Para além das ideias de certo e errado, existe um outro campo, mais verdadeiro e pleno. Em breve nos iremos encontrar lá
RUMI
CONVERSAR NAS ORGANIZAÇÕES
Dois dos livros que mais me impactaram nos últimos tempos foram escritos por Michael A. Singer, um doutorado em Economia, que depois e de forma meio “hippie” se tornou num empreendedor num negócio de carpintaria decorativa e de habitação, e também foi o criador de um dos primeiros softwares de gestão na área de saúde nos Estados Unidos que sincroniza serviços de saúde com pagamentos, seguros e outras burocracias.
Ainda teve tempo ? para passar longas temporadas em processos de meditação e yoga conseguindo ainda criar uma organização dedicada a proporcionar as práticas meditativas, de yoga e espirituais, numa abordagem de comunidade, no meio de uma floresta na Flórida.
Ufa ?
O Michael descreve este seu percurso de vida com todo o detalhe no seu livro The Surrender Experiment (2015) onde a mensagem principal é que coisas extraordinárias podem acontecer quando paramos de insistir nas coisas que pensamos que queremos. Em vez disso, podemos aprender a aceitar as oportunidades que a vida nos dá e encontrar alegria em servir os outros.
O outro livro é sobre a forma como o Mundo Exterior, a Mente e as Emoções proporcionam as experiências da nossa existência, mas não nos definem como Pessoas – Viver sem Limites (2022).
Ou seja, muito do que experienciamos é adquirido através dos nossos sentidos e dos estímulos do Mundo Exterior, Mentalmente criamos etiquetas de gosto e não gosto (Apego e Aversão) e se essas experiências forem literal ou metaforicamente similares a algumas coisas que não estão bem afinadinhas em nós ou que gostamos, surgem estão as Emoções associadas.
Obviamente também somos geradores de Pensamentos e Emoções e muitas vezes ficamos emaranhados nessa máquina de lavar em modo de centrifugação ?e isso retiramo-nos Clareza, Foco, Energia e Tranquilidade.
Então o Mundo Exterior, Pensamentos e Emoções definem a forma como internamente podemos Observar, Decidir, Regularmo-nos, Agir e Comunicar ao mesmo tempo que balizam a latitude da nossa Empatia, Curiosidade, Flow e Assertividade.
// A CONVERSAR É QUE A GENTE (NÃO) SE ENTENDE… ?
Partilho estas ideias-chave porque elas servem de trampolim para o tema de hoje – Que a nossa Evolução, Sucesso, Crescimento, Performance Profissionais e Organizacionais têm por base a forma como nos relacionamos Connosco e com os Outros.
E uma das formas mais potentes de Relação são as Conversas que temos, mais uma vez, connosco e com os outros. ?
Sim, todos nós falamos sozinhos, apenas alguns têm a coragem de o fazer em voz alta! ?
As conversas acontecem sempre em organizações – entre líderes e colaboradores, colegas de equipa, clientes, entre departamento, com os fornecedores e parceiros.
Se então são as conversas internas e externas que contribuem para reflexões, decisões e implementações, então deveríamos ser craques nisso, certo? ?
A questão é que o Diálogo deliberado e suportado por competências emocionais, relacionais e de boas práticas ainda é um gap.
Porque conversar não é apenas emitir palavras ou ideias. Também é sobre silêncios, expressão corporal, segurança psicológica, abertura, factos, escuta ativa.
Muitas vezes, no âmbito organizacional, conversamos sobre posições e não Interesses Comuns. Sobre ganhos individuais e não sobre a riqueza partilhada e abundância de performance.
Para esse diálogo se manifestar de uma forma produtiva e em formato de criação de valor, é importante que todos os intervenientes estejam na posse de todas as suas faculdades emocionais, relacionais, de know-how – ou seja que possamos estar em modo full spectrum a 720º – e possamos trazer para o concreto a EMPATIA, CRIATIVIDADE, POSSIBILIDADE, CRITÉRIOS DE DECISÃO E A EFICÁCIA E EFICIÊNCIA.
Comunicar e Negociar implica então um Autoconhecimento de todas as partes interessadas e um Conhecimento sobre os Impactos e Entregáveis que melhor irão contribuir para dar resposta ao que as Pessoas e Mundo precisam, ao mesmo tempo que os Profissionais e Organizações convergem para a Evolução e Lucro com Propósito.
Como podermos então ter algum tipo de fio condutor para essas Conversas?
Mais uma vez recorro ao Jim Dethmer, que mencionei no artigo anterior do blog.
Ele desenvolveu uma “visão” sobre como podem ocorrer os diálogos entre as diferentes partes interessadas. Hoje já sabemos e sentimos que as equipas superam os indivíduos e que as equipas são as novas organizações.
Sendo que o trabalho colaborativo, ágil e focado no cliente implica um sincronismo “horizontal” de competências e responsabilidades e não hierárquico “vertical”, atualmente uma equipa é constituída pelo líder, as suas Pessoas, parceiros e eventualmente clientes, que através de abordagens como o Design Thinking ou Mindset Agile e Holocrático, cocriam, desenvolvem, planeiam e executam VALOR. O impacto do trabalho colaborativo e empoderado das equipas só se consegue manifestar através das “meaninful conversations”.
// FRANQUEZA (Candor) e CURIOSIDADE (Curiosity).
BAIXA CURIOSIDADE/ BAIXA FRANQUEZA = Perder/Perder
Em organizações (conversas) onde tanto a capacidade de sermos francos como a curiosidade são baixas, as conversas serão preenchidas com o foco nas posições (certo/errado, ganhar/perder, individual vs. comum) ou apenas se fala, mas não se conversa.
