguma coisa. Essa partilha cruzada, onde temos a consciência, a vulnerabilidade e a abertura para dar e receber o melhor um do outro é verdadeiramente intensa, rica e impactante;
- BRINCAR AO MUNDO – Trabalho, Negócios e também Vida, História, Cultura e Geografia. Então, a Evolução é sobre Exploração e Feedback – Brincar ao Mundo;
- GRATIDÃO E SORTE – Tive a sorte de conhecer pessoas incríveis, ser recebido nas suas casas, passear nas suas bliclas e conhecer a interagir com as suas famílias e amigos, nos seus escritórios e projetos; Sou tão grato!
- FAMÍLIA – É possível ter uma “família” e sentirmo-nos em casa em qualquer parte do mundo.
E prontos, é isto! ?
Neste mundo líquido, de facto no início, nada chega. No meio nada fica. No fim nada parte. E muitas vezes, para saber qual o melhor caminho a seguir, basta apenas deixar de percorrer o atual.
Obrigado, Abraço e Cuida-te
H