IR EMBORA – “Desistir” ou Completar Ciclos Profissionais

IR EMBORA – “Desistir” ou Completar Ciclos Profissionais

IR EMBORA – “Desistir” ou Completar Ciclos Profissionais

509 338 Hugo Gonçalves

Saber desistir. Ir Embora ou Ficar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiante em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir o jogo

CLARICE LISPECTOR

COMPLETAR CICLOS PROFISSIONAIS

Estando o “mundo” do trabalho alinhado com a forma como o resto do Mundo está a funcionar – complexo, disruptivo, não linear e volátil – cada vez mais a fluidez de oportunidades para os líderes, managers e profissionais torna-se uma variável de oportunidade/risco para as organizações.

Great Resignation e Quiet Quitting são expressões que dão nome a movimentos que refletem a necessidade de evolução, respeito, equilíbrio por parte dos profissionais.

Estamos a viver de facto uma impermanência organizacional. Que não passa apenas pela transformação e interpretação do que as Pessoas e Mundo necessitam, mas também por essa tal fluidez de aspirações, necessidades e desenvolvimento profissional que todos nós estamos à procura.

Após uma breve pesquisa sobre esta temática, encontrei outros “movimentos” associados:

LOUD LEAVING – Como resposta ao quiet quitting, os líderes e managers das empresas saem da empresa a horas razoáveis. Com esse gesto passam uma mensagem “ensurdecedora” para os seus colaboradores sobre a necessidade e a capacidade de podermos trabalhar com foco e equilíbrio;

QUIET CONSTRAINT – Semelhante ao quiet quitting, mas já com décadas e séculos de existência e impactos. ? Trata-se da ocultação consciente e deliberada de informação, recursos e decisões que têm impacto na performance dos colegas, líderes e equipas.

CAREER CUSHING – Trata-se de manter ativos planos B, C, D… Z a nível profissional, mesmo quando as pessoas se sentem realizadas e alinhadas com a sua atual função e organização. Mantêm-se permanentemente à procura de novas oportunidades, são ativas na sua “presença” e às vezes nem tanto contributo ? no LinkedIn e é desafiante estarem “enraizad@s” e a desfrutar da situação atual.

Mais pesquisas eu fizesse e mais termos deste género iria encontrar. ?

  // IR EMBORA

Este artigo será mais sobre refletir e lançar perguntas do que propriamente partilha de abordagens, soluções ou respostas.

Porque de facto o que está a acontecer é que estamos a querer “Ir Embora”, o que quer que isso signifique em termos profissionais e organizacionais.

Posso querer ir embora:

  • Do tipo de trabalho que estou a fazer neste momento;
  • Da área de negócio onde trabalho;
  • Das temáticas e conhecimento que até agora me apaixonavam e motivavam;
  • Da equipa onde estou, apesar de querer ficar na organização;
  • D@ líder que tenho;
  • Da organização, ponto!
  • Até conheço algumas pessoas que querem ir embora dos seus clientes. ?

O Ir Embora é sempre um tema delicado e com uma abordagem e impactos muito pessoais e customizados. 

Outro dia apareceu-me à frente um artigo do CONSCIOUS LEADERSHIP GROUP, onde o seu cofundador Jim Dethmer partilha algo que me parece muito importante:

Que o “Ir Embora” tem sempre duas dimensões – “Desistir” ou “Completar”.

Confesso que fiquei intrigado, talvez por não me fazer muito sentido a nível racional, mas ressoar de forma curiosa nos restantes 2 cérebros. ?

Tendo um amigo que estava a pensar em sair da sua atual organização, o Jim perguntou-lhe se ele estava a desistir ou completar. O amigo, intrigado, respondeu que não estava a ver qual a diferença. E o nosso amigo Jim, de uma forma que considero bastante sábia sai-se com esta:

“Da minha perspetiva, ambas são uma forma de trazer finalização a esta tua etapa profissional. Mas elas são animadas de energias diferentes, e podem trazer resultados e aprendizagens diferentes também.

