VUCA Prime

2880 1800 Hugo Gonçalves

Após algumas semanas de intervalo, regresso com a partilha de mais um texto sobre os temas do costume – Pessoas e Organizações – e sobre a forma como podem interagir harmoniosamente de forma a promover uma Integração Plena 720º dos Profissionais – 360º Interno + 360º na Interação com os Outros e com o Ecossistema.

Considero que só assim conseguimos criar um impacto positivo e sustentável na sociedade ao mesmo tempo que se obtém um lucro com propósito.

Parece fácil certo? 🙂

Estas semanas também serviram para lidar e (tentar) aceitar alguns dos meus VUCAs. De forma muito regular me refiro a esta sigla como sendo o nosso novo normal, a nível profissional e de negócios e claro pessoal:

  • VOLATILIDADE – Trata-se da velocidade em que ocorrem as mudanças e a gestão dos seus múltiplos impactos. Atualmente nada é permanente e as tecnologias, preferências, tendências e certezas são inconstantes e altamente mutáveis. Quer dizer que o mundo é muito fluido, muito líquido, ou seja, muda muito rapidamente.
  • UNCERTAINTY – Tem a ver com as dúvidas e indecisões que são típicas de um contexto em que o que sabemos sobre um determinado contexto é insuficiente. Tudo o que possamos projetar é apenas isso – expetativa ou sonho.  
  • COMPLEXIDADE – É a dificuldade de compreender quais os possíveis resultados das interações das inúmeras variáveis de uma determinada situação, desafio ou problema. Já não existem respostas “corretas”.
  • AMBIGUIDADE – A maioria das situações em que vivemos aceita diversas possibilidades de caminhos diferentes justamente porque podem assumir diferentes sentidos. São várias possíveis respostas a uma única questão, mas, nem todas costumam apresentar as melhores soluções.

Há alguns anos atrás o futurista e autor Bob Johansen estava em Londres a dar uma palestra sobre como pode a Liderança transmutar para um registo full spectrum devido ao VUCA. Como se a Natureza quisesse reforçar a sua mensagem, o vulcão Eyjafjallajökull espalhou cinzas e caos por toda a Europa, obrigando pelo menos 10 milhões de pessoas a fazerem um pequeno intervalo nas suas viagens e deslocações. Este único evento trouxe à tona a vulnerabilidade e volatilidade de quase todas as operações associadas aos negócios, comércio, logística, indústria, energia e finanças.

Este episódio foi uma epifania para Johansen. Ele estava a trabalhar na noção os efeitos do VUCA na Liderança. Mas não tinha nenhuma alternativa concreta a propor. Ele próprio, ao ter que mudar os seus planos e adaptar a sua agenda e compromissos profissionais, sentiu na pele o desafio e desconforto de “baralhar as cartas e voltar a dar” vezes sem conta naqueles dias.

O primeiro insight que ele teve é que para os Líderes, navegar no VUCA tem sempre e em primeiro lugar que começar com a imersão e aceitação da Experiência. Ou seja a aprendizagem e decisões que surgem nessa navegação são mais valiosas quanto maior for a abertura para experienciar um “vazio”- A Liderança terá que lidar com desafios para os quais não existe solução, e terá que agir mesmo assim, pois decisões deverão ser tomadas e ações implementadas.

Para isso é necessário que nos consideremos eternos agentes de mudança, “cuscando” o que está por detrás no nevoeiro e escolhendo quem serão os nossos batedores (aspirações) e quem fica a tomar conta (e como) do forte (valores pessoais).

Johansen identificou 10 competências que considero muito interessantes – pela sua heterogeneidade e plenitude, que poderão ajudar Líderes e Gestores a potenciar estas dinâmicas:

