Liderança é Renovação

Liderança é Renovação

Liderança é Renovação

870 438 Hugo Gonçalves

Porque é que está aqui? O que deseja para si?” – Perguntou o Grão-mestre? “Sabedoria, Virtude, Iluminação?

Renovação” – respondeu Pierre. “Eu procuro e desejo a Renovação”.

Excerto do romance Guerra e Paz – Lev Tolstoi

 

Existem poucas dúvidas de que as solicitações a que os líderes e gestores estão sujeitos hoje em dia são esmagadoras. Horas prolongadas, decisões, negociações, tudo isto são “portagens” emocionais. Um preço que pagamos para percorrer um caminho que nos pode levar (ou não) a determinados resultados.

Se reconhecer alguns destes sinais ou contextos no seu dia-a-dia atual, pode ser interessante continuar a ler este texto:

  • “Tenho muitas atividades, responsabilidades e prioridades e não consigo decidir”;
  • “Não quero resolver estes meus problemas delegando na minha equipa, que já está ela própria carregada de trabalho”;
  • “Tendo em conta o contexto atual na organização, sinto que não é possível abrandar ou refletir de forma mais profunda”;
  • “Se não for eu a conduzir o navio, ser o vento e apontar a direção, as coisas não acontecem”;

Segundo Scott Rutherford, professor do Rotman School of Management’s, a forma como as organizações se transformam a elas próprias tem mais a ver com o que se passa “dentro da cabeça” dos líderes do que propriamente com o que se passa nas dinâmicas internas da própria organização.

Muitas organizações respondem a necessidades de performance e mudança trazendo líderes diferentes que vêm do exterior. Mas a transformação mais eficaz e suave acontece quando existe uma mudança de paradigmas e uma atualização nos líderes que já pertencem à própria empresa. É quando acontece a Renovação.

O trabalho da Renovação na Liderança consiste em ter uma atenção plena sobre quais as nossas autonecessidades, colocarmo-nos num papel de observador e praticar a metacognição – a capacidade de refletirmos sobre a nossa própria forma de pensar.

 

O Caminho para a Renovação: Mindfulness, Esperança e Compaixão

Antes de continuar e tendo em conta que estas palavras não são muito utilizadas em contexto empresarial, prometo apresentar, para aqueles que são mais objetivos e analíticos, um esquema gráfico sobre a ligação entre estas palavras relacionais e emocionais e a Liderança.

Mindfulness

Significa viver num estado de fluxo e de consciência deliberada e observação (não avaliação) de nós próprios, de outras pessoas e do contexto em que trabalhamos. Estarmos conscientes permite-nos ser consistentes, alinhados com os nossos valores e encontrar soluções para os nossos desafios profissionais que não criem fricção na nossa missão pessoal.

O Mindfulness é cultivado através de práticas e hábitos que permitem a reflexão e dedicarmo-nos a nós próprios e aos outros:

  • Estou a agir de acordo com os meus valores? E quais são esses valores?
  • Estou a ser o líder ou o profissional que aspiro ser? Como estou a lidar com os desafios que esse caminho me apresenta?
  • Como é que a minha equipa e colegas se estão a sentir? Estamos alinhados? Existem fricções?

Questões como estas permitem manter sempre um ponto de contacto com a agilidade e a mudança. Estamos mais atentos a mensagens subtis das nossas Pessoas. Como sempre temos a tendência de vermos apenas o que queremos ver, estas perguntas desmontam as ilusões.

Esperança

Este segundo elemento, permite-nos acreditar e colocar energia no futuro organizacional que desejamos, e definir quais as etapas para alcançar esse futuro. Ao mesmo tempo, inspiramos as nossas equipas, parceiros, chefias a atingirem as suas próprias metas e sonhos. A esperança e a necessidade de evolução têm um impacto positivo nos nossos cérebros e hormonas. Torna as nossas perceções mais positivas. As sensações subsequentes abrandam a respiração, baixam o nível e pressão, fortalece o sistema imunitário e ativa o sistema parassimpático que proporciona serenidade, alegria e otimismo.

E tudo isto é contagioso. E o mecanismo de coping (saber lidar da melhor forma com uma determinada situação) é muito mais consistente.

Compaixão

Será que a compaixão possui o seu lugar numa organização e ambiente de trabalho? Não a deveríamos deixar ao cuidado dos filósofos e das pessoas marcadamente espirituais?

Paradoxalmente, a compaixão é uma das nossas caraterísticas mais naturais. Porque começa pela curiosidade – sobre as outras pessoas, sobre o que as motiva e como é que o mundo fora do nosso mundo realmente funciona.

Como todos os que disfrutam da bênção da parentalidade sabem, as crianças são naturalmente curiosas. Com a idade, standards de educação e sociedade parte desta curiosidade desaparece e é substituída por uma certeza de que sabemos interpretar as outras pessoas e sabemos interpretar o mundo. E são as certezas que nos paralisam perante a mudança.

A compaixão, por definição é uma renovação da nossa curiosidade inata pelos outros e pelo mundo.

Exercer a liderança e tomar decisões implica possuir um poder – formal, emocional e psicológico – sobre muitas pessoas. E esta experiencia de poder pode ser muito solitária. Mas a compaixão nos termos em que aqui apresentada é poderosíssima. O genuíno cuidado e inclusão para com os outros torna o “líder” e o “seguidor” poderosos na mesma intensidade e valor. Aliás a melhor forma de exercer a compaixão profissional é através do Coaching – o líder suporta e acompanha as suas pessoas e equipas num processo de desenvolvimento e crescimento.

 

Viver em Verdade e sermos honestos connosco é o primeiro (e provavelmente o mais duro) passo deste caminho.

  • Através do mindfulness, aprendermos a criarmos hábitos de reflexão e escutar quer a nossa intuição quer as “pistas” que se nos apresentam à frente todos os dias.
  • Através da esperança, criamos e renovamos a energia para motivar este nosso processo e inspirar outros.
  • Através da compaixão, despertamos e fomentamos a renovação dos nossos paradigmas e a aceitação dos nossos paradoxos.

E assim, proporcionamos valor a Nós, aos Outros, à Organização que servimos e à Sociedade a que pertencemos.

Obrigado e abraço,

Hugo

P.S. Quase me esquecia, aqui está o gráfico, se ainda for importante… 🙂

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