Creio que o homem sonha unicamente para não deixar de ver; pode acontecer que um dia jorre a luz interior em nós e nenhuma outra nos será mais necessária.
Johann Goethe
Há cerca de duas semanas, tive a oportunidade de ser o facilitador/mentor numa certificação internacional de Coaching. Concretamente para facilitar o módulo de Inteligências Múltiplas.
Nesse dia, através de bastante interação, reflexões, perguntas, post-its, templates, boa disposição e momentos de partilha com os meus colegas participantes, dei o meu melhor para vincar a importância de utilizarmos todas as nossas competências emocionais, relacionais e técnicas para podermos conseguir ter um registo híbrido de “presença e humildade” necessários à atitude Coach.
Num processo/sessão de Coaching é importante utilizarmos a melhor combinação dessas competências para estarmos alinhados com o ecossistema (pessoas, organização, objetivos, contextos, problemas, oportunidades) que estejam à nossa frente.
Em contexto organizacional esta afirmação também se mantém verdadeira. Porque como Líderes e Gestores de equipas, a cada segundo estamos perante diferentes ecossistemas. E aquele que é mais complexo e “difícil de perceber” é o nosso próprio ecossistema interior. E é aqui que ter acesso às nossas inteligências múltiplas pode fazer toda a diferença.
Inteligências Múltiplas
A teoria das inteligências múltiplas foi desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner.
Define-se como sendo um contrapeso para o paradigma da inteligência racional/mental/matemática/lógica única. Ele propôs que a vida humana requer o desenvolvimento de vários tipos de inteligências que passam por ser também emocionais e físicas/fisiológicas.
Portanto, Gardner não entra em conflito com a definição científica de inteligência como sendo “a capacidade de resolver problemas ou fazer coisas importantes”.
Aqui estão as inteligências múltiplas de Gardner:
Inteligência Lógico – Matemática– Facilidade em fazer cálculos, de encontrar padrões, ordem ou sequências. É a inteligência característica de cientistas e matemáticos.
Inteligência Linguística – Sensibilidade para sons, ritmos e significados das palavras. Capacidade de comunicar, facilidade para transmitir ideias e de argumentação.
Inteligência Musical – Capacidade para discernir sons, de apreciar, compor ou reproduzir música. Sensibilidade para componentes musicais, como o timbre e texturas.
Inteligência Espacial – Capacidade para perceber o mundo visual e espacial. Facilidade de perceber formas, distâncias, de forma a manipular formas ou objetos.
Inteligência Cinestésica – Capacidade de coordenação grossa ou fina do corpo, em função de desportos, artes plásticas ou cénicas, que pressupõem um conjunto harmonioso de movimentos corporais precisos.
Inteligência Interpessoal – Capacidade de entender as emoções, sentimentos, motivações e desejos das outras pessoas. Inteligência típica dos psicólogos, professores e políticos.
Inteligência Intrapessoal – Capacidade de compreender, gerir e descriminar os próprios sentimentos e emoções. Aproveitando essa compreensão para a resolução dos seus próprios problemas.
Inteligência Naturalista – É a capacidade de reconhecer e classificar as espécies e organismos animais ou plantas e interagir com eles. É a inteligência envolvida em causas ecológicas
Inteligência Existencialista – A mais recente das inteligências propostas, implica consciência de si no universo. Capacidade de ver o todo, mais que a soma das partes, capacidade de sermos nós próprios e estarmos bem connosco próprios e com o mundo.
Acima de tudo e da forma que eu vejo as coisas, o Ser Humano é tão rico, intenso, complexo, imprevisível e adaptativo que o seu “sucesso” ou capacidade jamais poderá continuar a ser definido pelos critérios habituais utilizados até hoje – Coeficiente de Inteligência, Testes Psicométricos e afins.
Concuindo, se calhar Todos somos “Génios”. Ora vejamos:
gé·ni·o
(latim genius, -i)
Substantivo masculino
- Espírito que se supunha acompanhar o Homem (espécie) para o inspirar ou proteger
- Natural, carácter, índole; inspiração.
- Talento ou qualidade extraordinária.
Como sentir o “Génio” em nós?
