O Outsider Profissional (Parte 1)

O Outsider Profissional (Parte 1)

760 506 Hugo Gonçalves

Eu sou livre, não importa quais as regras que me rodeiam. Se eu as achar toleráveis, eu vou tolerá-las; se eu as achar muito desagradáveis, eu vou quebrá-las. Sou livre porque sei que só eu sou moralmente responsável por tudo o que faço.

Robert A. Heinlein

O OUTSIDER PROFISSIONAL

Considero-me um polímato, ou seja, alguém que devido à sua curiosidade vai saltitando e mergulhando de forma simultânea e complementar em várias áreas profissionais.

O meu foco é a Consciência, Transformação e Ação para profissionais e organizações.

Acredito que algumas ferramentas ou a conjugação das mesmas é a abordagem mais interessante para materializar isto. Mas também acredito que daqui a alguns anos só poderei trabalhar no meu foco com uma capacitação, competências e ferramentas diferentes. ?

E também sendo eu um fã da Integração, Ecossistemas, dos Helicópteros como sendo a melhor forma de compreender as dinâmicas e complexidades das interações entre Pessoas, Processos, Clientes, Organizações, Inovação, Cultura e Equipas, etc., tornou-se também claro que a minha especialidade é ser…

Um Outsider Profissional ?

Como assim, Hugo?

Vejo o Outsider Profissional não como alguém que necessariamente é um consultor, formador ou facilitador externo, mas sim alguém que para se realizar, necessita de ter um ambiente de exploração, observação e conversas para melhor perceber o que se passa e conseguir abordar um desafio ou oportunidade da forma mais rica e simples.

E que consiga ter um compromisso simultâneo com aquilo que é importante para si enquanto trabalha apaixonadamente e em contacto regular com outras áreas, pessoas, desafios, aprendizagens.

Como fã das caminhadas sem destino ou objetivo como abordagem de estratégia, foco e produtividade, faço a analogia que o Outsider Profissional é uma espécie de Flâneur – que significa “errante”, “vadio”, “caminhante” ou “observador”. ?

Aqui está uma ótima descrição de Charles Baudelaire:

A multidão é o seu universo, como o ar é o dos pássaros, como a água o dos peixes. A sua paixão e profissão é desposar a multidão. Para o perfeito Flâneur, para o observador apaixonado, é um imenso júbilo fixar residência no numeroso, no ondulante, no movimento, no fugidio e no infinito. Estar fora de casa, e, contudo, sentir-se em casa onde quer que se encontre; ver o mundo, estar no centro do mundo e permanecer oculto ao mundo, eis alguns dos pequenos prazeres desses espíritos independentes, apaixonados, imparciais que a linguagem não pode definir senão toscamente.

F-A-B-U-L-O-S-O! ? É mesmo isto!

Estou a ler o livro Versátil, de David Epstein, que de uma forma divertida, fluída, com histórias e exemplos concretos apresenta a importância de, como profissionais, termos hipótese e até mesmo o direito a vaguear por vários interesses, disciplinas, funções, ciências, etc.

A ideia chave, a nível da Liderança, Gestão, do Profissional e das Organizações, é que a especialização traz mais benefícios e evolução a curto prazo, mas que é a versatilidade, o saltitar entre interesses ou conjugá-los de forma simultânea que traz a realização mais plena, a experiência mais consolidada e a capacidade de agilidade e inovação mais fluída e natural. E claro, Soluções, Resultados Consistentes.

Estou totalmente de acordo.

O nosso amigo Epstein apresenta uma variável crítica para esta questão. A especialização, foco, determinação ou grit funcionam muito bem para o que ele denomina de mundos profissionais Acolhedores.

Um mundo acolhedor é onde as variáveis são estáveis, as regras bem estabelecidas e onde o famoso paradigma das 10,000 horas de especialização levam à mestria e respetivos resultados.

Mas estamos num mundo que chamarei de Exótico (o David utiliza a palavra inóspito (todos estes vulcões, lavas, disrupções são lixados, mas coloridos, intensos, cheios de vida, logo nada inóspitos).

E neste mundo, a capacidade vermos a complexidade, de identificarmos vários alvos em movimento e tomar decisões de curto prazo é o que nos vai safar.

