A Neurociência do Sono e da Liderança

A Neurociência do Sono e da Liderança

A Neurociência do Sono e da Liderança

1100 619 Hugo Gonçalves

Sente que não está a dormir bem e/ou o suficiente. Sente-se menos tolerante, trabalhando em esforço, não conseguindo um foco que lhe permita tomar as melhores decisões e um fluxo que seja o aceitável para melhor poder executar as suas atividades. Comunicar torna-se numa agonia. Deseja estar sossegado e como tem a consciência que não está a dar o seu melhor, os resultados menos bons que possa obter ou um “vipe” ao interagir com os seus colegas, equipas, clientes e fornecedores deixa-@ com a consciência pesada. E tudo isto o acompanha na sua próxima noite…

O grande problema deste cenário é que não é a imaginação – é a preocupante realidade do mundo corporativo. E quem mais sofre com esta situação são aqueles que tomam as decisões mais importantes e que vão criar impacto num número elevado de pessoas. Esta escassez de sono tem um impacto tremendo em processos e atividades de liderança, que por sua vez se reflete nas performances financeiras de uma organização.

Nos inquéritos realizados pela McKinsey, o padrão detetado é contraditório. Os Líderes e Gestores sentem-se em negação relativamente ao impacto do sono, mas ao mesmo tempo entendem que as suas organizações deveriam fazer algo para os ajudar a lidar com esta situação. Aqui estão alguns resultados (num universo de 196 líderes e gestores worlwide e de várias áreas de negócio):

  • 46%| Acreditam que dormir pouco tem muito pouco impacto na sua performance como líderes;
  • 43%| Não conseguem dormir o suficiente pelo menos quatro noites por semana;
  • 60%| Afirmam que estão insatisfeitos com o tempo que dormem e 55% confessam-se insatisfeitos com a qualidade do seu sono;
  • 47%| Sentem (seja verdade ou não) que as suas organizações esperam que eles estejam disponíveis para trabalho, emails e telefonemas a toda a hora;
  • 83%| Líderes consideram que as suas organizações não se esforçam o suficiente para os educar e formar em temas e métodos para manter e renovar as Energias Profissionais (incluindo o sono).

Dormir|Sono e Liderança Organizacional – A Neurociência por detrás desta ligação

O último segmento do nosso cérebro a ser desenvolvido foi o neo-córtex, que é responsável por funções como as perceções sensoriais, comandos motores e linguagem. O córtex pré-frontal gere e executa o que se denominam como funções executivas como processos cognitivos complexos – resolução de problemas, reflexão e análise, organização, planeamento e execução.

Penso que todos estamos de acordo que todos os comportamentos de liderança estão alicerçados em mais do que uma destas funções executivas. Os neurocientistas já provaram que apesar de outras áreas do cérebro poderem funcionar de forma relativamente adequada numa situação de privação de sono, o córtex pré-frontal não.
Num estudo que aglomerou 81 empresas e 189 mil pessoas de todo o mundo, concluiu-se que existem 4 tipos de paradigmas de liderança estão diretamente associados a equipas de líderes e executivos de excelência – Orientação para Resultados, Resolução Eficaz de Problemas, Abertura a Perspetivas Diferentes e Suporte e Empatia pelos Outros. O que é extraordinário é a ligação direta que existe entre o sono e estes parâmetros de liderança.

Forte Orientação para Resultados
Para poder ter sucesso nesta área, é necessário manter o foco no que realmente é importante para se obter os resultados – o caminho que se escolher também é muito importante. Acredito que os resultados são a consequência de uma boa definição do propósito e do caminho. Por isso temos que navegar entre o imediato e a presença de espírito para navegar na chamada big picture. Talvez não saiba, mas após 19 horas consecutivas sem dormir, a performance individual de um líder num conjunto de tarefas simples será igual à de uma pessoa que possua uma taxa de 1g/l. Curioso, não?

