DEVAGAR E WELLNESS PROFISSIONAL ?
Por isso, na era da aceleração, nada é mais emocionante do que ir devagar. E na era da distração, nada é mais luxuoso do que prestar atenção. E na era do movimento constante nada é mais urgente do que nos sentarmos imóveis.
Pico Iyer
Gosto muito desta citação de Pico Iyer, com a qual ele termina uma fantástica TED Talk sobre a Arte da Quietude.
Nestes tempos da Lava e do Mundo Líquido, tal aspiração parece paradoxal e até meia taralhouca. ? Mas o Wellness Profissional tem a ver com Desfrutar e Sentir… Devagar.
Estamos sujeitos profissionalmente e a nível pessoal a vários estímulos, pressões, fontes de stress e “choques” que nos mostram a real Verdade das nossas vidas, coração e mente.
Muitos colegas e clientes dizem-me que sentem que esta fase está a “desmascarar” os seus verdadeiros recursos (conscientes e até há pouco inconscientes) e as gaps/crenças/apegos que anda existem neles.
Fico feliz quando escuto essa clarividência manifestada em palavras. Compreendendo claro o desafiante que é sentir isso – como é óbvio isso também se manifesta em mim. ?
Esse reality check multidimensional leva a que a nossa própria mente e algumas sensações nos façam sentir que estamos dentro de um acelerador de partículas no CERN. ?
Essa aceleração interna aparenta ser superior ao próprio ritmo do Mundo, do trabalho, das solicitações, da transformação e evolução. Achamos que o Mundo anda louco e sem controlo, mas quem está na máquina de lavar interna (em modo de centrifugação) somos nós. ?
Tenho tido oportunidade nos últimos meses de detetar um padrão, nos workshops e projetos que realizo.
Os profissionais, gestores e líderes estão a ter a consciência que perderam a capacidade de desfrutar, degustar ou de estarem presentes no aqui e agora do seu dia-a-dia profissional.
Essa situação faz com que as atividades e decisões passem a ser ainda mais reativas. E baseiam-se no querer “libertar” o mais rapidamente possível o desconforto de algumas emoções associadas a um determinado contexto.
Em vez de serem propriamente desenhadas e escolhidas para conseguirem ser eficazes em resolver um determinado problema ou aproveitar alguma oportunidade.
Outros, pelo contrário, procrastinam nas decisões e atividades importantes. Aqui posso dizer por experiência própria que essa abordagem é como encher um balão sem parar…. até rebentar ?
Cada vez mais me é transmitida a ideia de que se comunica muito, mas conversa-se muito pouco sobre os temas importantes e impactantes.
Quando falo em Conversar, a nível das organizações, falo da abordagem social onde o assunto é o trabalho, as aspirações do negócio e a vontade de criar os melhores Impactos e Soluções.
Falo daquela sensação de podermos expressar aquilo que sentimos e a forma como vemos as coisas e saber argumentar o nosso ponto de vista.
Ao mesmo tempo sentimo-nos também interessados e curiosos no ponto de vista dos outros sobre o mesmo assunto e ficarmos encantados com a riqueza que isso nos proporciona.
Tal como de um jogo se tratasse, onde podemos desbloquear um bónus no nosso próprio crescimento que nos torna mais fortes, ágeis, completos.
Sentimos que estamos num comboio em andamento e que não é possível sair deste ciclo, mas sim, é possível.
Porque os comboios param em vários sítios, podemos decidir qual o destino para onde ir, podemos apanhar o comboio de regresso se nos “enganarmos” no destino e mesmo que não apanhemos o comboio hoje, uma coisa espetacular é que os horários amanhã serão os mesmos e fica apenas do nosso lado a decisão de entrar ou não.
Talvez influenciado pelo misto de sensações e contextos que eu próprio estou a viver, pela necessidade de colocar-me no papel de observador, de ser curioso Comigo e com as Pessoas, Organizações e o Mundo que continua a existir e que é muito mais rico do que aquele que nos é transmitido pela televisão e redes sociais, a minha proposta é que eu e tu possamos:
Trabalhar, Liderar, Gerir…. Devagar ?
