“O SUFICIENTE” – O Novo KPI Organizacional

“O SUFICIENTE” – O Novo KPI Organizacional

1920 1280 Hugo Gonçalves

Fazer o que é útil, dizer o que é corajoso, contemplar o que é belo: isso é suficiente para a vida de um homem.

THOMAS STEARNS ELIOT

As duas últimas semanas têm-me trazido alguns “espelhos” e episódios sobre uma temática que estou a explorar e eventualmente a redescobrir o seu impacto, na minha vida pessoal e profissional.

Vamos lá por partes então:

ESPELHO 1

Estive a realizar mais um workshop de Design Thinking para a Humanização dos Cuidados/Experiência do Paciente num grande hospital na zona do Porto.

Com um grupo multidisciplinar, exploramos quais as 8 dimensões da experiência humana do paciente e lá seguimos, usando casos reais e concretos, o percurso do Design Thinking até à parte da Ideação e Seleção das melhores ideias e conceitos.

Ao fim de um certo tempo tornou-se evidente que os desafios desta equipa não dependiam apenas de uma questão de recursos – Pessoas, Tempo, Materiais (sendo que mais uma vez tive consciência do estado “algo debilitado” ☹ dos nossos sistemas de saúde).

A principal consciência foi que as equipas multidisciplinares não param, não reconhecem e compreendem o que as várias funções fazem, e como devem ser “alimentadas” para poderem funcionar bem e que valor devem entregar para que as outras áreas possam trabalhar bem.

A verdadeira necessidade aqui identificada é que as pessoas, áreas, processos tenham o tempo e espaço suficientes para poderem reconhecer o que as Pessoas e Mundo necessitam.


E com essa perspectiva avaliar o que é importante manter, começar a fazer e deixar de fazer internamente, sincronizar talentos, competências e agendas e com isso ter um plano de ação ágil e alinhado à criação de valor e não às tarefas, regras e procedimentos só porque sim! ?

Desejam então viver a Inovação e Desenvolvimento Organizacional, através de uma genuína curiosidade pelos Outros e as suas aspirações, as necessidades funcionais, emocionais e relacionais dos seus pacientes, clientes e utilizadores.

ESPELHO 2

Uns dias mais tarde, numa empresa super “fresca” e com vontade de fazer acontecer, ligada às consolidações de crédito e literacia financeira, o meu contributo era facilitar um processo algo diferente.

Ali existe energia, ideias, ferramentas, possibilidades, motivação a rodos ? e o que me foi pedido foi para “calibrar e sincronizar” ritmos.

E proporcionar ferramentas para que, desde a identificação de oportunidade e valor, perspectivar futuros e possíveis caminhos e definir os pontos chave de uma cultura ágil, mas integradora da participação de todos, possa existir uma estrela do Norte (ou várias) a trazer clareza e critério para se escolher as batalhas certas e as ideias que nos deixam corajosos para avançar em qualquer contexto.

Aquelas equipas procuravam encontrar o que é suficiente para poderem calibrar e otimizar todo o seu capital de conhecimento e experiência e saber parar e escolher os melhores caminhos.

Ou seja, uma Cultura e Fluxos de Trabalho que permita a sincronização adequada entre competências, prioridades, objetivos, projetos, performance e cultura.

ESPELHO 3

Quase no fim desses dias de apneia profissional ?, trabalhei com a equipa de uma empresa de sistemas de pagamento, que será responsável pela implementação e facilitação de um projeto piloto interno de uma nova metodologia de VALUE DISCOVERY & VALUE DELIVERY (onde tive a oportunidade e felicidade de contribuir no design da mesma) de forma a se conseguir estabelecer uma ligação orgânica e covalente entre CLIENTE, NEGÓCIO, DESIGN de PRODUTO, DESENVOLVIMENTO/PROJETO e OPERAÇÕES.

Trata-se de capacitar estes colegas com as ferramentas técnicas, relacionais e emocionais que lhes irão permitir transitar para um papel de “consultores e facilitadores internos” multidisciplinares.

O foco então é tornar visível para eles o que já está claro e visível para mim.

