O Design Thinking raramente é um salto gracioso para as estrelas; o Design Thinking testa nossa solidez emocional e desafia as nossas habilidades colaborativas, mas pode recompensar a persistência com resultados espetaculares
TIM BROWN
CONCEPT MANIFESTO – DESIGN THINKING PARA PESSOAS E ORGANIZAÇÕES
Este artigo é inspirado num conjunto de 3 eventos que aconteceram nos últimos dias:
- Algumas reflexões e conversas que surgiram na última sessão do WEDNESDAY WEB JAM onde design thinkers, facilitadores e agentes de mudança/inovação refletiram de forma aberta e profunda sobre a implementação do Design Thinking em ambiente corporativo, com os respetivos desafios e paradoxos;
- Um workshop sobre Criatividade que facilitei para estudantes, pessoas procurando novos papéis profissionais ou estando “between jobs”, que queriam desenvolver (descobrir) as suas competências criativas;
- Uma reunião que tive com um líder de uma entidade internacional associada à União Europeia, para inovação de organizações e ecossistemas ligados à mobilidade, que queria construir a sua proposta de valor baseada em Big Data e não nos verdadeiros Pains&Gains das suas partes interessadas, através do Design Thinking, como lhe sugeri.
Todas essas interações fizeram-me pensar sobre de que forma a Criatividade e o Design Thinking são percecionados pelos profissionais e organizações, nomeadamente a nível corporativo, como abordagem de Transformação, Inovação e Desenvolvimento Organizacional, de Pessoas, para além de produtos e serviços.
E pareceu-me interessante, tal como já fiz para o Coaching, criar um Concept Manifesto para o Design Thinking. ?
Um Concept Manifesto é uma declaração pública de um determinado propósito e/ou intenção. Destina-se a inspirar todos os que criem rapport com essa mensagem – clientes, utilizadores, colaboradores, gestores, líderes, atuais e futuros. Algo que é inegociável num manifesto é a autenticidade.
Esta é a minha visão pessoal, mas transmissível. ?
O QUE É O DESIGN THINKING (DT)?
É uma abordagem lógica e estruturada, mas baseada na curiosidade, criatividade, contexto, no papel das emoções e aspirações, caos, ambiguidade e no menos óbvio, sempre com o Ser Humano como Foco.
Assenta num conjunto de etapas e ferramentas que têm por objetivo imaginar, desenvolver, experimentar e implementar novas realidades, ideias, produtos, serviços e quaisquer outras necessidades que o Cliente ou a Sociedade (por isso o Design Thinking é Human Centric) possam almejar ou necessitar.
Existem vários modelos associados ao Design Thinking. Apresento as fases e um dos modelos que representa as etapas fundamentais:
- Definição de Sentido de Urgência e Propósito;
- Imersão e Interpretação em todo o Ecossistema dos mesmos;
- Geração de Ideias;
- Experimentação | Prototipagem;
- Implementação e Evolução!
QUAL A PERTINÊNCIA DO DESIGN THINKING NO AGORA… E PARA O FUTURO?
Para além do impacto e ondas de choque, criados pelos Mundos VUCA (externo) e BANI (interno) e que estão a atingir os profissionais e organizações, cada vez o lucro com propósito, a criação de soluções e impactos que realmente possam dar resposta aos pains&gains das pessoas e proporcionar uma resposta às suas necessidades e aspirações, através de produtos, serviços, iniciativas e interações nunca se tornou tão importante.
EXPRESSÕES-CHAVE DO DESIGN THINKING? (a minha escolha pessoal e certamente faltam algumas)
Cocriação, human-centric, iteração, helicóptero, divergente-convergente, empatia, imersão, ideias, protótipos, experiências, visual, comum, equipa, multidisciplinar, multi-competências, personas, proposta de valor, descontração, foco, criação, implementação, ambiguidade, otimismo, erro.
DESIGN THINKING É SÓ CRIATIVIDADE, GERAÇÃO DE IDEIAS E “VIPES”?
De todo! O Design Thinking é uma das abordagens mais rigorosas que conheço, com fases bem estruturadas e definidas, mas onde em cada uma das fases existe bastante exploração, divergência e liberdade orgânica.