A palavra Devagar não tem a ver com velocidade, mas com Foco e Presença.
Utilizo-a tendo em conta a importância de estar presentes num formato de multi competência que nos é pedido, mas onde é importante que a execução seja realizada em monotarefa.
Devagar significa também observar, estar curioso, ser um flaneur que passeia e um dandy que opina e desenvolve reflexões.
Devagar significa também aceitar que muitas das nossas tarefas, atividades, decisões profissionais e organizacionais demoram o seu tempo a proporcionar os resultados que esperamos.
Devagar significa perceber que transformação organizacional é muito mais que do que a parte digital. A transformação só “termina” quando cada um daqueles que está envolvido a conseguir aceitar no contexto das suas emoções, aspirações e crenças.
Devagar é jogar o Jogo Infinito, questionando quais são as “Causas Justas” do teu trabalho, organização, produtos e serviços.
Ou se quiseres, que de forma dás resposta à questão “O que necessitam as nossas Pessoas”? (clientes, utilizadores, beneficiários, colaboradores).
Devagar é conheceres como líder e gestor as competências técnicas, emocionais e relacionais dos teus colegas e equipas. E ires ainda mais à frente e identificares, através da curiosidade e espírito de empatia, outras que nem eles mesmos conseguem ter a perceção.
Devagar é utilizar a estratégia não como um processo, mas sim como uma forma de colocares as pessoas a conversarem, ao mesmo tempo, sobre o que é importante alcançar e sobre qual o caminho a seguir.
Devagar é conseguires ter a noção de quando é para agir e quando é para recarregar baterias. De quando deves ser teimos@ ou quando eventualmente escolher outro caminho.
Devagar significa envolveres-te naquilo que é necessário para Evoluir – procurar realidades laterais à tua, ou seja, Explorar novas opções, por muito exóticas que pareçam, e interagir para poderes receber Feedback.
Devagar significa largar o “busyness”. É uma expressão que uso quando deteto que grande parte das atividades que às vezes realizamos são para mostrar que estamos a fazer algo, independentemente se é ou não importante. Devagar significa interagires com as Pessoas através das Questões, que são a melhor fonte de boas decisões e de ideias e formas diferentes de atuar.
Tal como existe o Slow Food, Slow Living, eu sou fã do Slow Working. ?
Tento dentro do possível demarcar tempos de trabalho em cliente, para pesquisar e estudar, para escrever os artigos, para caminhar e exercício, para vaguear sem destino ou objetivo ou apenas para não fazer nada, pois ajuda a regenerar. Nem sempre o consigo, mas sinto visceralmente a sua importância e impacto na minha vida.
Não planeio quando esse tempo deve existir, mas sim qual a sua “quantidade”. Vou iterando regularmente para perceber quais destas dimensões necessitam mais do meu compromisso e energia.
Liderar, Gerir, Trabalhar Devagar é então termos o talento, foco, resiliência e teimosia ? de conseguirmos colocar em prática estas 8 dimensões de Wellness Profissional, de Liderança e Gestão. Que ao contrário do habitualmente comunicado, tocam quer o intangível e subtil como as questões mais práticas e mundanas da Vida – incluindo o Trabalho.
Então…
- Define o que significa para ti a nível Profissional cada uma destas dimensões de Wellness;
- Como é que estas se manifestam? Quais aquelas que ainda não têm espaço, palco ou voz?
- O que terás de fazer em cada uma delas para atingires um Equilíbrio e Conexão? Com as tuas Aspirações e Valores que energizam o que o trabalho significa para ti?
O Trabalho e as Organizações não são apenas uma das dimensões estanques da nossa vida, são antes um dos Palcos onde podemos Viver aquilo que Aspiramos. Wellness Profissional ? Full Spectrum
Obrigado, Abraço e Cuida-te
Hugo
