Como está a tua Bateria Social?

Como está a tua Bateria Social?

1920 1358 Hugo Gonçalves

Transformamo-nos em nós mesmos através dos outros

LEV SEMENOVICH VYGOTSKY

IDENTIFICAR E GERIR A TUA BATERIA SOCIAL = EFICÁCIA PROFISSIONAL

Na semana passada, no intervalo da tarde de um projeto que estava a realizar, a disposição e alegria de todos era evidente. 

Eu estava a sentir que estava a conseguir trabalhar bem com a equipa, eles estavam super participativos e a mergulhar de forma profunda nas temáticas e atividades práticas, e respetiva partilha de insights.

Nessa pausa, as conversas fluíam entre as temáticas do trabalho conjunto (no âmbito de um programa de liderança evolutiva), passando sobre como isso se repercutia no dia-a-dia, até à partilha de experiências, sugestões e boas práticas, e foi giro ver que os desafios de uns se sincronizavam com as boas práticas e bons conselhos de outros.

Apesar de tudo isto, senti uma enorme necessidade de estar só. E de forma furtiva, afastei-me um pouco e fui dar um bom passeio num jardim próximo.

Estando eu supersatisfeito e tendo o grupo muito boa onda, mesmo assim eu sentia-me drenado. Devido a várias situações pessoais e profissionais que se sincronizaram nas últimas semanas, algumas rotinas e escapadinhas de autocuidado e regeneração ficaram “penduradas”. E estava a notar isso.

Naquele momento, o que me estava a ser pedido por todas as fibras do meu coração, mente e corpo era ar fresco, caminhar, natureza, ritmo lento, pé no chão. E assim fiz, reclamando de novo para mim alguns momentos de quietude.

Pois a minha bateria social necessitava de ser recarregada.


Muita da informação sobre a energia ou bateria social está alinhadas por vieses e mitos urbanos que, se levados à letra, criam um retrato nada fiel da forma como as pessoas “são” ou sobre como “interagem”.

Sendo as organizações um dos palcos de interação social por excelência – os nossos valores, fatores de motivação, emoções, pensamentos que permitem a navegação entre o Eu (Profissional), o Nós (Equipas e Organização) e o Todos (Clientes e partes interessadas) manifestam-se ali, a forma como interagimos possui um papel crucial na nossa performance profissional.

Mas nem todos estamos equipados com o mesmo tipo de bateria e energia social e ainda bem!

Precisamos de vários tipos de perfil, de focos, de ritmos, de prioridades nas organizações. O DISC explica isso muito bem, nomeadamente na forma como identifica de forma bastante competente fatores de desenvolvimento de recursos e competências, e estilos e oportunidades de melhoria nas interações de comunicação e estabelecimento de parcerias.

Algumas pessoas prosperam em sessões colaborativas de brainstorming, eventos de networking e atividades de vínculo e alinhamento organizacional. Outras vivenciam estes momentos como sendo um dreno por onde a sua energia se esvai e florescem na calma, tranquilidade e num registo mais individual.

Acho que posso afirmar que a energia que alimenta os caminhos que uma organização toma e manifesta – liderança, cultura, processos, produtos, serviços, recursos, prioridades e cenas do género – pode ser definida por:

  • A Bateria Social das suas Pessoas;
  • A forma como os níveis e tipos dessas energias são deliberadamente liderados e geridos, no sentido de criar o melhor equilíbrio, ao mesmo tempo potenciado a produtividade e eficácia.

A BATERIA SOCIAL

A Bateria Social é a tua capacidade finita de te envolveres em interações sociais. É uma metáfora que representa os recursos emocionais, mentais e fisiológicos que se entrelaçam e criam a tua resposta ao convívio com os outros.

No contexto profissional, assim como uma bateria alimenta um dispositivo, a tua bateria social alimenta o ritmo e intensidade necessários para te conectares e interagires com outras pessoas durante o dia de trabalho.

Algumas dimensões organizacionais que são impactadas pela tua bateria social:

PRODUTIVIDADE – A tua bateria social afeta diretamente a tua capacidade de te focares, envolveres, analisares, executares as tuas próprias tarefas e a eficácia na comunicação e colaboração com os outros. Quando a tua bateria social está carregada de forma adequada, trazes a jogo o teu melhor para essas interações.