É uma filosofia que abraça simultaneamente o caos e ordem, e também “mete a colher” em dimensões como a engenharia, gestão de projetos, modelo de negócios, proposta de valor etc. Utiliza os princípios da criatividade para poder aportar as melhores soluções para cada uma destas dimensões.
É também uma abordagem de execução e implementação.
QUAIS SÃO ESSES PRINCÍPIOS DA CRIATIVIDADE?
Bem, existem vários, mas eu destaco os seguintes:
- ASSOCIAÇÃO – estabelecer ligações entre questões, problemas ou ideias de campos não relacionados;
- QUESTIONAMENTO – fazer perguntas que desafiam a sabedoria comum;
- OBSERVAÇÃO – escrutinar o comportamento dos clientes, fornecedores e concorrentes para identificar novas formas de fazer as coisas;
- NETWORKING – conhecer pessoas com ideias e perspetivas diferentes;
- EXPERIMENTAÇÃO – construir experiências interativas e provocar respostas pouco ortodoxas para ver que insights emergem;
- Tudo isto alimentado por uma genuína CURIOSIDADE pelas Pessoas e pelo Mundo.
EM QUE CONTEXTOS PODE SER UTILIZADO NAS ORGANIZAÇÕES?
O Design Thinking pode ser utilizado para processos de inovação e criação de novos produtos e serviços para os clientes e sociedade, mas também para todos os contextos que impliquem a necessidade de se criarem formas diferentes de trabalhar e abordar problemas e oportunidades no próprio contexto organizacional.
É SÓ TER IDEIAS E DEPOIS PASSAMOS A BOLA À ENGENHARIA, PROCESSOS, PROJETOS, MKT?
Nada disso, o Design Thinking ou algumas das suas abordagens acompanham, complementam e materializam outros processos e dimensões do negócio. A montante e a jusante.
O ponto de partida é sempre o mesmo, tem que existir um propósito e sentido de urgência. Depois é uma questão de se criarem os melhores roadmaps e escolher as melhores ferramentas que nos poderão levar às melhores questões, melhores possibilidades e cenários e só depois estamos preparados para as melhores ideias e podemos desenhar a melhor implementação.
QUEM DEVE ESTAR ENVOLVIDO? OS 720º
Uma das palavras-chave é cocriação por isto as equipas multidisciplinares são um pressuposto inegociável (para mim) num processo de Design Thinking.
Internamente, estão presentes representantes de todas as hierarquias e funções da organização para que a integração, partilha de experiências e fracassos e formas de ver um determinado problema ou oportunidade possam de facto ser manifestados.
Por outro lado, essa equipa interna deve interagir de forma direta ou indireta com os (possíveis) utilizadores, beneficiários dessas soluções, para perceber quais são as necessidades, aspirações e pains&gains, e a partir desse trabalho de empatia, humildade e genuína curiosidade, termos acesso aos fatores críticos de sucesso e requisitos que os nossos produtos, serviços e formas de trabalhar devem alimentar.
DESIGN THINKING É “APENAS” POST-ITS E CANVAS?
Só não, também ?!
A questão das ferramentas, dinâmicas, templates e canvas está bastante vincada no Design Thinking por forma a materializar o pensamento visual, as emoções, e proporcionar uma manifestação de todas as nossas inteligências múltiplas, através da escrita, cinestesia, organização espacial de ideias, a execução de atividade hands-on – construção de mapas mentais “analógicos”, protótipos low-fi etc. Mas tão ou mais importantes que os post-its e canvas são as conversas profundas, focadas, ricas que surgem das atividades e informação materializadas através dos post-its, atividades e dinâmicas.
DESIGN THINKING É A SOLUÇÃO PARA TUDO?
Claro que não. ?
Vejo o DT como sendo uma forma de se pensar, transformar e inovar no seio de uma organização, mas como sempre digo, para o Desenvolvimento Organizacional são necessárias competências técnicas, relacionais e emocionais.
O Coaching e outras abordagens de desenvolvimento das Pessoas traz para o DT a habilidade de sabermos criar e colocar questões abertas, utilizar a escuta ativa.
