“Radical Candor” ou a Sinceridade nas Organizações

“Radical Candor” ou a Sinceridade nas Organizações

“Radical Candor” ou a Sinceridade nas Organizações

638 359 Hugo Gonçalves

Jessep (Jack Nicholson): You want answers?

Kaffee (Tom Cruise): I think I’m entitled to them.

Jessep: You want answers?

Kaffee: I want the truth!

Jessep: You can’t handle the truth!

Para quem quiser ver a cena originalhttps://www.youtube.com/watch?v=9FnO3igOkOk

 

Esta é uma das minhas cenas de cinema favoritas. E é através dela que defino o mote para este artigo. A Sinceridade e a forma como nós, como líderes, gestores e em interações em equipa, conseguimos lidar com ela e até mesmo potenciá-la em benefício das nossas organizações.

Mas é muito mais fácil falar do que aplicar e principalmente vivenciar. A Sinceridade é um dos mais fortes paradoxos do ser humano:

  • Desejamos sempre ser respeitados através da sinceridade;
  • Quando recebemos feedback interpretamos sempre (e em alguns casos com razão) como sendo acusação, manipulação, desvalorização.

Por isso, todos temos direto à sinceridade (como o Tom Cruise) mas nem todos temos arcaboiço para lidar com ela (como indica Jack Nicholson).

E esta quebra na interação promove a taxa de sobrevivência de problemas e erros. Não queremos ferir suscetibilidades. E recebemos o “karma” de termos que lidar com dessincronizações e má performance. Porque às vezes não sabermos conversar com a(s) pessoa(s) e as suas respetivas emoções e personalidade, de forma a tornar visível situações que são contraproducentes.

Imagine a sua organização, colegas, líderes e equipas. Imagine que todos os contextos apenas comentados em surdina eram discutidos de forma aberta por todos os envolvidos.

Imagine que toda a gente dava a sua opinião sincera. O que lhe vem à ideia? Caos? Desgaste? Ou algo mais positivo? (acrescente aqui mentalmente o que poderia ser)….

 

Radical Candor ou a Sinceridade nas Organizações

Vagueando na Amazon, encontrei um título denominado “Radical Candor”.

Candor significa Sinceridade, ou seja a qualidade que temos em sermos honestos e abertos no nosso feedback e interação com outros.

 

A autora do livro, Kim Scott, que já passou pela Google e Apple, define Radical Candor como a capacidade que temos de “Desafiar Diretamente” ao mesmo tempo que demonstramos mostrar uma verdadeira “Empatia Pessoal”. Em termos práticos, estamos a falar de sermos diretos mas ao mesmo tempo preocuparmo-nos de forma sincera com a pessoa a quem damos feedback.

Desafiar de Forma aberta e sincera é um comportamento antinatural. Sempre nos foi dito – “se não tens nada de bom para dizer, é melhor ficares calado”. Mas quando um gestor ou profissional de repente se torna um líder, está impossibilitado de continuar a colocar em prática esta crença.

Outra aprendizagem que nos é passada é que temos que ser sempre profissionais em contexto de trabalho. Eu acredito que temos que ser Pessoas em contexto profissional e trazer todo o nosso arsenal de inteligências múltiplas para essa batalha. A Empatia, Escuta Ativa bem como a Energia, a Motivação, Auto-Liderança e Destreza Relacional com os Outros.

Kim Scott define Obnoxious Aggression™ como sendo a atitude de desafiar sem se importar com a pessoa que está à nossa frente. Como exemplos, mais práticos eu diria que isto acontece quando damos elogios quando não são sinceros ou criticamos de uma forma agressiva e pouco educada.

Ruinous Empathy™ é o que eu denomino como sendo a “falsa bondade” nas organizações. Acontece quando nos interessamos genuinamente pelas pessoas, mas precisamente por causa disso não as desafiamos e não damos feedback sobre comportamentos e performances que podem ser melhoradas.

Manipulative Insincerity™ é o que acontece quando não nos interessamos nem desafiamos as pessoas e os contextos. É basicamente focarmo-nos apenas em nós próprios e viver apenas segundo uma agenda pessoal de maximização de ganhos e desvios de danos colaterais.

 

Desafiar as Pessoas

Uma organização são Pessoas. Ponto. Tudo o que surge são derivados ou subprodutos – processos, recursos, produtos e serviços. Os líderes que ao dia de hoje estão a conseguir fazer crescer e manter os seus negócios sustentáveis e human-friendly são aqueles que conseguem estabelecer, gerir e formatar uma honesta ligação relacional com os seus colaboradores e parceiros. São genuínos, interessam-se e são pessoas confiáveis.

Apesar disso, um estudo do Edelman’s Trust Barometer revela que, apesar de a integridade ser o valor que os colaboradores mais valorizam nos seus líderes, apenas 25% das pessoas reconhece essa caraterística nas pessoas que decidem e influenciam as suas organizações.

O feedback honesto é a energia essencial para uma melhor gestão e liderança.

Mas o feedback honesto é um desafio complicado! Apresentar oportunidades de melhoria ou propostas de mudança nem sempre é bem interpretado. Requer que os recetores possuam também uma inteligência emocional bem desenvolvida.

Desafiar as Pessoas é a melhor forma de as ajudar a melhorar. Pois o ponto de partida – identificação dos reais problemas – torna-se real e visível. Só conseguimos encontrar as soluções para os problemas que são analisados e trabalhados de forma aberta e sincera.

Viver em Verdade liberta. Quais serão os sonhos e possibilidade que ficarão quando a neblina do politicamente correto e do paternalismo se ausentar da sua organização?

Sermos capazes de discordar porque nos interessamos pelos outros é o melhor sinal de respeito que podemos mostrar.

Abraço e Obrigado,

Hugo

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