A Verdade sobre os Ambientes Criativos Organizacionais

A Verdade sobre os Ambientes Criativos Organizacionais

A Verdade sobre os Ambientes Criativos Organizacionais

750 500 Hugo Gonçalves

A VERDADE SOBRE OS AMBIENTES CRIATIVOS ORGANIZACIONAIS

A criatividade é um tipo de processo de aprendizagem em que o professor e o aluno se encontram no mesmo indivíduo

Artur Koestler

Há muitos anos atrás, estava eu a iniciar o meu percurso profissional, ouvi na rádio que um conjunto de monges budistas andavam em tour pela Europa, a trabalharem no mundo corporativo para que, através das suas abordagens contemplativas e de limpeza de energias e ambientes mais carregados ? – stress, discussões, foco apenas nos objetivos descurando as Pessoas – as organizações pudessem trabalhar num registo mais equilibrado, sereno, alegre.

Naquela altura, a abordagem daquele grupo de monges era a utilização de mantras (sons), mudras (gestos) e incenso e velas “limpar” o ambiente. 

Na altura, não tendo a noção o que implicavam muitas abordagens contemplativas que hoje me acompanham, achei aquilo sábio, estranho e taralhouco. Tudo ao mesmo tempo! ?

  • Sábio porque na altura não sabia, mas já intuía que questões mais subtis ligadas à forma como corpo, mente emoções se sincronizam (ou não) tem grande impacto na forma como nos relacionamos connosco e consequentemente com os outros, em todos os contextos;
  • Estranho porque fazia-me espécie os monges estarem em modo tão corporativo ?;
  • E Taralhouco porque o objetivo final parecia apenas “limpar” o ambiente e trazer através dos monges uma maior paz, mas não se trabalhando as fontes desse mesmo ambiente – as Pessoas, as suas Interações e a sua Evolução. 

Estou a partilhar contigo este episódio por causa da forma como os Ambientes Criativos nas Organizações estão a ser pensados, desenvolvidos e implementados. E infelizmente, na grande parte dos casos, tem ainda muito a ver com decoração, espaços amplos, materiais lúdicos. Tudo isto faz parte, mas não é de todo a Essência da coisa.

Desde fins de agosto que estou envolvido num programa de desenvolvimento integrado de técnicos superiores da Administração Pública para o desenvolvimento de competências de know-how, emocionais, relacionais, de inovação e criatividade. Serão os futuros líderes na nossa Administração Pública.

A minha contribuição é num workshop sobre Ambientes Criativos. E o que descobri ao preparar esta temática e escutando as perceções dos colegas que participaram neste workshop relativamente ao tema fez-me perceber que, como quase tudo na vida, valorizamos o mais visível, imediato e criador de “abananços”, sem levar em conta se isso leva a uma efetiva transformação e evolução das Pessoas e Organizações.

No que aos Ambientes Criativos diz respeito, ainda valorizamos muito mais a embalagem do que o conteúdo.  E é nesse sentido que te apresento a minha visão sobre o que é um ambiente criativo, quais as dimensões que permitem a sua plena manifestação e que tipo de abordagens organizacionais – desde o Desenvolvimento das Pessoas, Formas de Trabalhar, etc. – permitem que possamos obter todas as mais valias de termos uma Organização e as suas Pessoas a Florescer.

Existem 4 dimensões-chave que materializam todo o potencial e resultados de um verdadeiro Ambiente Criativo nas Organizações:

PESSOAS

A Criatividade existe em todos nós, a questão é que devido à nossa educação, ficarmos adultos ?, influências e modelagens da escola, liceu, universidades e organizações, estamos sempre muito mais em contacto com as respostas, com o standard, com os processos e com a lógica. Retomar o contacto com essas competências de imaginar, questionar, implica fazermos o que denomino de Desenhar ImpactosEstrategicamente e na Prática!

Isso implica também que exista transparência, segurança, descontração para que emocionalmente, mentalmente e fisiologicamente possamos estar predispostos a navegar nos paradoxos, instabilidades, incertezas e complexidades que imaginar o menos óbvio implicam.

IMPACTOS

Aqui as palavras-chave são a estratégia e alinhamento.

Saber o porquê de estarmos a imaginar, a colocar em causa, reconhecer quem é que estamos a servir e que necessidades estamos a alimentar com os produtos e serviços potencia e motiva as pessoas para os processos mais complexos de transformação, ao mesmo tempo que dá um “salero” ? diferente às coisas mais rotineiras do dia-a-dia.

O ponto chave é, como equipa e organização, termos uma noção concreta e clara de que impactos e benefícios proporcionamos, qual o sentido de urgência de qualquer mudança ou inovação e que barreiras internas e externas poderão existir nesse caminho de evolução.

Criatividade sem Fruição/Manifestação em Valor é redutor!

PROCESSO

A Criatividade, a Inovação e o Design Thinking são abordagens bastante rigorosas nas suas etapas e fases ao mesmo tempo que são divergentes e bastante caóticas nas suas interações e “dentro” de cada uma dessas etapas. 

Nos ambientes criativos, o processo de deliberadamente incluir espaços de conversa, reflexão, exploração e ideação no dia-a-dia é fundamental. As pessoas devem também estar “equipadas” com o conhecimento e capacitação sobre como “ocorre” a Inovação e a Criatividade num ambiente corporativo, em todas as áreas funcionais.

Para isso é importante que metodologias, ferramentas, técnicas de Criatividade e Design Thinking sejam conhecidas e compreendidas por todos. É importante que papéis organizacionais como o de Facilitador, Sponsor, Champion de ideias, iniciativas, projetos existam e sejam reconhecidos formalmente na empresa.

