Recentemente tive a oportunidade de realizar uma palestra sobre Empreendedorismo e Modelos de Negócio (não confundir com Planos de Negócio) numa organização dedicada à incubação e suporte a projetos de empreendedorismo e inovação.
A palestra foi enriquecida com a presença e testemunho de nove empreendedores, que tiveram oportunidade de apresentar os seus projetos e partilhar os seus sucessos e obstáculos.
Escutando as suas histórias, identifiquei dois temas comuns a todos os testemunhos – temas esses que contradizem a filosofia partilhada atualmente na grande parte das organizações, programas de ensino e apoio ao Empreendedorismo.
Mitos acerca do Empreendedorismo
De todos os projetos apresentados, nenhum deles estava suportado numa ideia peregrina ou original. Pelo contrário, todos os negócios estavam suportados em torno das competências, técnicas e emocionais, pois para além de experiência em agricultura, fotografia, bioquímica e programação de computadores também foram referidos os sonhos, a paixão e de que forma aquelas atividades tocavam o coração dos seus fundadores, que faziam o que gostavam e o faziam “com amor”, expressão utilizada em muitas ocasiões. No essencial, os alicerces daqueles projetos não são as ideias, mas sim as competências.
Em segundo lugar, quase nenhum projeto recorreu a business angels ou fundos de apoio, mas socorreram-se da formula mágica do verdadeiro Empreendedor – FFA – fundadores, família e amigos para colocar os projectos em andamento.
Em resumo, a experiência destes empreendedores contraria dois dos mais fortes mitos do Empreendedorismo: que são sempre necessárias ideias originais e que novos projetos neste âmbito recorrem sempre a financiamento profissional (por exemplo business angels e subsídios).
As desafiantes verdades sobre o Empreendedorismo (Ensino e Execução)
- Verdade #1 – a verdadeira base são as competências em vez das ideias;
- Verdade #2 – adquirir as competências e experiência necessárias requer milhares de horas de estudo e prática – vivência profissional e aquisição de conhecimento;
- Por consequência, a Verdade #3 é que o melhor treino para nos tornarmos empreendedores de sucesso passa simplesmente por ganhar competências em áreas especificas, sempre respeitando dois critérios – que sejam temas que apaixonem os aspirantes a empreendedores e que os conteúdos permitam criar projetos que permitam resolver problemas, criar experiências e fazer poupar tempo aos seus clientes.
Estas verdades sugerem que, por exemplo ao nível da aquisição de competências, estas se devem dirigir a temas específicos e distanciar-se do modelo tradicional das business schools. Os conteúdos programáticos dos MBAs estão especialmente desenhados para gestores de carreira, que trabalham em grande empresas e corporações com modelos de negócios estáveis e validados pelo tempo. Isto é o oposto ao estilo de vida empreendedor – pequenas equipas ricas em dinamismo e à procura de encontrar o seu modelo de negócios viável, socorrendo-se da fórmula FFA, atrás referida.
Como podemos ensinar Empreendedorismo?
Se as competências específicas de cada setor de atividade são a base de conhecimento, o que resta ensinar? Sugiro algumas áreas e metodologias que não se encontram integradas de forma relevante no percurso académico|formação da maior parte dos cursos universitários, pós-graduações e MBAs:
1. Design Thinking
Design Thinking é uma abordagem de definição e resolução de problemas tendo por base a colocarmo-nos no papel dos clientes ou utilizadores finais. Tradicionalmente está associada à arte, arquitetura, design industrial e áreas semelhantes, mas é perfeitamente aplicável à definição de modelos de negócio inovadores que suportem as ideias ou sonhos dos empreendedores.
2. Modelos de Negócio
Significa simplesmente descrever e mapear a lógica pela qual as organizações criam e entregam valor aos seus clientes e é aplicável a projetos com o propósito do lucro, organizações sociais e não lucrativas – de encontro ao modelo de economia social que ganha cada vez mais força..
3. “Presentation Skills”
Não me refiro aos tradicionais “pitch” ou discursos em público, mas sim algo mais refinado. Falamos neste caso da competência fundamental de expressar de uma forma espontânea, clara e lógica o propósito e objetivos do nosso negócio em reuniões e interações com os nossos colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros.
4. “Professional Writing”
Neste caso a ideia é investir na aquisição da competência para criar guidelines, instruções e relatórios concisos e visuais, que permitam um fluxo de informação objetivo e transparente.
Esqueça as ideias – Foque-se nas competências!
Um Abraço,
Hugo Gonçalves