Resolução Eficaz de Prolemas
O sono é uma fonte de energia para um conjunto de funções cognitivas – insights e intuições, reconhecimento de padrões, inovação e criatividade. Está cientificamente provado que uma sesta durante a tarde coloca as pessoas num padrão mental e criativo que permite a integração de informação e ideias ainda não ligadas, promovendo assim novas e mais robustas soluções.

Aberturas a Perspetivas Diferentes
Um processo de novas aprendizagens possui 3 fases – antes da aprendizagem, onde se codifica a nova informação; depois da aprendizagem, onde existe uma fase de consolidação aquando a criação de novas sinapses no cérebro; antes da memória|lembrança da aprendizagem, para sabermos onde ir buscar a nova aprendizagem. Para estarmos abertos a novas perspetivas temos que avaliar a importância e peso de novos inputs, evitar uma visão de túnel e reduzir os denominados bias – pré-julgamento ou ideias pré-concebidas. Não é por acaso que se costuma dizer que “a almofada é a nossa melhor conselheira” aquando de decisões importantes e interpretação e gestão de emoções ou contextos que são fronteira da nossa zona de conforto.

Suporte e Empatia pelos Outros
Para que possamos ajudar os outros, em primeiro lugar temos que os compreender. Percecionar as suas emoções, expressões faciais e tons de voz. Isto implica atenção e foco na outra pessoa. Num cérebro com privação de sono, a probabilidade de não conseguir ter este tipo de foco na outra pessoa e reagir de forma menos positiva a eventos emocionais é muito grande. Existem estudos que demonstram que uma das reações das pessoas à provação de sono é não confiar tanto nos outros, o que infelizmente se reflete imenso na relação líder | pares e líder | equipas. O resultado é um menor compromisso e prazer das pessoas à sua volta relativamente às suas funções e resultados.

Ok, mas como podem as Organizações agir relativamente a este assunto?
Em primeiro lugar, um diálogo e reflexão organizacional são o primeiro passo. Mapear os problemas e impactos para em seguida se tomarem as melhores decisões – práticas, exequíveis e adaptadas à empresa. Algumas sugestões:

  • Emails – Criar slots de tempo denominadas black-out times. Várias empresas europeias já programam os smartphones dos seus gestores para estarem com os emails corporativos não acessíveis entre as 6 da tarde e as 7 da manhã do dia seguinte;
  • Limites de horário de trabalho – Algumas empresas conhecidas pela sua cultura de “quem sai mais tarde é quem trabalha mais” já encorajam atitudes diferentes neste aspeto. Uma grande empresa financeira já adotou como política que os seus colaborares devem evitar no escritório desde as 20h de sexta até 6h da manhã de segunda-feira
  • “Folga” Digital – Uma grande empresa de consultoria implementou um programa para líderes e gestores, onde os incentiva a, duas vezes por semana, planearem uma noite em família e/ou amigos, sem acesso a email, telefone ou trabalho.
  • Sala de Sesta – Sei que a imagem do nosso chefe a dormir numa sala é, no mínimo, exótica. Mas esta interpretação é basicamente um grande preconceito. Não existem espaços e tempo alocado para os colaboradores fumarem? Muitas empresas desejam imitar as grandes empresas onde esta abordagem das salas de sesta já fazem parte da cultura.

Organizações do Futuro

Muita atenção é dedicada à importância do sono para os atletas, músicos, políticos, etc. Bill Clinton sempre admitiu que todos os erros importantes que cometeu na sua vida aconteceram quando estava cansado e a dormir mal – talvez este não seja o melhor exemplo 🙂

Mas se é verdade que os Millennials demonstram menos interesse nos salários e desejam uma melhor integração vida-trabalho, então este assuntos e estas estas propostas irão penetrar ( a bem ou a “mal”) nas práticas e culturas organizacionais.

Um abraço e umas ótimas férias, repletas de noites bem dormidas!
Hugo Gonçalves

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