Os Heróis Silenciosos da Inovação

Os Heróis Silenciosos da Inovação

Os Heróis Silenciosos da Inovação

803 457 Hugo Gonçalves

Poucas pessoas reconhecem o nome Norman Heatley. Em 1945, o Comité Nobel atribuiu o Prémio Nobel da Medicina a Alexander Fleming (St. Mary’s Hospital) e Ernst Chain + Howard Florey (Oxford University), pela descoberta da penicilina. Foi de facto uma grande Inovação.

Mas na verdade foi Heatley, que trabalhou lado a lado com Chain e Florey, quem concebeu os primeiros métodos que permitiram que fossem criadas as doses suficientes de penicilina para que a sua estrutura química e atividade fossem devidamente estudadas.

Estávamos na II Guerra Mundial e os materiais e recursos necessários até mesmo para as experiências mais simples eram escassos. Heatley construiu os seus equipamentos com garrafas e tubos de laboratório, antigas campainhas de porta, luzes de aviso coloridas, bobinas de cobre, peças de canalização, estantes de livros e outros.

Sir Henry Harris, Reitor da Oxford’s Dunn School of Pathology, definiu o papel de Heatley dizendo:

Sem Fleming, não existiriam Chain ou Florey; sem Florey, não existiria Heatley; sem Heatley, não existiria penicilina.

Grande parte dos créditos e atenção relativamente a grandes descobertas e avanços na Ciência, Tecnologia e Inovação são dedicadas aos “Loucos Indivíduos” reconhecidos pela sua visão, génio e excecional criatividade que transformaram de forma marcante uma empresa, indústria ou ciência.

Heatley não teve uma inspiração súbita. Ele dedicou-se a colocar em prática centenas de pequenas ideias, insights e experiências. Estas são totalmente necessárias para tornar a “grande ideia” real.

A procura pela Inovação não depende do génio. Suporta-se na Ingenuidade!

Heatley oferece uma lição crítica para todas as organizações. A viagem pela Inovação e novas abordagens requer que exista a capacidade de encontrar soluções que são originais e inteligentes porque advém das restrições, sentido de urgência e convicção. E tornar práticas, seja de que forma for, essas ideias:

  • A lâmpada já era uma invenção com 40 anos quando Thomas Edison encontrou uma forma de a tornar comercialmente viável;
  • O Google não foi o primeiro mecanismo ou portal de procura de informação;
  • O iPod da Apple foi lançado 5 anos depois do primeiro leito de MP3 estar disponível.

Tecnologias e Mercados convergem de uma forma cada vez mais rápida e nesse sentidas ideias semelhantes estão a aparecer ao mesmo tempo, a várias pessoas.

 

Encontre os seus Heatleys

Esta história sobre como tornar a penicilina viável torna claro que a nossa procura incessante por novas e brilhantes ideias está de facto sobrevalorizada.

Inovação significa algo que seja exequível, desejado pelo mercado e financeiramente sustentável. Para se atingir este cenário, muitos anti-heróis dão o seu melhor para tornar uma possibilidade em algo concreto.

As ideias existem e estão por aí. Não é essa a questão. A grande dificuldade é como as podemos materializar a nível físico, tecnológico e a nível de cultura, resiliência organizacional e influência sobre os possíveis clientes. O foco é o “Como” funciona.

A Google já reconheceu publicamente que não existe uma correlação direta entre as médias académicas e o sucesso nas funções da grande parte dos seus colaboradores.

Heatley tinha formação académica em Biologia e Bioquímica, mas também era “habilidoso e curioso” em ótica, vidro, metalomecânica e carpintaria e tinha uma férrea vontade em construir coisas – usando esse mix de competências – para rapidamente construir e testar no mundo físico qualquer possibilidade conceptual.

As equipas de inovação da sua organização (ou seja todos) devem ser compostas pelos “fazedores” e pelos “pensadores”. Não ficam à espera de um caminho límpido e cristalino para atuar nem de uma resposta certa para aceitar. Eles pensam e fazem em conjunto, e conseguem pela experiência saber o que funciona e o que não funciona.

 

A Inovação requer confiança e ousadia. Para experimentar e para saber aceitar falhar.

Procure na sua organização as pessoas que são curiosas e que querem fazer algo diferente do que estão a fazer. Elas estão escondidas, silenciosas, envergonhadas. Talvez presas às amarras do “sempre foi assim, “sempre fiz assim” ou “não sei se consigo fazer diferente, apesar das minhas ideias e vontade”.

Encoraje-as a pensar de forma diferente, mas também a fazer de forma diferente.

Infelizmente, a Ingenuidade nos termos em que a estou a apresentar não se alinha com os formatos tradicionais de gestão e governance das organizações. Os processos de Inovação ser mapeados, controlados, verificados e sujeitos a longos processos de decisão. Só assim a gestão tradicional permite-se assumir um compromisso de uma forma formal.

Quer-se saber como vamos chegar à ideia sem termos ainda passado pelo processo. Impossível!

 

Para se encontrarem os novos caminhos, talvez faça sentido prepararmos exploradores diferentes dos habituais. Isto acarreta identificar os talentos escondidos dos seus colaboradores e colegas.

Implica criar e formalizar um espaço de tempo e eventualmente um espaço físico para que através destes exploradores, a empresa se possa pensar e protótipos e experiências possam ser feitas – para novos produtos, serviços e principalmente ideias que possam permitir uma maior agilidade e desenvolvimento interno da organização.

Experimentar “força” a conexão entre o abstrato e o concreto. É tornar real a Curiosidade!

 

Obrigado e Abraço,

Hugo

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