Lideras | Trabalhas numa empresa “Top Gear”?

Lideras | Trabalhas numa empresa “Top Gear”?

Lideras | Trabalhas numa empresa “Top Gear”?

615 352 Hugo Gonçalves

A BBC confirmou há cerca de quatro dias que Jeremy Clarkson, apresentador do conhecido programa de automóveis Top Gear, vai mesmo sair do programa e da estação.

Os gestores da estação pública de televisão britânica afirmaram que a decisão ”não foi tomada de ânimo leve” e reconhecem que divide as opiniões. No entanto, relembram que “foi ultrapassada uma linha” e não podem “ignorar o que aconteceu”.

O que aconteceu foi um incidente grave que levou à suspensão de Jeremy Clarkson a 10 de Março, uma discussão violenta com Oisin Tymon, um dos produtores do Top Gear.

A discussão aconteceu num hotel de Yorkshire e ter-se-á devido à falta de ‘comida quente’ para os apresentadores durante as filmagens. A reação de Clarkson foi (em bom português) espetar alguns murros no nariz e boca do seu produtor.

Despedir Clarkson é objetivamente colocar em risco um império que representa actualmente, segundo a própria BBC, 350 milhões de telespectadores em todo o mundo, três milhões de subscritores no YouTube e 1,7 milhões de revistas vendidas todos os meses, incluindo em Portugal.

Por outro lado, Clarkson tem um histórico “intenso” de violência verbal, racismo, e falta de sensibilidade política e social.

Vamos fazer um exercício de imaginação:

Lideras um colaborador que a nível de resultados financeiros é alguém considerado de topo! Mas a nível de empatia, entreajuda, trabalho em equipa e respeito pelos seus pares e colaboradores é alguém simplesmente insuportável. Imagina que esse colaborador faz algo estúpido como fez o Clarkson.

Ele ficaria na empresa ou seria despedido?

A questão moral e ética e de proteção de uma cultura empresarial iria prevalecer ou os ganhos financeiros providenciados pelo “boxeur” seriam considerados importantes demais para se abdicar?

O compasso moral deverá ser recalibrado para manter a prosperidade financeira? É uma questão muito interessante!

INCOERÊNCIAS E DILEMAS

Antes mesmo de este episódio ter sucedido, já tive muitas oportunidades de refletir sobre estes temas com vários líderes e empresários nos workshops que realizo.

Quando questionados sobre a importância de as empresas possuírem pessoas alinhadas, que sabem trabalhar em equipa e que conseguem atingir os seus objetivos profissionais individuais de forma harmoniosa para a organização, existe unanimidade. Todos concordam.

Em seguida avalio se de facto lideram | trabalham com pessoas que possuem uma postura mais individualista, que causam entropia e são elementos disruptivos e que tornam o trabalho e o ambiente organizacional mais agressivo. Todos possuem pessoas assim nas organizações.

A pergunta que me ocorre em seguida é se foi feito algum esforço em sensibilizar essas pessoas para a influência negativa e contribuição menos positiva que estão a proporcionar. Alguns respondem de forma afirmativa e os motivos apresentados por aqueles que não o fazem são que “aquela pessoa nunca poderá ser sensibilizada, que ter uma atitude mais musculada implica perturbações no status quo, e que preferem gerir os problemas gerados por essas pessoas do que lidar com a raiz do problema”. Estão reféns!

Exploro ainda mais. Questiono a seguinte incoerência: Se esses profissionais não estão de todo enquadrados com o contexto organizacional, pessoal e profissional que aqueles líderes entendem como sendo os mais adequados, o que estão eles ainda a fazer na organização?

“Vendem muito, só eles conseguem controlar as pessoas, só eles têm acesso a determinado conhecimento, fica muito caro abdicar dos serviços (despedir)”, são alguns dos desabafos que surgem. Ao escutar estes feedbacks a palavra reféns aparece-me de novo na cabeça.

Considero que abdicar de um profissional não é uma decisão fácil, que implica bastante reflexão.

Mas também não considero nada fácil termos consciência que existem comportamentos disruptivos num contexto profissional que causam perdas muito tangíveis (falta de comunicação, esforço extra de algumas funções e departamentos, falha em prazos de entrega, problemas de qualidade, mau planeamento, etc.) e existir a ideia que “é a realidade com que temos que viver”.

Já tive oportunidade de questionar alguns líderes e gestores intermédios sobre a questão dos custos. Quanto custa despedir uma pessoa? X.

Mas a pergunta certa poderá ser, quando custa estar a manter uma pessoa com este perfil? Tenho a certeza que é X+++.

Ao pesquisar um pouco mais deparei-me com um artigo de Sean McPheat, Managing Director do MTD Training Group. Num jantar empresarial que realizou com os seus clientes, parceiros e convidados, colocou-lhes a seguinte questão:

“Se o vosso melhor rainmaker – alguém que traz bastante dinheiro para a organização ou possui responsabilidades críticas – fosse uma influência nefasta, nunca atualizasse registos ou dados, se não seguisse procedimentos, tivesse uma postura displicente em reuniões ou em trabalhos com colegas, que fizessem as coisas à sua maneira, qual seria a vossa atitude?
Manter ou abdicar dos seus serviços?”

Todos os presentes – algumas dezenas de pessoas – responderam Manter!

E tu, o que fazes ou farias nesta situação?
Adorava saber o que pensas sobre este assunto!

Obrigado e um abraço,

Hugo Gonçalves

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