Os espíritos protetores ajudam-nos com os seus conselhos, através da voz da consciência, que são mensagens para o nosso mundo interior e coração. Mas como nem sempre lhes damos a necessária importância, eles oferecem-nos outros mais diretos, servindo-se das pessoas que nos cercam
– ALLAN KARDEC
A VOZ ORGANIZACIONAL
O título deste artigo baseia-se na ideia-chave de um livro de Stephen Covey, o 8º Hábito.
O Stephen mostra-nos de uma forma quase profética (o livro é de 2004) que abordagens como gerir pessoas, reter talento, ter um foco apenas no resultado (independentemente da moral, ética, ações e comportamentos que levam a esses resultados), são desintegradoras dos profissionais como Pessoas, num âmbito corporativo.
Pode ser limitador para o nosso próprio processo de evolução colocar o ónus do nosso florescimento, evolução e performance apenas nos líderes, nos processos, nas iniciativas de felicidade organizacional, wellness e afins.
O potencial é Nosso, os palcos da manifestação desse potencial são atualmente quase ilimitados e cabe-nos a nós fazermos as nossas escolhas para trilhar o percurso que nos poderá levar ao nosso florescimento profissional, levando em conta os critérios de sucesso que para nós são os mais importantes.
Eu por exemplo, valorizo a liberdade, a escolha, a possibilidade de trabalhar em várias áreas e metodologias em detrimento da segurança, da estabilidade e da especialização. Contigo pode ser exatamente ao contrário e tudo bem. ?
Voltando ao 8º Hábito, este manifesta-se como sendo a com a intenção, design de estratégias, ações e comportamentos, no sentido de prosperar, inovar e liderar para transformar potencial em performance e evolução – melhoria contínua, inovação, produtos e serviços – que impactem positivamente as pessoas e mundo através da sincronização dos nossos talentos, experiência e exploração de recursos inatos (conscientes e inconscientes).
Desde a primeira vez que li o livro, retive uma frase:
ENCONTRA A TUA VOZ E AJUDA OS OUTROS A ENCONTRAREM A SUA!
Mas, em contexto pessoal, profissional e organizacional, o que significa exatamente isto da Voz? ?
A VOZ PROFISSIONAL E ORGANIZACIONAL
Assim de repente, para que exista Voz é importante que haja:
- Energia e essência interna sobre a manifestação de uma determinada mensagem ou visão;
- Palcos e espaços seguros, transparentes e verdadeiros para que essa mensagem possa ser expressa;
- Que a mensagem possa impactar os outros através de conteúdo, convicção, e empatia de forma simultânea ou orgânica;
- E que a informação/sensações criadas pela partilha da mesma possam dar origem a ações, comportamentos, criatividade por parte dos outros.
Então a manifestação dessa Voz é um processo emocional, relacional e de fruição ao nível profissional e corporativo.
Mexe com o desenvolvimento da Auto Liderança, Inteligência Emocional e Produtividade Profissional, ao reconhecermos e termos acesso aos nossos próprios recursos e perceber onde estão os gaps (relativos a processos ou objetivos que queiramos alcançar). E quais são as verdadeiras necessidades e prioridades.
Trabalha a colaboração, a partilha de conhecimento, experiências e lições aprendidas, ao sermos facilitadores – através da exploração e feedback – dos percursos dos outros em encontrarem a sua própria forma de manifestação profissional.
A Voz é o resultado de processos iterativos orgânicos e em algos casos simultâneos de Consciência, Transformação e Ação – para Individu@s, Equipas, Áreas Funcionais, Organização, Produtos, Serviços, Soluções.
Isso implica um mindset & heartsert diferentes e onde possamos utilizar os nossos 3 Cérebros. Tudo isto que acabei de descrever não vai acontecer de um dia para o outro e que nesse sentido o suporte, feedback, follow-up, conversas organizacionais e tentativa e erro irão fazer parte do processo. Será sempre uma Dança Organizacional.
VOZ ORGANIZACIONAL = f (RELAÇÕES, IMPACTOS, SENTIDO DE URGÊNCIA)
Todos estamos de acordo que, num contexto profissional e corporativo, as relações – internas, com os clientes, sociedade e mundo – são cruciais para a sustentabilidade, sucesso e para que a organização se mantenha no Propósito e não propriamente no jogo!
