O fantástico paradoxo do “Poder” nas Organizações

O fantástico paradoxo do “Poder” nas Organizações

O fantástico paradoxo do “Poder” nas Organizações

1024 672 Hugo Gonçalves

Como podemos exercer um verdadeiro e saudável

Poder nas Organizações

 

É um estranho desejo, almejar o poder e com isso perder a liberdade. Francis Bacon

Sou um comprador impulsivo de livros. Quanto não consigo comprar os que desejo naquele momento, torno-me voyeur. Olho para a capa e contracapa, sinto a textura, olho para a font e tento apanhar por pura sorte ou destino alguma frase ou parágrafo que de alguma forma mais ou menos subtil me “diga” que aquele livro merece o investimento.

O tema que partilho hoje tem por base a fusão de dois contextos e eventos – por um lado uma reflexão sobre de que forma as hierarquias convencionais nas empresas promovem de facto as melhores decisões de liderança e de gestão e por outro uma frase que encontrei num desses livros que mereceu o investimento:

“Desejamos maiores responsabilidades e poder de decisão para fazer a diferença utilizando o melhor que existe na natureza humana, mas muitas vezes ficamos presos numa teia de imobilidade, pressão e egocentrismo e acabamos por falhar na nossa missão, não conseguindo de facto fazer a diferença para todos os que estão à nossa volta.” Dacher Keltner

 O Verdadeiro Poder

O que noto nas Organizações, através dos projetos que realizo com Líderes, Gestores e Equipas, é que em alguns casos, o “poder” não está diretamente associado à hierarquia. 

Conheço team-leaders de linhas de produção industriais que possuem um poder maior do que os diretores. Conheço assistentes executivas que são as verdadeiras decisoras num determinado âmbito.

Em cada organização é necessário identificar quais as dinâmicas de poder explícitas (hierárquicas) e as implícitas (quem influencia as emoções da cultura organizacional). Ambas contribuem para melhor poder alinhar e treinar as Pessoas ou facilitar a geração das melhores ideias de melhoria e inovação para Produtos e Processos. 

Quanto mais subimos na cadeia de comando, aumentando o nosso poder, ficamos mais ocupados, menos focados, menos equilibrados.

Nesse sentido as nossas ações e decisões tenderão a ser contrárias à obtenção de performance, resultados e desenvolvimento para todos.

Acabamos por estar mais longe do local onde as coisas acontecem, as conversas informais e naturais reduzem-se drasticamente e acabamos numa espécie de solidão interior.

Desaparece num ápice o feedback construtivo, de alerta ou de reconhecimento que obviamente necessitamos para evoluir.

Ao obtermos “poder organizacional”, teremos novas “demandas” para o nosso tempo. Esta sensação latente de urgência, de sermos obrigados a responder a tudo e a todos com perfeição e sem direito a falhar cria um muro que segrega e diminui a nossa ligação com qualquer coisa que esteja fora do nosso radar de prioridade, urgência ou atividade. 

Podemos então influenciar pela positiva o estado, contexto e vida dos OUTROS desta forma??!!!!

Nos últimos 100 anos criou-se uma cultura e imagem do Poder como sendo aquelas que equalizam “falar alto” com liderança; rispidez com autoridade, etc.

Em 2020, 45% dos profissionais terão consigo a marca genética emocional dos Millennials. Irão viver os seus valores pessoais, equilíbrio entre família e amigos e a materialização de um bem maior através das empresas e do trabalho

Dacher Keltner, no seu livro “O Paradoxo do Poder”, analisa, através dos seus mais de 20 anos de pesquisa académica, insights de empresas como a Pixar e a Google e avaliação de equipas e resultados de programas sociais de justiça em instituições e prisões nos Estados Unidos, qual a verdadeira dimensão, qualidades e valores do Poder. E algo que me ficou na retina é que os denominados soft-powerscultura, ideias, arte, equipas e holocracia são bem mais poderosos que os hard-powers – militar, hierárquico, económico, diretivo.

 Wow! 

O Paradoxo do Poder que Keltner apresenta é o seguinte:

Poder é a capacidade para fazer a diferença no mundo através de decisões e atos.

Mas esta mesma experiência de poder de decisão e privilégios leva-nos a comportamentos, que nos nossos piores momentos, são instáveis, egoístas, impulsivos e com um foco fechado e não preparado para encontrar a solução mais adequada para o coletivo.

A forma como gerimos este paradoxo guia o impacto e resultados na nossa vida pessoal e profissional. Determina qual o nosso grau de “felicidade”. Prefiro utilizar as palavras paz interior, foco alinhado com valores e equilíbrio.

Empatia, generosidade, inovação, rigor intelectual e processos colaborativos serão mais perenes e robustos quanto maior o domínio deste paradoxo. Não por acaso, estas mesmas palavras são hoje descritas para definir o standard das organizações do amanhã.

Organizações e nos Negócios

Está a acontecer uma revolução fortíssima, embora com registos relativamente suaves, silenciosos e invisíveis. E é esta última palavra que materializa a urgência em sermos excelentes na gestão deste paradoxo do poder.

O Poder será cada vez mais descrito como:

  • suave e adaptado a cada contexto;
  • relacional – privilegiando a empatia ou a capacidade para ter consciência do que se passa com os outros em cada contexto;
  • suportado pela reputação e respeito dos pares;
  • mensurável pela capacidade de cada um de nós influenciar de forma positiva a vida de outros, através do nosso esforço, competências e objetivos.

As práticas sociais que potenciam esta abordagem são:

Empatia | Expressar Gratidão | Dar | Contar Histórias

Como será a cultura de uma organização onde as seguintes palavras signifiquem o seguinte:

PODER – a capacidade para, através do nosso trabalho, empenho, competências e alinhamento pessoal, fazer a diferença no mundo influenciando positivamente os estados e contextos dos outros.

STATUS – o grau de respeito que possuímos gerado por outras pessoas na nossa rede de relações e contactos profissionais. É basicamente a estima profissional que nos é direcionada por todas essas pessoas.

CONTROLO – a clareza e energia necessárias para identificar qual a nossa zona de influência e domínio profissional e através desse mapeamento, focarmo-nos em sermos os melhores profissionais possíveis nos contextos e atividades que dependem exclusivamente de nós.

Sim, leu bem, é isso mesmo! Poder, Status e Controlo podem ser coisas muito boas numa organização. 🙂

Um Desafio

As palavras têm conotações, mas definem-se como sendo uma forma escrita de intenções e principalmente de atos. Por isso lanço-lhe o seguinte desafio:

  • Como líder, gestor ou profissional, como se enquadram estas definições de Poder nas suas atividades e relações de trabalho?
  • Se aplicar estas definições ao seu contexto profissional, o que irá surgir? Onde é que é poderos@, qual o seu verdadeiro status, como é constituída a sua zona de controlo? 

Escreva o que lhe surgir! Partilhe e converse com quem achar interessante, desafiante e até mesmo necessário partilhar os seus insights.

As respostas geradas por estas perguntas irão criar:

  • Consciência, que alimentará uma energia de
  • Transformação, que irá gerar maior clareza sobre quais as
  • Ações a tomar.

Obrigado e Abraço,

Hugo

P.S. Como o tema central do dia de hoje irá ser mesmo sobre perceções e paradoxos, partilho consigo uma excelente TED-Talk de Barry Schwartz sobre o Paradoxo da Escolha!

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