A grande questão é a seguinte:
Neste momento da nossa evolução como espécie e tendo em conta o mundo que nos rodeia, é muito complicado o botão vermelho das nossas emoções mais primitivas ser apenas gerido por uma parte no nosso cérebro.
Foi assim que terminei a primeira parte desta “saga”, como uma amiga minha lhe chamou. 🙂
Todos nós escutamos desde muito novos e ainda nos dias de hoje a expressão:
Controla-te, não te deixes dominar pelas emoções
E é este o ponto de partida desta batalha. Um jogo de forças e contrapoderes que gira à volta do controlo e da recompensa de obtermos o que desejamos agora e a qualquer custo e a moderação e consciência de olhar as coisas de uma forma mais global e estratégica e simplesmente dizer não ou tomar as melhores decisões.
Todas as organizações possuem regras não escritas bastante explícitas e poderosas.
As perceções dominam os factos. O “Achismo” torna-se em evidências e em factos. E quanto mais depressa um líder ou gestor que abraça um projeto e responsabilidade novos conseguir perceber e alinhar com essas “regras”, menos “problemas” vai ter.
Pode de facto ter uma vida mais descansada, mas a organização vai sofrer danos irreparáveis com essa abordagem.
Manter e deixar andar ou desconstruir para criar algo novo, robusto e ágil. Um eterno desafio.
A batalha final são as tensões entre as nossas áreas cerebrais e respetivos circuitos que se encontram numa zona pré-frontal (atrás da testa) e a nossa amígdala. A luta entre o Ego ou a Identidade, como Freud diria.
Os circuitos pré-frontais funcionam como o centro executivo de aquisição e interpretação de dados, bem como centro de decisão. Quando no seu melhor, somos “mágicos” a nível da lógica, estrutura e até bom senso. Logo somos mais ágeis e concretos nas decisões e ações.
A amígdala possui uma localização privilegiada no nosso cérebro. A função principal é captar sinais e tomar aquelas decisões apresentadas anteriormente – lutar, fugir, congelar. A questão é que essas decisões primárias despoletadas por estes circuitos mais impulsivos tomam a nossa parte lógica e emocional como reféns.
O resultado disso é ficarmos zangados, com medo ou procurando rapidamente mecanismos de compensação, controlo e prazer.
Um dos sinais onde rapidamente se percebe que formos “raptados” pela amígdala é quando fazemos ou dizemos algo do qual nos arrependemos logo no momento a seguir.
O Processo
Este rapto não é assim tão óbvio e imediato. Um exemplo é quando temos divergências com os nossos líderes, pares ou equipas e que estas se mantêm ao longo do tempo e aparentemente não podemos fazer nada. Todos os dias são desgastantes. Nesse caso, a nossa estratégia é fazer adaptações parciais, segurar frustrações e lidar com níveis massivos de hormonas de stress como o cortisol (esta hormona é fantástica quando em doses equilibradas).
Estas hormonas de stress vão fazer um crédito! Ou seja, pedem energia emprestada a outras reservas biológicas e fisiológicas que temos como por exemplo o sistema imunitário. E assim se explica que em fases de maior desgaste, stress, desafios que são difíceis de ultrapassar nos tornamos muito suscetíveis a qualquer agressão como uma constipação, etc.
Um dos maiores indicadores de maturidade enquanto profissionais é conseguirmos aumentar o gap entre o impulso e ação. Chama-se a esta habilidade a inteligência emocional – auto consciência, auto regulação, motivação para interagir melhor com os outros, empatia e desenvoltura social.
Assim, como decisores e influenciadores, conseguirmos identificar e aceitar internamente os impulsos e emoções mais reativas e focar na eficácia das decisões e não na eficiência em apagar fogos é crucial!
Com a calma, vem a Clarividência.
A Mudança
O fantástico é que todas estas competências podem ser aprendidas, trabalhadas e desenvolvidas. Eu acredito até que elas apenas precisam de ser recordadas, pois todos nós já possuímos muito daquilo que achamos precisar.
Não é necessário ficarmos à mercê das nossas amígdalas. Algumas abordagens interessantes como a meditação, atividade física, descansar, não fazer nada, criar momentos programados de paragem, fazer de propósito coisas aborrecidas, permitem que nos tornemos competentes a identificar quando é que esses impulsos vão surgir….
Trabalhamos a Atenção Plena! E isso dá-nos tempo para podermos fazer uma escolha interna. Dá-nos liberdade!
E isto faz toda a diferença. Promove abertura, que as conversas seja concretas e objetivas e não vagas e com segundas agendas. Permite clareza. E a clareza é uma das fontes de energia mais fortes para a mudança.
E o alinhamento é uma consequência e não um objetivo dessa “Franqueza Organizacional” – ver o artigo “Radical Candor” ou a Sinceridade nas Organizações
Mas só isto não chega para as Organizações atingirem o pináculo – o alinhamento perfeito entre os Objetivos Organizacionais e os Colaboradores. Este processo terá que ser mesmo isso, um processo. Com fases divergentes e convergentes, cabeça no ar e pés no chão, com energia positiva mas também com conversas e difíceis.
Diria que o próximo desafio para as Organizações será algo “espiritual”:
Viver em Verdade!
As que o conseguirem fazer vão sem dúvida ganhar a batalha!
Obrigado e Abraço,
Hugo