Quando estamos a desistir, estamos a ir embora quando ainda não completamos algum tipo de trabalho, processo, integração ou aprendizagem profissional e pessoal. Basicamente, estamos a sair mais cedo da aula onde era suposto aprendermos algo. ?

Ainda segundo o Jim:

“…eu ‘Completo’ o processo quando essa integração e aprendizagem acontecem, o que leva a uma evolução e transformação das nossas competências emocionais, relacionais e profissionais.

// COMPLETAR OU DESISTIR – NAVEGAR NA AMBIGUIDADE

Dito assim parece fácil, e obviamente existem bastante viés, experiências, crenças e afins que tornam desafiante sermos ao mesmo tempo observador(a) o observad@ nestas situações.

Daí que podemos utilizar as questões como sendo filtros e critérios para podermos navegar nesse continuum simultâneo do tempo e espaço. ?

COMPROMISSOS – CUMPRISTE COM OS QUE ASSUMISTE E/OU RESOLVESTE OS QUE QUEBRASTE?

Todas as relações profissionais são basicamente consensos e compromissos – Quem, O Quê, Quando, Como. Estes podem ser tácitos ou não verbalizados (normalmente chamamos a isto expetativas).


Se nos comprometemos a realizar uma determinada tarefa, ter uma conversa, a dar o melhor para obter determinado resultado e assim não o fazemos, estamos de alguma forma a quebrar um compromisso. 

Da mesma forma, se @ teu/tua líder ou colega assume a responsabilidade de fazer/partilhar/proporcionar algo e assim não acontece, também aqui um compromisso está a ser quebrado. 

E quando não assumimos quando estes compromissos da nossa responsabilidade não foram respeitados, a integração, aprendizagem, a evolução não surge. Logo não estamos a completar.

PARTILHA – COMUNICASTE AOS OUTROS O QUE É IMPORTANTE PARA TI?

‍Um sinal relevante de que estamos a desistir é quando ainda estamos ou saímos das situações profissionais com coisas por dizer, ou com meias-verdades.

É importante que, de forma respeitosa, assertiva e transparente, possamos partilhar o que estamos a sentir relativamente a algum compromisso, expetativas não cumpridos ou relativamente a alguma evolução ou aspiração que neste momento não está a ser alimentada na função ou organização atual.


Completar significa dar voz a essas necessidades
!

Não é sobre estarmos certos e os outros errados. É um ato de alguma vulnerabilidade que obviamente o “outro lado” pode não saber respeitar, valorizar e compreender. 

Já sei que comunicar desta forma transparente é uma atividade de risco nas organizações. ? Mas os resultados e outcomes de não o fazermos estão perfeitamente documentados e já certamente foste impactad@ profissionalmente por isto.

PARTILHA – ESCUTASTE OS OUTROS?

Normalmente quando queremos ir embora temos os nossos níveis de escuta ativa na reserva. ?

Pode já existir um desgaste, podemos já estar fechados de coração e mente relativamente ao feedback e argumentos. E estando assim fechados, os parâmetros do completar – integrar, aprender, evoluir, reconhecer – ficam algo inertes.

Por isso para além de ser fundamental expressar a nossa verdade e como nos sentimos, é também super-relevante darmos aos outros a oportunidade de fazerem o mesmo.

SENTIR

‍Todo este processo parece espetacular e verdadeiro, mas pode causar algumas mossas. Porque muitas vezes queremos ir embora porque “simplesmente” não gostamos da forma como a situação nos faz sentir. E falo sentir mesmo de forma somática e vívida.

Mas se não existir espaço e tempo para essas emoções se manifestarem, em desafios profissionais e com líderes, equipas, clientes, colegas futuros, alguns triggers poderão ser desencadeados, mesmo que o contexto seja completamente diferente.

QUEM SÃO OS “CULPADOS” DA SITUAÇÃO?‍

Completar em vez de desistir é baseado no pressuposto que somos corresponsáveis (na grande parte dos casos com algumas exceções claras) pelo contexto e realidade que queremos abandonar.

Muitas vezes a responsabilização apenas focada nos outros cria uma espécie de “acumulação”. Esta não permite que a consciência do que é importante e de como podemos agir de forma diferente no futuro se torne claro e se integrem n@ profissional que somos.