Como Líderes, Gestores, Profissionais e Organizações o grande desafio, para além de manter uma serenidade e leveza adequadas a tudo o que estamos a viver, é arranjar tempo, foco e energia para de forma deliberada promover a diversidade de experiências, interdisciplinaridade, de pensamento e pontos de vista e o adiamento do afunilar.

O complicado disto é que o mundo continua ainda a incentivar (e cada vez mais a exigir) a hiperespecialização. O bicharoco veio trazer um sentido de urgência e uma abordagem algo diferentes, de abertura e cooperação global.

O que define o sucesso da Especialização ou da Versatilidade não é a temática ou empenho, é o Contexto.

Especialização através da repetição, foco, afunilamento numa temática específica funcionam maravilhosamente no ténis, golfe, xadrez, polícias e bombeiros, e atividades e processos altamente regulados, de escala, processuais, tecnológicos.

Mas não num mundo Exótico onde as regras são a exceção e a fluidez e o caos é que são a verdadeira regra. ?


Cada vez mais temos de aplicar os nossos recursos, skills, intuições a situações com as quais nunca lidamos. É essa a quintessência da Criatividade.

Os grandes inovadores, líderes, profissionais já não são ouriços, são raposas. ?

Chamo-lhe raposas pois observam, escutam, percorrem livremente os prados dos seus focos profissionais e visitam os bosques de outras áreas de atuação. Consomem alimento para a sua curiosidade e interesses diretos, laterais e afastados.

Procuram evidências das coisas novas que imaginam, quer essas evidências validem essas hipóteses ou as contrariem.

Vivem segundo a lei de que a amplitude e a profundidade são irmãos, não inimigos.

E assim, tal como saborear um bom vinho (no meu caso um Sumol de Ananás) ? ou como a slow food, a aprendizagem e caminhos profissionais em modo Flâneur e em slow learning tem um ritmo próprio.

Quase sempre procuramos fora de nós o mundo acolhedor pois o nosso próprio mundo interior é exótico, desafiante, complicado.

O que aqui apresento implica o contrário. Um trabalho interior fortíssimo para que a nossa própria dimensão interior seja acolhedora, segura, transparente nos recursos e gaps que temos.

E clara nos valores e como queremos viver a vida e o que é importante. E isso dá-nos coragem, leveza e confiança interiores para lidar com o mundo exótico lá fora.

O David definiu alguns ponto-chave sobre como podemos cultivar de forma deliberada esta inversão de performance – de especialistas para outsiders/flâneurs profissionais – e esta inversão dos mundos – cultivar o acolhimento dentro para olharmos de frente para o que se passa lá fora:

  • Aprende, expõe-te de forma versátil e ampla, a temáticas que sejam completamente diferentes e não relacionadas à tua experiência atual e especialização;
  • Permite-te dar tempo para aprenderes, saboreares, escolheres e customizares. Pois por muito pateta que isto pareça, só o slow growth consegue lidar com o caos disruptivo e imediato na parte profissional;
  • O mundo fora do teu é a melhor inspiração para resolveres os problemas específicos do teu mundo. As analogias são das melhores aprendizagens;
  • Expõe-te à diversidade de pessoas, pois a evolução vem da experimentação e feedbacks múltiplos;
  • No que à tua função, responsabilidades, equipa, processos, negócio, clientes, etc., avalia o que pertence ao mundo acolhedor e o que está alojado no mundo exótico. Decide e age em conformidade.

Na segunda parte deste artigo vou apresentar exemplos concretos, possibilidades e que metodologias poderão ser interessantes utilizar para materializar isto.

Quer a Amplitude quer a Especialização são necessárias para a realização e progresso humano. A Amplitude é aquela que está mais bem posicionada para esta era do Caos, da Lava, do Vulcão, do Limbo. Pelo menos para a compreender e para definir o que é importante decidir e fazer AGORA.

Portanto, um Outsider Profissional é um viajante, ponto. ?

Como disse Érico Veríssimo,

Na minha opinião existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar.

 Eu já ando farto de fugir. E tu? ?

Abraço e Cuida-te!

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