BEM ESTAR PESSOAL
– Ao compreenderes como funciona a tua bateria social – qual os tipos de energia, como e onde as recarregar, qual a quantidade a alocar a cada contexto, mais facilmente consegues introduzir e criar hábitos de autocuidado e regeneração.


CULTURA ORGANIZACIONAL INCLUSIVA
– Ao reconhecer que as pessoas têm necessidades e limites diferentes quando se trata de interações sociais, podemos criar uma cultura que valoriza e acomoda essas diferenças, fazendo com que os colaboradores se sintam valorizados e principalmente respeitados. Isto leva a uma maior motivação intrínseca.

FATORES QUE INFLUENCIAM OS NÍVEIS DA BATERIA SOCIAL (NUMA ORGANIZAÇÃO)

Os teus níveis da bateria social podem ser impactados por uma variedade de fatores, e cada um destes “consome” a energia de formas e com velocidades diferentes.

Os primeiros fatores a considerar são a Introversão e Extroversão. Introversão e Extroversão são temperamentos e caraterísticas que fazem parte da nossa personalidade. A característica chave que distingue os dois tem a ver com a forma como se “gasta” energia e como “cria” energia.

Os introvertidos gastam muita energia durante as interações sociais e precisam de tempo sozinhos para se recarregarem, enquanto os extrovertidos ganham energia ao socializar e prosperam em ambientes de grupo, enquanto num contexto mais isolado estão sujeitos a um maior desgaste.

INTROVERTIDOS

Os introvertidos tendem a extrair energia de dentro de si mesmos e, muitas vezes, as interações sociais profissionais podem ser algo drenantes. Eles normalmente necessitam de mais tempo consigo mesmos para poderem recarregar a sua bateria social em contexto de trabalho. Algumas formas sobre como a Introversão pode influenciar a bateria social:

  • Drenagem social – Os introvertidos podem sentir-se esgotados depois de passarem algum tempo em ambientes sociais dinâmicos, como reuniões, especialmente em ambientes maiores e com muita gente;
  • Necessidade de estar sozinho (não propriamente de solidão e não querer desfrutar dos outros). Os introvertidos recuperam energia envolvendo-se em atividades mais individuais – os Momentos do Artista como eu lhes chamo e para quem conhece o livro sabe do que falo ?- processando com tranquilidade os seus pensamentos e emoções;
  • Conexões profundas – Os introvertidos geralmente priorizam interações individuais significativas ou conversas em pequenos grupos em vez de conversas superficiais ou competitivas. Eles provavelmente terão menos conversas, mas construirão uma conexão e um relacionamento mais fortes com aqueles com quem falam;
  • Socialização seletiva – Os introvertidos podem ser mais seletivos em relação às pessoas com quem passam tempo, procurando aquelas que se alinham com seus interesses e valores; (confirmo ?)
  • Observadores atentos e sistémicos – Os introvertidos tendem a observar e ouvir atentamente durante as interações sociais, recebendo informações antes de participar ativamente de discussões ou debates. E eles tendem a só contribuir se sentirem que têm algo significativo ou útil para adicionar – eles não vão falar só por falar.

EXTROVERTIDOS

Os extrovertidos, em contraste, prosperam em interações sociais, obtêm energia através da interação dinâmica com os outros e normalmente têm baterias com maior capacidade ou autonomia. ?

Colaborar, fazer brainstorming e conversar com muitas, ou todas?as pessoas numa sala ou local, faz parte do seu modus operandi:

  • Recarga social – Os extrovertidos sentem-se energizados em atividades sociais e na companhia dos outros;
  • Dinâmica de grupo – Os extrovertidos geralmente prosperam em ambientes sociais maiores e gostam de participar de conversas em grupo, workshops e grandes eventos de networking;
  • Estimulação externa – Os extrovertidos podem procurar fontes externas de estimulação e envolver-se em interações sociais para manter os seus níveis de energia. Não gostam de trabalhar sozinhos e procuram oportunidades para colaborar com os outros;
  • Processamento verbal – Os extrovertidos tendem a pensar em voz alta e muitas vezes preferem discutir ideias e pensamentos com os outros para ajudar a esclarecer o seu próprio pensamento;
  • Círculo social amplo – Os extrovertidos podem ter uma rede social maior e gostar de conhecer novas pessoas e expandir suas conexões. Eles tendem a conhecer muitas pessoas, e facilmente alcançam e fazem novos relacionamentos, embora normalmente não estabeleçam conexões ou vínculos tão fortes com todas.