A Inteligência Emocional é também uma boa ajuda, pois neste processo temos que desapegar dos nossos julgamentos e da atração natural pelas nossas próprias ideias ao mesmo tempo que é importante reconhecermos qual o contexto das pessoas que estão à nossa frente e a partir daí calibrar as nossas interações e formas de comunicar.
As metodologias Agile são um ótimo complemento para o Design Thinking, pois permitem implementar de forma iterativa, fluída e com uma comunicação colaborativas todas as atividades necessárias para se transformarem as ideias e conceitos em algo que possa ser “entregue” a um utilizador ou cliente.
GANHOS PARA UMA ORGANIZAÇÃO ATRAVÉS DO DESIGN THINKING?
Uns amigos da PwC, através da sua divisão de Analysis & Futuring, definiram um modelo bem catita – principalmente ao nível impacto e resultados. Eles cunharam o ROX3 – Return of Experience, baseado nos pilares Liderança, Colaboradores e Clientes. Ou seja…. PESSOAS! ?
Escrevi sobre isto há alguns meses atrás, aqui está a minha visão do tema ROX3.
Nesse sentido, o DT é um dos melhores vasos comunicantes e filosofia para materializar esta abordagem.
Ou seja, através do desenvolvimento de Lideranças Evolutivas, foco no desenvolvimento dos colaboradores e gestores como sendo consultores colaborativos que trabalham em formato de projetos e consórcios e estando sempre com as antenas ligadas sobre o que se passa na cabeça e coração dos Clientes e do Mundo, conseguimos como Profissionais e Organizações, a alinhar a nossa frequência cardíaca e ritmo de respiração com a das Pessoas e do Mundo.
COMO É QUE O DESIGN THINKING SUPORTA TRANSFORMAÇÃO ORGANIZACIONAL?
Ehehehe, essa é fácil. ?
São as Pessoas e a sua dimensão emocional, psicológica, de cocriação que definem o resultado de um processo de Mudança Organizacional.
A Transformação Organizacional é algo que acontece uma pessoa de cada vez!
Quando falamos em Transformação Organizacional, isto significa nada menos do que alterações fundamentais em:
- Mudanças Fundamentais na Visão e Propósito
- Forma de Interagir com Clientes
- Competências Técnicas, Relacionais e Emocionais das Pessoas
- Como os Produtos e Serviços criam Impactos e Soluções
- “Terramoto” nos Mercados, Tendências, Tecnologias, Pains&Gains
O DT, juntamente com o Coaching e o Agile, permite unir os seguintes contextos:
- Pessoas que têm uma ótima energia, vontade de aprender e de fazer as coisas acontecer, mas os processos, liderança, cultura e tecnologia não acompanham e potenciam essa riqueza;
- Processos, metodologias e tecnologias state of the art, mas que não proporcionam a potencial riqueza e valor porque a sua contextualização e envolvimento com as Pessoas não é realizada, criando assim muitos anticorpos.
DESIGN THINKING E ENGENHARIA ORGANIZACIONAL (EO) – QUAL A LIGAÇÃO?
TOTAL! ?
A ENGENHARIA ORGANIZACIONAL® é a minha visão de um roteiro integrador para o desenvolvimento de Pessoas, Organizações, Cultura e Ecossistemas de Negócios.
Funciona como um propulsor para a identificação de oportunidades ou desafios, que por sua vez são triggers para novas ideias ou projetos de desenvolvimento do Capital Humano e Inovação Organizacional.
Uma das dimensões chave da EO é o BUSINESS TRANSFORMATION, que implica saber navegar em qualquer contexto que implique uma reflexão e trabalho multidisciplinares para resolver problemas, identificar oportunidades, criar produtos, trabalhar na nossa proposta de valor e desenvolvimento de clientes ou simplesmente imaginar como se pode trabalhar melhor.
O Design Thinking serve tanto para criar algo de novo, para melhorar, como também para demolir o que já foi construído e respetivos paradigmas. Busca os vazios e ausências para permitir a conceção de uma nova presença.
Que todas as Pessoas e Organizações possam ser Designers do seu Futuro!
Abraço e Cuida-te, Hugo