Que a sua energia, motivação, percurso e propósito que os levou a criar esta forma de trabalhar full-spectrum é suficiente. Para eles poderem, com alguma orientação, ter com os restantes colegas o papel de facilitadores e “extratores” da inteligência e criatividade colaborativa desta organização.

Como Pessoas e Profissionais, manifesta-se através da genuína aceitação de serem @s especialistas na sua própria organização, trabalho e negócio.

Bem Hugo temos aqui um padrão. ?

O tema que quero explorar é sobre a importância de sabermos definir o que é SUFICIENTE para cada uma das nossas dimensões profissionais e organizacionais.

Para que possamos ter PERFORMANCE – fazer o que tem de ser feito, otimizando recursos, potenciando as competências e motivações inatas individuais e sincronizando-as de forma colaborativa.

Então, “O SUFICIENTE” é na minha visão um bom KPI (KEY PURPOSE INTEGRATOR). ?

Assim à primeira vista, parece uma afirmação fracturante, mas permite-me expandir este raciocínio. ?

O “SUFICIENTE” OU A SATISFACIÊNCIA

As abordagens contemporâneas da abundância material, picos experienciais e afins construíram uma “necessidade” de mais, de crescer apenas porque sim.

Nada é suficiente, nada é adequado para sempre, nada nos consegue alimentar e nutrir de forma constante.

A Satisfaciênciaa capacidade de encontrar a solução, quantidade, métrica de sucesso pessoal e profissional que te permite ser eficaz, eficiente e deixar-te preenchido é um caminho menos explorado, pelo menos a nível corporativo.

É conhecer o teu “isto é Suficiente para Eu estar Realizado”.

Quando for clarividente para ti o que é para ti a Satisfaciência, começarás imediatamente a encontrar a Abundância.

AS DIMENSÕES DO “SUFICENTE”

Considero que somos seres ilimitados nas nossas competências, possibilidades e ideias, mas temos em alguns casos contextos limitados – tempo, recursos, energia e foco!

Estes dias são a prova provada que existindo um sentido de urgência comum, conseguimos auto organizarmo-nos de forma relativamente rápida. E que basta funcionar e criar impacto, não tem de ser perfeito, completamente estruturado e regulado. 

Exige confiança e alinhamento mútuos!

Ou seja, isto é tão esquisito e fascinante ao mesmo tempo – o caos parece que permite a criação orgânica das melhores estruturas.

Esta forma de evoluir dá-nos acesso ao que é Adequado – outra forma de definir Satisfaciência:

SABER O QUE NOS ANIMA – 80/20

Saber o que nos faz mover, quais as nossas competências e necessidades inatas e reconhecer o que realmente é importante, principalmente em momentos de caos e incerteza traz uma clareza importante. A de saber como e para onde direcionar o nosso foco e energia.

Esse reconhecimento e consciência permite que possamos então estabelecer os nossos…

CRITÉRIOS DE SUCESSO

Sabendo o que é importante, conseguimos então filtrar os eventos, mudanças, alterações, atividades, projetos, iniciativas, decisões e ações através destes critérios. Relativamente ao que que significa o nosso sucesso profissional individual e colaborativo. tendo em conta as dinâmicas externas à organização e tendo em conta a evolução, crescimento e aspirações das nossas pessoas no âmbito da organização. Isso traz também a consciência de…

SABER O QUE É NOSSO E O QUE É DOS OUTROS

Aqui refiro-me a podermos mais facilmente dizer sim ou não. A conseguirmos ter a nossa Autoliderança ativada no sentido de reconhecer e dar o nosso melhor para sermos eficazes e eficientes no nosso próprio radar de responsabilidade (saber o que depende de mim) e podermos também influenciar quem nos rodeia.

PODER TRABALHAR EM FORMATO ”CAMINHO” EM VEZ DE OBJETIVOS

Sendo o mundo uma “entidade” que anda a viver tempos dinâmicos, polarizados e voláteis, cada vez mais a reorganização constante dos nossos recursos, decisões, formas de trabalhar e entregáveis será a melhor forma de dar a resposta adequada para se conseguir criar Impactos e Valor às Pessoas e Mundo.