A responsabilização apenas focada em nós (culpa ?) também leva aos mesmos resultados. É importante sermos honestos com a situação e as nossas responsabilidades, mas isso também é importante que seja feito com bondade. Responsabilização interna sem bondade interna é um mau negócio, acredita.

E torna difusas as coisas que nesta fase é importante que possamos reconhecer, compreender e aceitar em nós.

OLHAR DE FRENTE

Quando algum contexto traz ao de cima as nossas crenças, limitações, outras más experiências profissionais, claro que é desconfortável e pode dar grande vontade de nos pirarmos dali para fora. ?

As nossas sombras profissionais manifestam-se, sendo que para mim sombras são aquelas coisas que ainda não conhecemos sobre nós próprios ou aquelas coisas menos boas que recusamos aceitar em nós próprios.

Estar no registo de completar é permitirmo-nos aceitar que somos imperfeitos, que somos vulneráveis, que existem coisas que profissionalmente ainda mexem connosco ou podem evoluir.

RECEBESTE O QUE PROCURAVAS?

‍Completar envolve refletirmos sobre o porquê de nos termos juntado ao atual compromisso profissional e se aquilo que esperávamos receber surgiu ou não

Se, com as expetativas devidamente balizadas, não estou a receber as evoluções e recompensas emocionais, relacionais, de conhecimento e materiais que me levaram a determinado projeto, é importante reconhecer isso.

E em seguida, a reflexão pode mergulhar para um nível mais profundo, que é:

Estou à espera de que o projeto, colegas, líderes, recursos, processos, função me deem algo que só Eu como Pessoa me posso dar ou não reconheço/perceciono que já tenho essas coisas?

As palavras-chave aqui são Auto Perceção e Expetativas (Profissionais).

ENTREGASTE O QUE TE PEDIRAM?

Cada vez mais a colaboração, entreajuda e reciprocidade genuínas são fatores diferenciadores para o sucesso, sustentabilidade e capacidade de evolução dos profissionais e organizações.

Falamos da importância do fluxo natural de dar e receber em contextos mais pessoais e existenciais, mas os processos, projetos, resultados, impactos, sucessos mais robustos e saudáveis, com lucro com propósito, alimentam-se também desta abordagem, mesmo no mais áspero e competitivo negócio. ?

Conseguiste contribuir da melhor forma? A organização, os colegas, os clientes, de alguma forma foram impactados positivamente pela tua contribuição e forma de relacionar?

Quando damos o nosso melhor de forma proativa e orgânica, é uma sensação espetacular. Termos a hipótese de trabalhar em estado de fluxo, foco, motivação é uma forma de manifestação de Quem Somos no que Fazemos! E com isso, temos a nossa Auto Liderança profissional ativada. E assim torna-se claro o que necessitamos para estar em foco, sucesso, plenitude profissionais.

// CODA

Saber se aprendemos o que determinado contexto profissional nos traz é a verdadeira recompensa deste processo.

Estamos mais completos e evolutiv@s quando reconhecemos o que determinado desafio que já não me faz sentido nos ensinou.

E que tipo de competências, consciência, recursos e estratégias irei usar para poder escolher, fazer, comunicar, decidir de forma benéfica para mim e para os outros nos próximos projetos profissionais!

Claro que não existe apenas Desistir OU Completar. Como tudo na vida, apesar da nossa vontade em querer tornar as coisas lineares e sequenciais ?, isto funciona como um continuum.

Quando de facto conseguimos Completar, significa que recebemos todos os presentes que a situação estava lá para nos dar. Aprendemos todas as lições e fomos moldados pela experiência para uma versão mais completa de nós mesmos!

Isso traz uma nova perspectiva sobre nós próprios e o ecossistema profissional que nos rodeia e se já não existir alinhamento e ressonância, de coração leve e curiosos com o futuro vamos em busca dos nossos novos desafios profissionais. ?

Obrigado, Abraço e Fica Bem,

H

P.S. BOM ANO! Que 2023 e anos seguintes te tragam tudo o que queres e precisas, a nível pessoal e profissional! ?

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