Quando me perguntam quais as novas “inteligências/competências” que um líder/gestor/profissional deve desenvolver, eu costumo sugerir estas em primeiro lugar:
LER, ESCREVER, OUVIR MÚSICA, ANDAR, BRINCAR
É a melhor forma que conheço de termos acesso aos recursos chave para estes tempos complexos, para a devida valorização e comunicação com os outros e para podermos desenvolver as nossas atividades profissionais de forma equilibrada e tendo por objetivo caminhar o trilho que leve ao lucro com um propósito.
Talvez estas sugestões não sejam novas, são as Originais (e nesse sentido as mais antigas). E se repararmos bem, são a materialização intuitiva e espontânea de todas as inteligências múltiplas.
E como tudo isto pode levar a abordagens de Liderança e Gestão mais ricas, equilibradas e consistentes?
LER
Ler permite que possamos absorver ideias, informações, formas de pensamentos, descrições. E mais do que absorver permite-nos peneirar e avaliar o que faz sentido. É também uma forma de desenvolvermos a nossa capacidade de comunicar com as equipas, colegas, clientes e partes interessadas através das histórias, alegorias e metáforas. Ler sobre temas novos ou “laterais” ao nosso contexto é um exercício de agilidade mental brutal. Muitas coisas que li sobre a história da ciência e da natureza, contos de viagens, espiritualidade, espionagem etc. foram utilizadas e deram suporte a atividades profissionais, criando conteúdos, atividades e histórias não-óbvias mas pertinentes para os temas em questão.
ESCREVER
A palavra escrita é muito poderosa. Imagine que carrega um balde cheio de pensamentos, ideias, problemas, decisões, oportunidades e reflexões. Sinta o peso de todos esses conteúdos. Agora imagine que os despeja para uma mesa (folha ou post-its). E tendo uma visão de helicóptero e sem esse peso a toldar-lhe a clarividência, o resultado é conseguir olhar de forma integrada para tudo. Vê, sente, decide o que faz sentido ou não. O que é importante ou não. O que fazer e em que agir e o que aceitar e onde praticar a não ação.
OUVIR MUSICA
Música não é apenas o som. É o ritmo, o timbre, o ressoar. A música mexe connosco como pessoas pois tem um efeito cinestésico e corporal bastante forte na nossa fisiologia, emoções e imaginação. Muitos de nós adoram trabalhar com música ou rádio ligados. Eu por exemplo, sempre que tenho trabalhos onde necessito de estar focado e em flow, coloco os auriculares, o telemóvel fica em modo avião e aí vou eu. Nos workshops, eu e os meus colegas colocamos música não para momentos iniciais e finais (motivação) mas sim nas atividades chave e centrais (inspiração). A música ajuda-nos a alinhar com a nossa própria frequência de foco e promove a fluidez das ideias que surgem de uma equipa aquando de trabalhos de estratégia colaborativa, gestão de projetos, desenvolvimento organizacional etc.
ANDAR
Já em artigos anteriores “vendi” a minha paixão pelas caminhadas. Se fosse possível realizar reuniões, workshops, sessões de coaching, ler, etc. a caminhar… 🙂
Os nossos pés são centros nervosos de enraizamento e alinhamento. Quando caminhamos o nosso corpo está mais ativo, menos tenso. E isso automaticamente se manifesta na nossa mente e raciocínio. Ter o corpo como companheiro de reflexão é uma experiencia fantástica.
BRINCAR
É possível falar, analisar, avaliar e tomar decisões sobre “coisas sérias” acerca de Pessoas, Organizações e Business de uma forma mais humana, criativa e descontraída. Os sistemas que nos moldam desde crianças até ao patamar profissional – escola, universidades, modelos hierárquicos e topdown de gestão são inibidores de algumas das inteligências múltiplas que são fundamentais para os desafios de hoje.
Na segunda parte deste artigo vou apresentar abordagens e ferramentas que pode utilizar para adaptar esta “receita” de Liderança e Gestão ao seu dia-a-dia profissional.
Em resumo e como disse António Porchia:
Saia de qualquer ponto. Eles são todos parecidos. Levam ao ponto de partida.
Obrigado e Abraço,
Hugo