“É estupidez pedir aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho” Epicuro
A palavra INpreendedor não existe. Mesmo que existisse, estaria mal escrita, segundo os nossos convénios de estrutura e regras gramaticais. Mas pensemos neste exemplo como um caso de inovação: o que é que é mais importante, para já? Comunicar de forma adequada um conceito e depois refinar a sua terminologia ou valorizar à partida a regra, a estrutura, mesmo que isso iniba ou faça cair a ideia-chave? Estamos pois perante o dilema de muitas organizações que pretendem ser inovadoras e empreendedoras de forma pro-activa. O que escolher? O caos ou o controlo?
A resposta não é nada inovadora: Ambas!
O conceito de Inovar e Empreender é apresentado em MBA’s, seminários e workshops como sendo uma pequena semente, que vai sendo cuidada, protegida e alimentada por todos os decisores, influenciadores e executantes. O importante é que a semente evolua para se transformar numa planta, numa árvore e que desta possam nascer os melhores frutos. Não se sabe muito bem que frutos vamos obter e qual o seu valor de mercado. O que se torna importante não é o objectivo mas sim o caminho. Serendipismo! Mas a realidade é que a Inovação e Empreendedorismo Organizacional se assemelha a uma corrida de automóveis, onde em cada curva ou obstáculo os choques e despistes são frequentes, onde o que interessa é obter resultados sem experienciar ou falhar, onde os objectivos individuais ultrapassam tudo o resto e onde não existe um propósito maior. Para que exista um verdadeiro empreendedorismo organizacional, a empresa precisa de “viver” simultaneamente em duas realidades distintas: A realidade da busca e a realidade da execução:
- Na realidade da busca, a organização reflete sobre o seu propósito e de que forma este está alinhado com o que a sociedade espera e deseja dela (resolver problemas, proporcionar experiências, fazer poupar tempo, etc).
- Quando existe o “fit” entre a organização e os seus clientes, utilizadores e beneficiários, a organização avança para a fase de execução. Pensa como pode optimizar recursos e competências no sentido de materializar o fit atrás referido. Como pode obter um lucro com propósito.
Estamos a falar de realidades, abordagens e palavras-chave distintas. Estamos a falar de organizações ambidextras.
Como pode então uma organização fomentar esse ambiente adequado para a inovação?
Comecemos pelos Recursos. Hoje em dia as coisas não estão fáceis, e não existe muita disponibilidade ou flexibilidade para alocar os devidos recursos financeiros ao desenvolvimento ou exploração de uma nova abordagem de negócio ou produto/serviço. Mas pior que não ter novas ideias, é ter várias e não as conseguir desenvolver ou explorar. Uma possibilidade é fazer uma análise aprofundada das ideias e avaliar quais as que obtém as melhores probabilidades de sucesso global, através da validação segundo 2 critérios (por exemplo facilidade de implementação vs. impacto|ganhos previstos). Esta triagem permite que a organização foque os seus recursos nas abordagens que mais facilmente vão originar valor e novas oportunidades de negócio
Quanto ao Ambiente Organizacional, a diversidade de personalidades é fundamental. Numa equipa, é sempre preciso alguém que agite as águas, alguém que faça o papel de advogado do diabo, alguém que motive, alguém que nos apresente as pessoas certas, alguém que pesquise, alguém que nos faça questionar. Tudo isto requer personalidades diferentes. Cria uma equipa de pensadores, não de seguidores!
Formalizar a Inovação numa empresa pode ser feito com pequenas decisões e abordagens que passam mensagens muito importantes. Desde criar um budget dedicado à Inovação (independentemente do valor), “oferecer” parte do tempo semanal do trabalho para que os colaboradores possam dedicar-se à exploração de novas abordagens ou definir um sistema de reconhecimento que permita recompensar o facto de a pessoa dedicar os seus talentos, interesses e personalidade a encontrar algo que beneficia a organização como um todo são algumas abordagens que proporcionam óptimos resultados.
Comunicar também é fundamental. Tornar visível o sentido de urgência, apresentar tendências e desafios futuros para todas as áreas de negócio; refinar novas ideias com várias pessoas (vários feedbacks) são importantes ferramentas de validação de novas ideias e abordagens.
A Inovação e Empreendedorismo Organizacional tem pouco a ver com investimento e muito a ver com Atitude. Quando a Apple lançou o primeiro computador Mac, o seu budget alocado à Inovação era cerca de 100X menor do que o da IBM. Os resultados são os que se conhecem.
Imagina a tua empresa como um navio. É sempre mais seguro se esse navio estiver atracado num porto ou baía, protegido das intempéries. Mas os navios não foram feitos para estarem parados, e os grandes navegadores só ficaram conhecidos porque quiseram enfrentar as maiores tempestades, sem saber exactamente que tesouros iriam encontrar após a bonança. O que podes fazer para que os “corsários” da tua organização te entreguem tesouros ainda mais valiosos?
Obrigado e um abraço,
Hugo Gonçalves