A incerteza dos acontecimentos é sempre mais difícil de suportar do que o próprio acontecimento.
Jean Massillon
Aos dias de hoje, considero que a palavra Mudança é curta para representar os nossos desafios como profissionais e organizações. Assim irei escrever sobre a INCERTEZA.
A Incerteza é um dos pilares do VUCA (volatility, uncertainty, complexity and ambiguity). E é neste VU(l)CA(o) que hoje em dia vivemos, a todos os níveis.
Como sempre aqui neste blog, foquemo-nos nas Pessoas e Organizações. Todos nós já sentimos o VUCA na nossa vida:
volatility | VOLATILIDADE – Alguma boa prática que está definida que rapidamente desaparece como standard ou guideline devido ao não alinhamento das equipas e incoerência das lideranças;
uncertainty | UNCERTAINTY – Como serão áreas de negócio daqui a 5 anos? Que tecnologias irão vingar? Que evoluções irão existir na saúde, farmacêuticas, comunicações? E nas relações humanas, na política e na sociedade? Tudo o que possamos projetar é apenas isso – expetativa ou sonho.
complexity | COMPLEXIDADE – cada vez mais produtos e serviços são disponibilizados aos clientes e utilizadores através do que denomino de “consórcios” – uma APP, por exemplo precisa de programadores, developers de UX (user experience), gestores de projetos, marketing…. de empresas diferentes. A mesma situação ocorre para os automóveis, retalho, utilities.
ambiguity | AMBIGUIDADE – Aqui já estamos a viver um presente algo complicado de gerir. Como se pode criar alinhamento onde pessoas, negócios, serviços, produtos são vistos, percecionados e utilizados por diferentes pessoas? Smartphone, Online News, Facebook? Bom ou Mau? Se é bom, porque é que estamos a entrar em modo “cyborg” – os equipamentos começam interagir connosco de uma forma quase humana e dedicamos-lhe mais atenção do que a pessoas e conversas reais? Se é mau, porque é que existem mais de 2 biliões de utilizadores de redes sociais?
Sendo engenheiro de formação, mas não tendo exercido a atividade da forma mais tradicional, é com alguma relutância e com um pedido antecipado de desculpas que vou propor uma “equação” para podermos criar um fio condutor para lidar com o VUCA e de facto conseguirmos ser os nossos próprios líderes e gestores da Mudança numa organização:
Y = f (x)
MUDANÇA EFICAZ = f (VISÃO, COMPETÊNCIAS, SENTIDO DE URGÊNCIA, RECURSOS, PLANO DE AÇÃO)
Hein? 🙂
VISÃO PARTILHADA – Esta fase dedica-se a construir uma visão partilhada não só do futuro, mas também do presente e do contexto de experiências passadas onde as empresas não realizaram um processo de fecho e de lições aprendidas, devidamente documentadas.
Na prática, aqui estamos a falar de situações onde antes de sabermos qual poderá ser o caminho (inovação, transformação, etc.) é necessário assegurar que o básico – boas práticas, comunicação interna, abertura para troca de ideias e divergências profissionais – está consolidado. Para 95% das organizações inovar (e com muitos ganhos e resultados) será “apenas” implementarem no dia-a-dia aquilo que está estruturado em fluxogramas, listas de distribuição e matrizes de responsabilidade de forma consistente.
COMPETÊNCIAS – Reflita no conceito dos profissionais generalistas/especialistas ou dos profissionais π Shaped (ver link). Profissionais e colaboradores π shaped possuem uma base técnica e emocional bem consolidada. Isto implica que sejam ambidextros a nível mental – lógicos + criativos, objetivos + relacionais. São profissionais que possuem uma forte especialização não em um mas em dois ou mais domínios – técnicos, lógicos, criativos e até mesmo emocionais. Competências Emocionais, Relacionais, Técnicas e de Curiosidade procuram-se!
SENTIDO DE URGÊNCIA – O sentido de urgência é um dos maiores inspiradores da evolução organizacional. Não significa trabalhar de forma urgente, a apagar fogos. Nada disso. Significa sermos inquietos, termos curiosidade de explorar ainda mais as nossas capacidades e encararmos as ameaças e problemas como desafios.
Como se fosse um jogo. Apesar de estar muito na moda, o Gamification já existe há milhares de anos. Jogos de poder, sedução, guerra, não faltam na nossa História. 🙂
É absolutamente crítico que todos na organização estejam em modo de “Atenção Plena” – identificar as Grandes Oportunidades. Este sentido de urgência começa e acaba na gestão de topo. Deve ser comunicada – “transmitida de forma a que seja compreendida” para toda a organização através da informalidade da interação e da coerência dos comportamentos.
RECURSOS – O artigo já está a começar a ficar um pouco longo e o tópico é auto-explicável. 🙂
Mas lanço a seguinte reflexão: Se existem recursos disponíveis (pessoas, tempo, €€€) para apagar fogos, reparar, retrabalhar, atender a reclamações de clientes insatisfeitos, para desenrascar não poderemos utilizar os mesmos recursos para, apenas reorganizando as prioridades e pararmos para pensar, trabalhar de forma mais eficaz?
PLANO – Quem se lembrar da Série “Soldados da Fortuna”, certamente ficou marcado pela personagem de John “Hannibal” Smith, que no fim de cada episódio, sempre fumando um charuto e sorrindo de orelha a orelha rematava a história com seguinte comentário – “Adoro quando um plano dá certo”. Planear é importante, mas antes disso reforço que é importante uma fase anterior, tal como fazem os militares:
- avaliar o terreno;
- definir o risco;
- estabelecer prioridades;
- e só depois definir qual o melhor plano.
Como escreveu Thomas Mann no seu livro “Os Buddenbrooks”:
Todos trazemos dentro de nós a semente, o início, a possibilidade para todas as capacidades e confirmações do mundo.
A Incerteza faz parte deste caminho. Esteja atento de forma plena às Oportunidades que ela pode trazer.
Obrigado e um abraço,
Hugo