AMBIVERTIDOS

É importante lembrar que a introversão e a extroversão existem num espectro, e que se pode exibir simultaneamente vários graus dessas características. Podemos ser ambivertidos ? (que é o meu caso).

O ambivertido é aquele que possui um equilíbrio e apresenta características de ambas. Os ambivertidos energizam-se de uma forma saudável e equilibrada em contextos sociais apenas por um período e depois necessitam do ser próprio espaço e tempo sozinhos para recarregar. O segredo para a qualidade de vida dos ambivertidos é o equilíbrio. Isso inclui respeitar os seus limites e desejos – afinal, experienciam vontades diferentes de duas “personalidades” diferentes. ?

Obviamente que outros fatores pessoais e organizacionais como a duração das interações, tamanho da equipa e colaboradores, clima organizacional, bem-estar emocional e mental da pessoa, stress, repouso e cuidado físico, desequilíbrios de poder, área de negócio e atividade etc., também impactam estas dinâmicas.

BATERIA SOCIAL ESGOTADA? ORGANIZAÇÕES ESGOTADAS!

Ignorar o esgotamento da bateria social no local de trabalho pode ter consequências negativas significativas tanto para os profissionais como para as organizações.

É crucial que líderes e managers estejam cientes da sua própria bateria social, mas também superatentos às baterias sociais das Pessoas que lideram.

O que acontece quando as energias sociais não se sincronizam ou estão esgotadas numa organização?

Diminuição da produtividade – Quando a tua bateria social se esgota, a tua capacidade de concentração e desempenho diminui. Fica mais complicado e difícil mantermo-nos focados, envolvidos, tomar decisões ou executar de forma eficaz e eficiente;

Comunicação e colaboração prejudicadas – O esgotamento da bateria social pode afetar a comunicação e a colaboração dentro das equipas. A fadiga e a irritabilidade podem dificultar uma comunicação eficaz, resultando em mal-entendidos e interpretações erradas. Quando as pessoas estão mental e emocionalmente esgotadas, podem tornar-se menos pacientes, mais propensas a convicções cegas e vieses, e menos empáticas para com os colegas.

Aumento do Stress e Burnout – Ao longo do tempo, os colaboradores que ignoram consistentemente suas necessidades de energia social podem experimentar problemas de saúde física e mental, diminuição da satisfação no trabalho e maiores taxas de absentismo e rotatividade.

Inovação e criatividade reduzidas – A inovação e a criatividade prosperam em ambientes onde se promove a colaboração e liberdade de expressão de ideias. Quando as baterias sociais se esgotam, as pessoas podem não ter a capacidade mental e emocional para pensar criativamente, imaginar perspetivas diferentes e contribuir com novas soluções.

CODA 

O ponto de partida desta primeira parte do artigo é consciência para esta temática. É criar uma espécie de estado atual. Para quase todos os fatores humanos que se manifestam numa organização, reconhecê-los e estar ciente dos seus impactos positivos e menos fixes é o que permite criar sentidos de urgência e focos que levam a ações e transformações.

Na segunda parte deste artigo, o que proponho é partilhar contigo algumas soluções individuais – métodos, ferramentas e acionáveis – que podes utilizar, no caso de vivenciares de forma mais consciente e intensa esta questão da bateria social. São estratégias para ti, para a tua Pessoa.

Mas é importante transformar as arenas corporativas. E por isso irei também continuar a fazer algumas reflexões, estendendo o âmbito desta temática para fazê-la evoluir para um fator crítico de sucesso no Desenvolvimento das Pessoas e das Organizações.

Pois considero que ainda não estamos, corporativamente, a olhar para esta temática com o cuidado devido. Pois isto impacta a liderança, o desenvolvimento das pessoas, as equipas, a cultura, os processos, os artefactos e cerimónias, as iniciativas de felicidade organizacional, team building, onboarding e exployee experience. Toca em muitos sítios e nesse sentido, deve ser vista como sendo um ecossistema.

Considero que sermos pagos para sermos nós próprios é um dos maiores objetivos profissionais que se pode ter. ?

E o melhor de tudo é que acredito convictamente que isso só iria melhorar os resultados de negócio de uma organização, desde os €€€ até à sustentabilidade e impacto social

Para isso a energia deve ser a mais genuína e as baterias podem ser mais bem estimadas

Saltar do “fazer” e passarmos mais tempo a “Ser”, em contexto corporativo! ?

Obrigado, Fica Bem e Abraço,

H

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