Isto implica recursos – não diretamente associados a €€€€€, mas sim a tempo, disponibilidade mental e emocional, flexibilidade e foco.

WORKPLACE

Last but no the least, temos também questão do ecossistema físico e ambiental que também é um trigger para podermos trabalhar de forma mais criativa, focada e eficaz!

Na prática, trata-se de proporcionar através do meio físico as condições para que todas as dimensões e parâmetros apresentados nas linhas anteriores possam ter um espaço de manifestação na realidade organizacional.

Luz natural, Ar, Espaço, Organização, Limpeza são dimensões óbvias mas que em muitos casos não estão materializadas nos nossos escritórios ou postos de trabalho. A nossa “nutrição” não passa apenas pela alimentação e pelo que bebemos. Passa também pelo que absorvemos do nosso meio ambiente. Somos Pessoas Emocionais, Mentais e Físicas. Vamos trazer a potenciação dessa “fisicalidade” para os nossos ambientes criativos.

Outra coisa que potencia a manifestação de um ambiente criativo é que os espaços físicos possam proporcionar simultaneamente uma possibilidade de individuallidade e comunidade

Ou seja, que existam espaços onde alguém possa refletir, trabalhar, imaginar, escrevinhar num registo mais individual. E espaços onde a comunidade, partilha, conversas verbais e conversas visuais – esquemas, desenhos, “bonecos”, fotos – possam ser utilizados para criar uma visão comum externa de várias perceções diferentes internas

A flexibilidade dos espaços físicos é também importante. Tal como existe um tempo certo para parar, pensar, imaginar, construir, implementar, o espaço físico organizacional deve acompanhar esses momentos. A ideia é que um único espaço se possa manifestar em vários espaços, sempre potenciadores da necessidade, objetivo, equipas e dinamicas e técnicas de facilitação, criatividade ou decisão que sejam importantes utilizar

E ainda… ?

LIDERANÇA

É importante reforçar o papel das lideranças no design e prosperidade dos ambientes criativos. Criar uma visão comum sobre a importância sobre de que forma qualquer iniciativa de mudança, inovação e criatividade é importante é basilar. É aqui que “ganhamos” as pessoas. O QUÊ, PORQUÊ E PORQUÊ AGORA são questões que devem estar cristalinas e sentidas por todos.

CRIATIVIDADE ORGANIZACIONAL

Na minha cabeça, Criatividade Organizacional e Estratégia estão umbilicalmente ligadas. Porque a melhor estratégia advém da observação, do objetivo, do conhecer os locais e palcos das nossas batalhas. 

Porque implica olhar também muito para fora, nem tanto para que o que os concorrentes estão a fazer, mas sim para o que as Pessoas e Mundo estão a precisar. 

Para isso precisamos de toda a ajuda possível. As grandes ideias – para inovar e para também deixarmos de cometer os mesmos erros – vêm de muitas direções. Ou seja, de muitas pessoas, das suas experiências e perspetivas sobre o mundo. 

A Criatividade deve estar sempre ligada à perceção de negócio e mais ainda, na perceção mais próxima da realidade sobre como se manifesta o Human-Centric na tua organização e nos teus Clientes.

Para isso é importante sair da caixa e sair dos gabinetes. E partilhar com os outros tudo o que aprendemos e descobrimos.

EVOLUIR A APRENDER

Para tudo isto acontecer, temos que preparar e capacitar as nossas pessoas. Não apenas em ferramentas, técnicas e abordagens de criatividade, mas também em competências de facilitação, inteligência emocional e auto-liderança

Fazermos sessões de cross-sharing sobre como é que o meu colega faz, porque o faz, que valor entrega e que desafios possui.

Fazer uma liderança rotativa de projetos, para que todos os elementos das equipas multidisciplinares possam também ter um palco para manifestar todas as competências emocionais, relacionais e técnicas que referi. 

Acho que já está na altura de deixar de “contaminar” os Ambientes Criativos nas Organizações com o que Steve Blank denominou de Innovation Theather. Ou seja, as organizações criam as condições físicas para que possamos ter acesso a experiências diferentes do nosso dia-a-dia e realidade que estão manifestamente desenhadas para o nosso deleite, mas que em muitos casos o mindset, heartset e cultura da organização limita isto a isso mesmo – uma peça de teatro onde vemos algo a acontecer, mas de alguma forma não participamos.

Escritórios e ambientes de trabalho em modo IKEA ? não é suficiente Hugo!

Usar os ambientes criativos como “paliativo” e “escape” à pressão, desafios e desconexões entre as Pessoas, Processo, Organização, Cultura e Clientes também não.

Viver e Trabalhar num Ambiente Criativo com as características que aqui partilho implica AMOR, VERDADE E LIBERDADE:

AMOR – para que possamos PARAR, PENSAR, REFLETIR, IMAGINAR, ACREDITAR que o NOVO e diferente é possível – Evolução das Pessoas;

VERDADE – porque para isso temos que trazer ao de cima (explorar) e calibrar (através do feedback que recebemos) aquilo que manifestamos e as nossas habilidades criativas, técnicas, emocionais e relacionais. E colocar isso ao serviço da Evolução e Mudança – Inovação e Evolução da Organização;

LIBERDADE – para que as pessoas possam pisar este palco de forma segura transparente, descontraída e focada – Cultura e Formas de Trabalhar.

Obrigado, Abraço e Cuida-te,

Hugo

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