Equipas de Gestão de Topo Mindfulness
Hein?!?!!
Em 1985 uma produtora cinematográfica que passava por bastantes dificuldades financeiras contratou um novo CEO. Num esforço destinado a reduzir de forma rápida e drástica os custos, o novo presidente pediu a dois diretores de divisão, Ed e Alvy, para iniciarem um processo de layoffs. Estes resistiram argumentando que o maior valor da empresa eram as Pessoas, a sua paixão e a sua criatividade e que não fazia sentido recuperar uma empresa dispensando o seu maior ativo e vantagem competitiva. O CEO não foi sensível a estes argumentos e fez um ultimato. Nos próximos dois dias teria que ter uma lista com o nome das pessoas a dispensar. Quando recebeu essa lista, estavam lá apenas dois nomes; Ed e Alvy. Mais tarde, Steve Jobs comprou as divisões geridas por Ed e Alvy e juntamente com eles criou a Pixar.
As organizações terão uma “consciência” própria? São evolutivas? É possível medir essa consciência? Claro que sim!
Modelo de Gestão por Valores | Consciência Organizacional | créditos Richard Barrett
Richard Barrett descreve em vários artigos e livros como funciona este conceito. Existem 7 níveis de consciência organizacional, e para cada um deles existem valores positivos e|ou abrasivos – ou que pelo mesmo fazendo parte da nossa matriz humana, podem ser mal desdobrados como o controlo, a cautela, etc. como apresentado nos 3 primeiros níveis da figura.
- Experimente o seguinte com os seus colegas, equipa ou de forma individual: Escolha seus 7 valores pessoais mais importantes (ver lista de palavras nos vários níveis da figura);
- Escolha os 7 valores que na sua perceção caracterizam a sua organização;
- Escolha os 7 valores que descrevem o estado desejado para a sua organização e projeto.
O resultado gráfico deste exercício que realizo com líderes, gestores e equipas costuma normalmente ser o seguinte (e não me parece nada alinhado):
O papel de uma equipa de gestão de topo mindfullness é estar atenta a estes inputs internos das Pessoas e criar o melhor alinhamento entre os Resultados desejados e o Propósito da organização e dos colaboradores. Potenciar o Equilíbrio!
As pessoas procuram cada vez mais momentos de tranquilidade e paz num mundo cada vez mais carregado de intensidade, stress e complexidade. Por isso é que algumas abordagens que potenciam a atenção, a consciência, a escuta ativa (individual e com os outros) são cada vez mais utilizadas nas organizações. A Google, com o seu programa Search Inside Yourself, já possui o seu próprio programa de desenvolvimento pessoal integrado.
A ideia-chave é esta: uma equipa de gestão de topo que enfrenta desafios complexos de liderança, gestão e interação deve desenvolver a sua capacidade de pensar em conjunto sobre as implicações de suas decisões.
Mindfulness na Gestão de Topo é uma abordagem que os executivos e gestores podem clonar para um ambiente empresarial através do desenvolvimento de competências de observação, atenção, escuta ativa, percepções e preconceitos. Os insights que surgem na sequência desta reflexão irão influenciar as ações subsequentes. Para equilibrar e potenciar as capacidades múltiplas da equipa e poder estruturar esta “curiosidade” pelo Mundo e Pessoas, a equipa pratica as seguintes disciplinas interdependentes:
// Liderança pelo Grupo
A liderança da reflexão é partilhada, independentemente da estrutura hierárquica e dos processos envolvidos. Ninguém espera para iniciar o debate, lançar um desafio ou propor um olhar honesto sobre algo que a empresa não se pode dar ao luxo de continuar a fazer. A capacidade conectiva da equipa permite encontra relações e fios condutores entre o exterior e a sua visão, estratégia e operações. Realiza-se uma análise de risco relativamente ao impacto que as decisões podem ter no espectro global de influência da organização. Cada membro é responsabilizado pela qualidade do processo de reflexão e pelos seus resultados.
// Consciência Organizacional Expandida
Esta expressão descreve o processo de transformação da forma como as organizações “interagem” com o Mundo. Começa-se com uma pequena janela, depois para janelas maiores, depois para múltiplas janelas com uma visão a 180º e finalmente para uma janela global com uma visão elevada 360º. Esta abordagem implica e responsabiliza a equipa de gestão de topo em relação à abertura necessária para reconhecer padrões, percepções e preconceitos e “afastá-los” da reflexão profunda e realista. Para isso procuram de forma pró-ativa informação, opiniões, visões, dados e tendências que vêm do exterior. Conversam, pesquisam, aprendem, coloca em causa!
// O Compromisso pela Coragem
Os membros desta equipa não têm problema nenhum em discutir os assuntos e exercer a sua capacidade de argumentar e justificar uma visão totalmente diferente da dos outros. Divergências são apenas visões diferentes. Não são ou não devem ser reflexos de uma valorização pessoal. É necessário ir a fundo no que a determinadas decisões diz respeito. Alguns colegas líderes e gestores confidenciam-me que alguns dos seus insucessos estão diretamente ligados à falta de uma reflexão honesta sobre determinados problemas que tinham que ser resolvidos, numa determinada altura. Essa reflexão deve ser profunda, sem tabus, baseada no respeito e sem medo das consequências internas (leia-se mudança). As consequências externas serão sempre mais fortes e obrigarão a mudanças muito mais disruptivas, bruscas e puramente reativas. A diversidade, nesta, etapa, é potenciada como sendo a melhor fotografia do que realmente é a organização e qual a sua consciência.
A evolução e consolidação deste modelo não serão fáceis. Uma excelente gestão de opiniões e conflitos, métodos de negociação, coaching, escuta ativa e facilitação são competências fundamentais para obter a melhor performance e resultados deste caminho menos percorrido. Quando disrupções múltiplas começarem a ocorrer (ver Lei de Murphy), equipas de gestão de topo que sigam esta abordagem estarão melhor posicionadas e preparadas para responder com coragem, ética e agilidade.
Assim e utilizando as palavras de Pico Iyer:
Por isso, na era da aceleração, nada é mais emocionante do que ir devagar. E na era da distração, nada é mais luxuoso do que prestar atenção. E na era do movimento constante nada é mais urgente do que nos sentarmos imóveis.
A equipa de gestão de topo mindfulness imagina o futuro, procura aventuras e novas possibilidades que apaixonem clientes, utilizadores e colaboradores. E faz tudo isso sem ir a parte nenhuma, focando-se na atenção plena organizacional.
Um abraço,
Hugo