Sorria, respire e vá devagar.
THICH NHAT HANH
Durante as ultimas semanas estive sujeito a alguma pressão e desgaste profissional. Viagens de avião, comboio e carro. Reuniões, formações, sessões de coaching, palestras para equipas de alto rendimento foram a minha constante desde meados de Janeiro. Só Negócios!
E sentindo-me imensamente grato por toda esta abundância a nível de trabalho, quer pelas oportunidades e quer pelos resultados, cá dentro comecei a sentir-me cada vez mais invadido por um sentimento de que estava a desviar-me de um caminho, que tinha que fincar outra vez as minhas raízes num solo de equilíbrio.
Senti que precisava de abrandar.
E então surgiu a oportunidade de o fazer. Surgiu o adiamento de um projeto que me permitiu libertar 3 dias seguidos.
Com esta introdução pretendo apenas contextualizar o artigo de hoje. A inspiração surgiu desta minha experiência pessoal e da leitura de um livro de Thich Nhat Hanh intitulado “A Arte do Poder”. Muito bem escrito e com contextos de aplicação muito concretos, entre os quais o trabalho e as empresas.
Um dos capítulos deste livro chama-se “Cuidar dos Não-Negócios”. Na mouche!
Os negócios não podem existir sem os não-negócios. Nós como seres humanos somos únicos, mas precisamos de tudo o que não é humano para sobreviver e prosperar. Ar, água, minerais, vegetais, sol, etc. permitem que sejamos funcionais em corpo, mente e até mesmo alma.
Nesse sentido, também as empresas e os negócios precisam de tudo o que é não empresa para poderem existir e evoluir. O nosso bem-estar, a nossa capacidade de sorrir, descansar e respirar de forma correta, bem como a nossa capacidade de cuidarmos de forma emocional e material da nossa família, entes queridos e amigos são verdadeiros pilares que impactam a produtividade e eficácia.
A noção do inter-ser – somos indivíduos e como tal só fazemos sentido através da harmonia entre a nossa individualidade e a interação com os outros – também se aplica de às organizações.
Práticas de desenvolvimento pessoal como a respiração, a escuta, a atenção e o caminhar que podem ser plasmadas por si e pelos seus colegas, no seu contexto de trabalho.
Uma empresa é uma comunidade. Todas as comunidades suportam-se por um foco num bem maior e na distribuição de recursos, talentos e atitudes pelos desafios adequados. E isso implica uma cultura de respeito, de escuta, de comunicação, de transparência e verdade. E não é assim tão complexo de implementar. Por exemplo numa reunião, a forma de falar, ouvir, sorrir e escutar faz toda a diferença.
E sendo o Ser Humano uma “tecnologia” bastante complexa, a minha visão (e confesso que nem sempre consigo dar o meu melhor para ser fiel a ela) é que se o trabalho é uma das várias facetas da nossa vida e que traz ao de cima as nossas competências e sabedoria (experiência aplicada), não faz sentido que por causa do trabalho tenhamos muitas vezes que ser pessoas diferentes.
Outro dia escutava um colega meu espanhol, que num seminário falava sobre o sucesso e felicidade. Achei a definição dele tão simples, mas tão válida:
SUCESSO consiste em obter o que é desejado. FELICIDADE é disfrutar o que você obtém. O SUCESSO real é alcançar seus OBJETIVOS sem sacrificar seus PRINCÍPIOS!
Então, porque é que é importante construir um sistema que possa suportar e cuidar dos nossos não-negócios?
Numa breve pesquisa sobre as tendências do futuro, encontrei alguns resultados curiosos:
- Limites da Razão – cada vez mais as posições/opiniões estão a tender para extremos – polarização está cada vez mais vincada;
- Mind the Gap – O fosso da iniquidade vai aumentar;
- Ligação Corpo | Mente – Um número cada vez mais crescente de organizações irão desenvolver programas e sistemas que sustentem os não-negócios;
- Wellness 3.0: Os programas Wellness das organizações irão passar de sistemas paliativos para algo mais dedicado a serem catalisadores de profissionais saudáveis em todo o contexto da palavra, bem como tendo impacto as suas famílias e comunidade;
Um caminho menos percorrido
Se este poderá ser o nosso futuro, será que a nossa forma de trabalhar está alinhada?
E que tal experimentássemos utilizar meio-dia por semana para cuidarmos das nossas organizações e negócios cuidando dos não-negócios? Para estarmos aptos a lidar com estes desafios, potenciando a consistência do presente?
Aqui vão as minhas sugestões (atividades individuais ou em conjunto com os seus colegas e parceiros):
- Levar os filhos para o local de trabalho quando possível;
- Visitas a fábricas, empresas, startups, laboratórios e universidades que não tenham nada a ver com os nossos negócios;
- Fazer reuniões regulares em museus, centros culturais, ciência, etc.;
- Caminhadas pela praia ou pelos parques;
- Criar trilhos, passadiços, caminhos dentro do perímetro exterior de uma fábrica (tenho visto bastantes exemplos e funciona muito bem);
- Walking Meetings – caminhar enquanto se trata de um assunto mais estratégico ou relacional;
- Arranjar uma mascote – algumas organizações adotaram animais de estimação que “geram” sentimentos de empatia e bem-estar;
- Promover quando possível o trabalho remoto;
- Desenhar os horários das funções tendo em conta as responsabilidades, resultados, competências técnicas e relacionais necessárias;
- Trabalhar por projetos e atualizar os ambientes colaborativos de trabalho e de tecnologia para esse fim;
- Promover a Gig Economy dentro das próprias organizações – freelancers intra;
- Patrocinar atividades e workshops totalmente fora do âmbito da organização e área de negócio – culinária, pintura, escultura, etc.;
Todos estes momentos materializam a prática da atenção, da escuta, da respiração e da caminhada. São precisos hábitos e rotinas para dominarmos a arte de conseguirmos viver com atenção no momento presente.
Só essa capacidade nos poderá ajudar a acompanhar estes tempos voláteis.
E a estar preparados para o que quer que seja o Futuro.
Obrigado e Abraço,
Hugo