Mas este consenso rapidamente é “abanado”. Principalmente quando tentamos quantificar em métricas 2D e associadas à matemática clássica, todos os impactos que estas abordagens poderão ter na organização.
Aqui a palavra-chave é Evidências. Para mim, Evidências é aquilo que é Real – Visto, Sentido, Escutado. ?
Quando vou a reuniões ou projetos, quando entro nos gabinetes, open spaces e edifícios de (possíveis) clientes, é Evidente? qual a energia que existe naquelas Pessoas, espaço, processos e cultura organizacional.
Não a sei quantificar, mas sem dúvida que a consigo categorizar e interpretar, relativamente à sua fluidez e florescimento ou ausência dos mesmos. E tu também! ?
Tal como rapidamente e devido à tua estatística orgânica interior, tu entras num espaço ou conheces pela primeira vez uma pessoa e sentes um alinhamento, empatia, rapport tangíveis e impactantes (ou o inverso), o mesmo também acontece num ambiente de trabalho. Eu chamo-lhe a manifestação sem filtros da Cultura Organizacional.
Mas voltando à Voz, sou fã do zeitgeist em torno da complexidade e dos ecossistemas e como isso impacta os profissionais e organizações:
- Precisamos parar de tentar projetar a solução e, em vez disso, cocriar as condições que permitam o aparecimento de muitas soluções em ambiente organizacional;
- Promover uma melhor qualidade nas relações e confiança mútuas, para se sincronizarem os sentidos de urgência.
Geramos assim os Impactos e Valor de forma equilibrada, como sendo um resultado-chave. Esquece lá os EBITDAS. ?
Antes de “desenharmos” e cocriarmos as soluções, produtos e serviços e cenas, é importante sermos designers do espaço de criatividade, sentido de urgência, compreensão do que as Pessoas e Mundo necessitam.
Partilhei alguns vipes sobre isso num artigo sobre a temática do Design Especulativo – conceito e aplicação prática em contexto organizacional.
Desde há alguns anos que se tornou evidente para mim, de forma mais pacífica e em alguns casos através de eventos mais desafiantes, que o melhor papel que posso ter como Pessoa e Profissional é mesmo o de encontrar a minha Voz e facilitar o processo de os Outros encontrarem a sua:
- A Voz da Pessoa;
- A Voz do Futuro e da Mudança;
- A Voz do Dia-a-Dia, da Comunicação e Colaboração e da Agilidade no Trabalho.
Penso que foi o Coaching e o Design Thinking que me deram essa consciência inegável de que as Pessoas da Organização são realmente os melhores especialistas delas próprias.
O que ainda não existem são espaços regulares e deliberados para que os tais processos de consciência, transformação e ação individuais e coletivos possam surgir. Porque ainda funcionamos em famílias e hierarquias, e não em Tribos. ?
Diante da enorme complexidade de desafios, aspirações e necessidades concretas das Pessoas e Mundo, a melhor forma de dar resposta a todas estas questões é canalizar as nossas energias para permitir a colaboração, decisões e ação eficazes através de competências, experiências, ideias.
Diversas, divergentes, de largo espectro. Ou seja, as Equipas tornam-se nas novas organizações, retirando esse papel aos processos e KPIs.
VOZ ORGANIZACIONAL DA TRANSFORMAÇÃO E IMPACTO
Aqui refiro-me à paixão, empatia, curiosidade e vontade genuínas de alinhar as nossas aspirações, talentos e experiência e que de alguma forma possamos ter autonomia ou sermos pilotos em algumas fases na cadeia de geração de valor horizontal subsequente.
Mas vontade de agir sem a calibração e enquadramento pode ser contraproducente. Microgerir segundo um plano estático não permite acomodar a mudança, adaptações ou o serendipity de encontramos coisas novas que não estávamos à espera.
Então, as Energias de Ação, Contexto e Impactos devem estar sincronizadas!
VOZ ORGANIZACIONAL DA EXPERIÊNCIA
Quem são os sábios (sábios de alma e de experiência e nem tanto de idade), da tua organização?