Isto implica agora, no presente, imaginar cenários, possibilidades, riscos, distopias e utopias e desses insights. E adaptar o “agora” da organização e capacitar as pessoas para os eventuais futuros – capacitação de know-how, relacional, emocional.

Tudo isso traz uma sensação e poder Profissional e Organizacional de…

LIBERDADE E ESCOLHA

Saber o que é adequado e suficiente é uma porta aberta para a abundância. Assim temos a liberdade de assumir as responsabilidades e compromissos que são relevantes. Para poderes criar valor no teu trabalho, com as tuas equipas e colegas.

Conseguimos assim talvez melhorar a nossa Produtividade Pessoal e Profissiona. Melhor estimar tempos, sincronizar as tarefas com os nossos ritmos e com os timings das pessoas que necessitam dos outputs do nosso trabalho.

Ficamos também com a liberdade de aceitar que não podemos ir a todas. Que faz sentido pedir ajudar e delegar, que eventualmente é interessante existir uma equipa multidisciplinar a imaginar os possíveis caminhos e cenários e a partir desse consenso e alinhamento, mas facilmente conseguimos otimizar o nosso trabalho.

“O SUFICIENTE” COMO KPI – (KEY PURPOSE INTEGRADOR)

Apontar para crescer só porque sim é um mecanismo perigoso. Bastante mesmo!

Ter a Satisfaciência como “KPI” (da forma como aqui está definido) mantém a organização honesta relativamente às suas competências e recursos.

Permite aos LÍDERES poderem avaliar sobre como é que o que acontece “lá fora”. E o que se imagina que possam ser possibilidades de evoluir “internas” se podem sincronizar.

Faz com que possam desenhar a sua equipa, dimensionar os recursos não através do foco na tarefa, mas conectando-se com valor.

Permite potenciar a experiência, conhecimento, ideias e habilidades inatas das Pessoas da organização de forma onde estas estejam no “sítio” certo.

Com isso as EQUIPAS sentem-se mais motivadas e alinhadas, conseguindo sincronizar em conjunto o que podem ser prioridades ou abordagens adequadas que permitem que cada um possa, de uma forma mais individual, otimizar o seu trabalho sem colocar em causa o trabalho dos outros.

Isto leva a FLUXOS DE TRABALHO, COMUNICAÇÃO, COLABORAÇÃO E PRODUTIVIDADE mais eficazes. Não pela existência de melhores e mais recursos, mas sim pela presença de um maior alinhamento, colaboração, decisões e critérios que promovem fluxo e eficácia no dia-a-dia.

CODA

A lógica diz-nos que para conseguirmos acompanhar o ritmo do Mundo, temos de acelerar. Eu acredito que é possível termos o livre-arbítrio de definir qual o ritmo pelo qual queremos trabalhar, viver, interagir.

Isso pode implicar decisões “exóticas”, mas reais – eu próprio já tive algumas destas e já vi alguns líderes e organizações a seguirem por esse caminho:

Escolher ganhar “apenas” (+ 7) e com isso proporcionar Equilíbrio, Performance, Responsabilização em vez de tentar ganhar (+ 20) e com isso agir com os objetivos como fins independentemente dos meios, o lucro à custa de uma cultura saudável e a transformação das Pessoas e do seu talento e contribuição em números e engrenagens. Que mais tarde nos faz perder (– 40).

Claro que esta perspetiva “herege” ? de atingir a Satisfaciência é algo complicado de integrar. Tendo em conta a forma como o nosso mundo profissional e organizacional está desenhado e se manifesta.

E pede que possas utilizar, de forma mais consciente e integrada as seguintes inteligências e “dimensões”:

MENTE – trata de imaginar o futuro, explorar o presente e ecossistemas, definir prioridades e alinhar as competências e talentos próprios e dos outros para se trilhar o melhor caminho;

CORAÇÃO – é sobre sentirmos a firmeza, vontade, energia para aceitarmos “enfrentar” da melhor forma possível os desafios e aproveitar entusiasticamente as oportunidades;

CORPO – anima o dar forma, o executar, iterar com foco e agilidade simultâneos.

e verás que será Suficiente! ?

Obrigado, Abraço e Fica Bem!

H

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