Esta disfunção geralmente existe porque não se conseguiram criar as condições para existir um ecossistema seguro, transparente e descontraído (não nos levarmos muito a sério, não tornar as coisas em ataque pessoais). Se estas dinâmicas se tornam cumulativas, a comunicação será superficial ou inócua.
ALTA FRANQUEZA / CURIOSIDADE BAIXA = Perder/Ganhar
Muitas vezes, o sermos “fofinhos” uns com os outros apenas para manter um status quo ou evitar conflitos pode também ser contraproducente.
Divergências, conflitos, formas diferentes de ver as coisas é algo perfeitamente normal. Sentirmo-nos tristes, chateados, confusos, com as nossas interações também.
Esta “Pax Romana” pode trazer uma cultura organizacional “amena”. Mas também pode trazer como brinde ? a complacência, a rotina, obstáculos à resiliência nos momentos mais complicados e alguma falta de energia para inovar e transformar.
Pois as diferentes perspetivas, possibilidades, problemas reais não têm espaço e tempo para serem colocados em cima da mesa, serem olhados de frente e se poder a partir daí encontrar a melhor forma de lidar com o contexto em causa, através da inteligência coletiva das Pessoas da tua organização. O desafio mútuo, saudável e com propósito é fundamental para os profissionais, equipas e organizações.
BAIXA FRANQUEZA / ALTA CURIOSIDADE = Ganhar/Perder
No extremo, este cenário parece mais uma luta de MMA. ? Muita energia e pouca clarividência, há muito calor e pouca luz.
Tudo é uma luta, e nestes casos líderes e organizações creem que a sua “convicção interna” tem de ser imposta às Pessoas e Mundo através dos seus produtos e serviços.
Nestas organizações, aqueles com mais convicção, assertividade e “sinais exteriores de confiança” ainda são vistos como as estrelas. Mas normalmente possuem dificuldades em escutar os outros e a estarem abertos a novas possibilidades e conhecimento. Surgem aqui os machos e fêmeas Alfa ?
A grande perda é que o brilho dos introvertidos se perde porque o seu estilo de comunicação não é visto como brusco, confiante e “sedutor” o suficiente.
FRANQUEZA ALTA / CURIOSIDADE ALTA = Ganhar/Ganhar “Suficiente”
Estas dinâmicas enraízam-se em organizações que valorizam as conversas e a escuta de uma forma que incentive o diálogo vibrante e significativo. O debate competitivo caracteriza estas culturas. Mas até isto pode não ser suficiente. Pois ao nos contentarmos “apenas” com um compromisso podemos estar a deixar de explorar algo ainda mais valioso. Pois em alguns casos o compromisso pode ser um jogo de soma zero e baseado na escassez e todos estão a receber menos do que querem ou precisam.
// FRANQUEZA E CURIOSIDADE “AUMENTADAS” (Zona a Vermelho no Gráfico)
Se conseguirmos ter uma perspetiva “aumentada” (não de esticar a corda e chegar a extremos ou limites) quer para a Franqueza e Curiosidade, arriscamo-nos a poder encontrar – através do referencial de um Amor, Verdade, Liberdade e Abundância Organizacionais – novos territórios para explorar, novas soluções a implementar e novas riquezas de lucro, eficácia, eficiência, performance, bem-estar das Pessoas no âmbito organizacional.
O Jim chama a esse ponto de expansão a Comunicação Consciente:
FRANQUEZA
Todos dizem tudo o que têm a dizer. Existe abertura para partilhar, de forma pertinente e contextualizada os pensamentos, sentimentos, julgamentos, opiniões, crenças. Nada de relevante é retido.
O facto é sempre diferenciado da história e todas as histórias são mantidas de ânimo leve. Posso ter preferência por a minha história ser uma representação da realidade, mas não acredito que esteja totalmente certo.
Revelo a minha verdade de tal forma que convida à curiosidade do ouvinte, com vulnerabilidade, autenticidade e humildade.
CURIOSIDADE
As maiores prioridades da conversa são aprender, crescer, ganhar consciência e clareza. Aprender é sempre mais importante do que ter razão (uma pode não excluir a outra). ?
Ouvir profundamente os outros é importante, com os 3 centros: cérebro, coração e intestinos.
CONTEXTO
O contexto para estas conversas conscientes é que ocorram num espaço de partilha, com artefactos, cerimónias, rituais organizacionais bem definidos.
Assim todos poderão estar em pé de igualdade para manifestar a sua visão das coisas e possíveis soluções ou caminhos. Sendo que depois obviamente a decisão pode ser colaborativa ou assumida pel@s líderes.
// CODA
A Assertividade (eixo Y) não é a mesma coisa que a Franqueza. A assertividade responde à pergunta “quão fortemente eu seguro estou sobre esta temática e como e apresento os meus pensamentos e opiniões.” É possível ser bastante assertivo e não muito sincero.
Franqueza, por outro lado, responde à pergunta “quão autêntico fui eu a partilhar?” É uma combinação de verdade, abertura (transparente, autêntico) e autoconsciência.
A Abertura (eixo X) não é a mesma coisa que a Curiosidade. Neste modelo a abertura é um sinónimo de recetivo ou disposto a ouvir, reconhecer o ponto de vista de outro.
A sua limitação é que se pode ser aberto (incluindo educado, respeitoso, até agradável) sem ser curioso. A curiosidade inclui um profundo compromisso com a aprendizagem. E uma total vontade de ver como o oposto de todas as minhas histórias pode ser tão verdadeiro como as minhas histórias.
A Comunicação e a Negociação estão sempre presentes nos nossos contextos profissionais. Em prazos de entrega, requisitos de um produto ou serviço, processos de tomada de decisão relativos a responsabilidades e como criar, projetizar, executar algo.
São o ponto de partida, não o ponto de rutura.
Obrigado e Abraço,
H