  • Desenvolver o Maker Instinct – A nossa capacidade interna de ter acesso à nossa energia de curiosidade e vontade de criar, e conectá-la com outras que já existem ou que estão a ser criadas;
  • Clareza – Utilizar a capacidade de apanhar o helicóptero e olhar para o nosso ecossistema como um todo. Ver a nossa floresta, as outras florestas e como interagem. Olhando apenas para as árvores veremos apenas confusão e contradições;
  • Dilemma Flipping – Como ganhar a paixão por ver todos estes desafios como oportunidades? Ou seja focar no “What” – O que podemos fazer para superar isto, em vez do “Why” – Porque é que isto aconteceu;
  • Expedição de Imersão – Trata-se de realizar imersões programadas e estruturadas na primeira pessoa, em ambientes não familiares e recolher insights ou POV (Points of View). Como pode expor-se ao novo e distante?
  • Bio-Empatia – A Natureza é sábia. Conseguir ver as coisas desde a perspetiva da Natureza permite focar automaticamente em conceitos como equilíbrio, sustentabilidade, recursos, ecossistemas. O que poderá aprender a sua abordagem de Liderança com a Natureza?
  • Despolarização Construtiva – Trazer para as discussões e decisões importantes uma diversidade adequada de conhecimento, skills e hierarquias;
  • Transparência Equilibrada – Cada vez mais os colaboradores, parceiros, fornecedores e obviamente clientes valorizam a transparência e autenticidade. Como pode liderar de forma a estabelecer uma credibilidade e confiança com os outros?
  • Prototipagem Rápida – Todo o sucesso requer erros, falhanços e aprendizagens rápidas. Por isso é importante que Líderes e Gestores saibam liderar, promover e suportar a criação rápida de soluções – produtos, serviços, workflow, processos, interações e que as aprendizagens fiquem documentadas;
  • Criar Tribos – Neste caso criar, fomentar e nutrir conversas descontraídas e regulares sobre “coisas sérias” com os clientes, colaboradores, parceiros e outras partes interessadas permite dominar um radar sobre o que se passa no seu ecossistema de Liderança e Negócio;
  • Business Commons – As sinergias e a “coopetição” serão o cimento das organizações do futuro. Conseguir plantar, desenvolver e partilhar recursos de uma forma estratégica são abordagens que poderão apresentar melhores propostas de valor.

Mas há pouco falava do antídoto para o VUCA. Johasen definiu-o como sendo o VUCA PRIME:

VISION | UNDERSTANDING | CLARITY | AGILITY / ACCEPTANCE

É um conjunto de abordagens individuais e de equipa – considere-se uma estratégia – que permite transformar o VUCA original numa oportunidade de Evolução. Neste artigo apresentarei o VUCA PRIME e no próximo artigo partilharei a minha proposta de metodologias, ferramentas, abordagens e conceitos que poderão desenvolver e sustentar os skills apresentados nos pontos anteriores.

VISION – Ter uma visão sobre o propósito e o que é importante é um primeiro passo para se trabalhar a estabilidade individual como Líder. Manifestar essa importância num processo de Intenções e Estados Futuros (ou Caminhos Futuros) é o ponto de partida para a Transformação. A Bússola Interior é mais importante e fiável do que o Mapa.

UNDERSTANDING  – Queremos nesta fase trazer todos os membros da equipa para uma visão comum do que realmente se está a passar e de qual o caminho a seguir. Para isso, uma verdadeira escuta ativa organizacional é necessária para que se consiga Parar, Olhar, Escutar – ou seja o “apanhar” o helicóptero. Esta consciência coletiva traz estabilidade, independentemente do desafio. Que irá tornar mais confortáveis os processos de aprender, desaprender, esvaziar e reaprender.

CLARITY – O mundo VUCA já traz complicações suficientes, logo é fundamental que as organizações não criem elas próprias montanhas internas de fluxos confusos e zonas cinzentas. O compromisso deve ser com a Simplicidade. Construindo mecanismos que permitam visualizar as reais prioridades e o foco para a resolução das mesmas. Não podem existir várias versões da “Verdade” (informação, dados, critérios, boas práticas) dentro da mesma empresa.

AGILITY / ACCEPTANCE – é preciso mudar da Valsa para o Riverdance, em termos de ritmo J. Isto vai ajudar a promover uma infusão de energia na organização ao mesmo tempo que remove as “energias estagnadas” – status quo, hábitos que normalmente são tolerados nas organizações e também na nossa abordagem de Liderança.

Todas estas incertezas são apenas as condições ou ambiente onde temos que operar a nível profissional. A instabilidade dessas condições vai aumentar certamente no futuro. Não existe mau tempo, apenas existem más roupas ou má escolha de roupas.

O VUCA não é mau… apenas É!

E só há duas coisas a fazer. A primeira saber o que é que realmente é verdadeiro. A segunda é desenhar a nossa própria realidade com o VUCA PRIME.

Pois o que é Verdadeiro e a Realidade têm sempre “Razão”. E são ambos validados pela Emoção!

Obrigado e Abraço,

Hugo

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