A malta mais nova atualmente já viveu em 10 anos – viagens, experiências de trabalho, relacionamentos, etc. – muito mais do que as gerações anteriores, mesmo comparado com aquel@s que tenham tido uma vida bem vivida e atrevida e repleta de experiências. ?
Por outro lado, a sabedoria, as lições aprendidas num estilo de vida e foco algo diferentes dos atuais continuam a ser relevantes para colocar algumas rédeas na hipervelocidade corporativa. Estas são as vozes organizacionais internas.
Mas se o objetivo é impactar alguém ou algo, é super pertinente levar em conta as vozes dessa experiência. O Voice of Customer, Design Thinking, Customer Development, a Estratégia Responsiva são abordagens que são utilizadas para avaliar se o valor que achamos que estamos a entregar é de facto assim percecionado pelos nossos clientes e utilizadores.
Algures a meio caminho, estará a verdade! ?
VOZ ORGANIZACIONAL DO DESIGN
A Inovação é o resultado de um conjunto de dimensões etéreas, estratégicas, práticas. Logo, tem tudo para ser uma grande salgalhada e existir confusão. ?
É necessário um “sortido” de competências e habilidades:
- Quem imagina, quem explora o mundo lá fora e quem codifica esses pains&gains e necessidades em características, features e requisitos de produto;
- Quem planeia e organiza e quem faz acontecer;
- Quem motiva e cuida do grupo, quem consegue ver o todo e como se ligam as coisas e quem percebe como é que o “átomo” ou bloco mais individual funciona e como pode ser potenciado.
O Design é um processo, mas também de alguma forma pode e deve ser um resultado colateral de alquimia das ideias que, ao atravessarem os filtros de exequibilidade, desejabilidade e viabilidade financeira, então prontas a serem “inseridas” num âmbito de value delivery (em formato agile ou mais convencional de projetos e iniciativas de desenvolvimento de produtos, processos, valor).
VOZ ORGANIZACIONAL DOS RECURSOS E CAPACITAÇÃO
Tudo isto é muito bonito e tal ?, mas no mundo físico e gerido pela mecânica clássica são necessários recursos. Conhecimento, tempo, dinheiro. Mas também compromisso, foco, decisões, metodologias, processos e fluxos de trabalho.
Facilitar, decidir, colaborar, lições aprendidas, sincronizar talentos e tarefas, estes é que são realmente os processos importantes atualmente. ?
Estes recursos são enablers de fruição do Valor.
CODA
Ufa, deves estar tu a dizer – “Isto para além de complexo, parece trabalhoso, Hugo! E sim, é verdade! ?
Mas a questão não é tanto de trabalho e disponibilidade, mas de foco e propósito. Atualmente, saber o que é o mais importante é mesmo importante. ?
E aqui sim, a automação, a inteligência artificial, as transformações digitais e os power BI da vida ? certamente serão uteis. Porque irão estar ao serviço do que é Humano, Orgânico, Impacto e Valor, associados aos entregáveis e acionáveis de uma organização.
E vais ver que certamente não irás de repente “ter acesso” a todo o tempo do mundo, como que por magia, para poderes enveredar por estes caminhos profissionais e organizacionais (se te fizerem sentido).
Mas acredito que algumas prioridades, insights, fatores críticos de sucesso e dimensões de valor e impacto ficaram mais explícitas e concretas. E menos imersas e escondidas pela máquina de lavar do dia-a-dia, pelo apagar fogos e afins.
Conseguindo manifestar todas estas vozes – A Voz Organizacional – sincronizar as suas mensagens, conteúdos, conhecimento, paixão e energia, parece-me que o potencial de acontecerem coisas fixes aos profissionais e organizações e por consequência aos clientes e utilizadores é no mínimo, esmagador e riquíssimo! ?
E é aqui que entra a dimensão das Relações.
- Só com uma relação fixe comigo própri@ é que posso reconhecer o que é importante e desejo partilhar.
- Só com boas relações (verdadeiras e transparentes, não necessariamente de termos de ser todos amigos e partilhar tudo) com os Outros é que os conteúdos, riquezas, mensagens e possibilidades podem ser partilhadas e filtradas para uma realidade e futuros desejados.
E depois, é baralhar e dar de novo, pois estamos a jogar um campeonato sem fim! ?
Obrigado, Abraço e Fica Bem,
H